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segunda-feira, 11 de julho de 2022

SEPULCRO MAFIOSO

 

Não me convidem para entrar no meu caixão. 
Ainda estou ebriamente sóbrio. 
Empenhei atempadamente o bolso que guardava a bomba, cientificamente programada para explodir no primeiro momento da vossa consternação. 
Estou sentado na varanda, charuto na boca, ócio de reformado, a coordenar a confusão das estrelas. 
Entregam-me notícias que pensei ler. 
Esta mania de muitos de quem eu gosto, partirem antes de mim, poderá parecer mórbido, mas no fundo, causa inveja. 
No cartão de cidadão, está indicada a verdadeira certeza: 
já tens idade para aguentar as possibilidades mais punitivas: 
a morte nunca deixará de ser um estranho lugar para viver. 
Há um amante nesta história, uma verdade prisioneira clamando a nossa liberdade. 
Abrimos a fronteira dos muros escuros, com lamentações chacoteadas no sepulcro mafioso, sem lugar para dizer adeus. 
Nada poderá acender a luz daquilo que já partiu. 
A traição recomeçará.
 

,2020mai_aNTÓNIODEmIRANDA

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