Gerard antes de se tornar anjo, acendeu todos os candeeiros do caminho e meteu-se no autocarro que só pensava em fugir da paragem.
Embrulhou os poemas da sua memória, alisou a mala dos sonhos e deslizou na auto-estrada que lhe tinham entregado. Rodou sobre si próprio para não ficar entontecido e riscou no pára-brisas o último desejo. Aconchegou o desconfortável nó na garganta e timidamente mirou-se no retrovisor....
Tudo estava prestes a acontecer e o seu sorriso prazenteiro não enganava. Lá fora as dunas acenavam às bermas de um destino qualquer. Beatas controlavam a azáfama do trânsito e polícias com sotaques malabaristas pintavam a passadeira do azul do céu.
Gerard acendia estrelas tímidas e começava a despedir-se da vida que o traiu. Elevou-se educadamente para fora do alcance das pessoas e num assomo de derradeira simpatia, rasgava cartões-de-visita onde estava escrita a sua antiga morada. Poisou as lágrimas na varanda, despiu-se de si próprio e começou a voar.
Chegou ao recinto pela porta dos fundos e só porque é mentira, dizem que estava feliz.
Gerard disto nada sabendo, escreve agora poemas com as penas das asas caídas. Sempre que se sente alcançado, liga o purificador das vontades inócuas.
Diz-se que o céu morre de inveja e quem o habitava, já lá não mora.
Gerard antes de se tornar anjo, pensou seriamente no assunto.
E concluiu que nada mais havia a fazer.
2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDAEmbrulhou os poemas da sua memória, alisou a mala dos sonhos e deslizou na auto-estrada que lhe tinham entregado. Rodou sobre si próprio para não ficar entontecido e riscou no pára-brisas o último desejo. Aconchegou o desconfortável nó na garganta e timidamente mirou-se no retrovisor....
Tudo estava prestes a acontecer e o seu sorriso prazenteiro não enganava. Lá fora as dunas acenavam às bermas de um destino qualquer. Beatas controlavam a azáfama do trânsito e polícias com sotaques malabaristas pintavam a passadeira do azul do céu.
Gerard acendia estrelas tímidas e começava a despedir-se da vida que o traiu. Elevou-se educadamente para fora do alcance das pessoas e num assomo de derradeira simpatia, rasgava cartões-de-visita onde estava escrita a sua antiga morada. Poisou as lágrimas na varanda, despiu-se de si próprio e começou a voar.
Chegou ao recinto pela porta dos fundos e só porque é mentira, dizem que estava feliz.
Gerard disto nada sabendo, escreve agora poemas com as penas das asas caídas. Sempre que se sente alcançado, liga o purificador das vontades inócuas.
Diz-se que o céu morre de inveja e quem o habitava, já lá não mora.
Gerard antes de se tornar anjo, pensou seriamente no assunto.
E concluiu que nada mais havia a fazer.
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