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domingo, 17 de julho de 2022

NUNCA HOUVE UM ACORDO JUSTO!

 Venero-te, terra sagrada mãe natureza, que me confortas no abraço com que beijo o galope do teu amor. Lugar de todos os ossos, dos velhos que me ensinaram a estimar o teu respeito. Terra solene, agasalhada na pele do búfalo que só matava com a tua bênção. Nunca quis mais do que aquilo que a minha fome precisava. Guardo no corpo o cair das folhas para te forrar a bondade, e a canção de Wounded Knee, que nos trazia o sussurro da lua. Amo-te velha essência, mas o meu sonho foi queimado, quando apareceram as nuvens negras, trazidas pelos casacas azuis com estrelas expulsas do céu, e promessas escritas nas palavras enganosas, que tanto nos mataram. Não fomos nós que te sangrámos. Cravaram-nos na pele a ganância que te assassinou. Não culpes a nossa inocência. Abraço-te com um hálito amargurado, tu que me deste o olhar, dona deste meu sangue atropelado, para saudar a tua ternura. Terra amada, que me pariste neste pôr-do-sol, em que tento dizer que te amo. Sou apenas uma memória. Toco-te sempre que vivo, e o teu sopro que sempre me acompanha, leva-me para o bosque onde se ouvem as vozes que me ensinaram a escrever. O terra minha, porque me fazes sentir que não te mereço? Dou-te o meu eterno repouso, e desenho numa nuvem dourada a tua lembrança. Porque só quero apagar as nódoas que te feriram. Falo-te neste hoje perpétuo, que só pode oferecer um desgosto latente, chorado no calendário da absolvição não possível. Não sou digno da tua sabedoria, e por ti vou morrendo nesta cirrose de gestos despedidos, mostrados na banca da feira de todos-os-dias, enfeados por serpentes que exibem nas matrículas, o site da reserva exposto na prateleira do corredor da vergonha da América que tu tanto amaste. 
É este o inferno que te legaram, semente apodrecida de toda a sinceridade, maldade que te entregaram a todo o momento, nos tratados selados pela ruindade. 
Não ouço o teu silêncio, não sinto o teu cheiro, e envergonha-me o olhar desconfiado do alce que foge de mim. Estou só, nesta sombra outrora amistosa, onde costumava sorrir para o voo da águia, que pintava no céu, palavras de esperança. Lembro-me dos trovões e dos cânticos espalhados, que faziam crescer crianças felizes. Peço-te perdão, mesmo com a dignidade ferida, perante este totem que tanto me abençoou. Morri com o teu assassinato. Tarde demais soube que as intenções deles, nunca foram pacíficas. Não viveremos de novo o regaço suave do ribeiro, o som das pedras rolantes, a quietude que tu imanavas.
Lamentam fingidamente a tua dor, numa realidade cozinhada em filmes com Índios a fingir.
A tua história está escrita com sangue, nas bibliotecas deste país que nunca se cansou de te roubar.
Nunca houve um acordo justo!



,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA


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