O que sentes,
quando mentes que foi a última vez? Quando o que prometes acabar,
continua ainda mais rápido? Continuas á caça numa brincadeira que
nunca faz de ti rato ou gato. Encharcam-te de comprimidos quando te
miram com os olhos do ódio. Angústias limpas como se fossem nódoas.
Raiva a seco. A etiqueta da lavandaria, onde tudo o que te pertencia
foi passado a ferro, agora só referencia o dilema que sempre te
acompanhou. Depois de tanto amor prometido, só um de nós é que
amou. Sempre que tentaste erguer-te do chão, todos se riram sem
saber o que acontecia na tua cabeça. A vida merece mais do que isto.
Não pode ser uma trip de merda, dirigida por um piloto com olhos
azuis e madeixas no cabelo, rosto escanhoado perfumado por um after
shave de trampa, roto, cunivente com a hospedeira, sempre pronto a
fazer greve, na tentativa de refrear a ideia. Toda a gente tem medo
de morrer. Não se escolhe a rota. Olhas através da vidraça com o
punho sempre pronto. Sentimento engraçado. Está tanto frio no meio
do meu mundo. O verdadeiro jogo não acaba aqui. Não se aproveitem
de mim. Sou um velho cansado sem palavras para dizer. O meu desejo
continua a acreditar, e o meu choro enche a chuva. Sou mais feliz
assim. Tanta luz, mas só alguma acendeu a tristeza. Tenho em mim a
certeza de não poder desperdiçar mais tempo. Que sentimento! Este
beco tresanda a vagabundos podres. Esconderam as carícias num
buraco. Não encontro o canto onde escondi o meu pranto. Todo o amor
é um tempo com verbos difíceis. Já parti tanta coisa! Discuti com
os poetas que estudam as regras dos versos. Saltei tantas ameias que
não sei o que fazer com um corpo que já não me pertence. Tenho
sempre uma canção triste na minha cabeça. Nunca me posso detestar,
nem odiar as coisas que a mim dizem respeito. E também aquelas que
discretamente dizem quando falam de mim. Vou continuar a ignorar, o
olhar por cima do meu ombro, porque nunca saí de mim próprio.
Sempre odiei mentes paradas : oferecem-me sempre um olhar menor,
ainda mais pequeno do que elas. As decisões elevadas confinam o meu
ódio, tentam ocasionar o fim daquilo que continuo a querer ter na
minha cabeça.
,2015aNTÓNIOdemIRANDA
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