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segunda-feira, 5 de junho de 2017

LÁGRIMAS ENTREMEADAS

Sabes de mim um pouco do meu resto,
daquilo em que presto,
do nada que me procura.
Só sinto o que minto,
neste corpo de absinto na deriva da loucura.
No amor são difíceis os caminhos,
na vida eles fogem pelos carris sem destino,
com bilhete pré-comprado
para esta espécie de sonho gravado num dvd pirata,
que não consegue fugir aos fingimentos do autor.
Lemos o poema dos poemas,
escrito numa língua que não entendemos,
no rótulo da garrafa de whisky,
que nos queima a solidão.
Entremeamos as lágrimas,
mas os olhos sempre tristes,
já nada conseguem disfarçar
e no breve levantar só para aconchegar
os cordões que nos apontam o chão,
dizem-nos sempre não
sabendo mais do que o devido,
desta intenção demasiado mentirosa.
Estamos despidos e o cansaço tão nu
como a tentativa do sorriso amestrado.
O que sobra de nós é um vento angustiado
e já sem vontade de nos aturar.
Asas da prata mais ferrugenta
tentam convencer-nos desta possibilidade.
Mas os cata-ventos atentos
que adornam as chaminés da curiosidade
soltam gritos de dois em dois minutos,
alertando que qualquer fim é possível.
A história repete-se.
E isso demonstra a nossa estupidez.
E isso deverá ser considerado embaraçoso.


2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA

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