Gostaria de tocar-te na pele!
Mas não tenho mais para te oferecer do que este desejo
que me aquece a vontade que me arde.
Gostaria de ter nas mãos uma poção mágica que te fizesse sentir
que por vezes não minto sempre.
Gostaria que a eloquência do nó da gravata
com que aperto as flores que nos momentos de distracção
ousei oferecer-te, não ficasse enrugado.
Gostaria de entregar à tua indiferença
os livros de que mais gosto
mesmo correndo o risco de ficar ainda mais só.
Mas eles são a minha pele
e confesso que ainda não estou preparado para esta troca.
Gostaria de não continuar a apunhalar palavras
e não acordar assim com um hálito assassino.
Gostaria que as cartas que não te enviei
pudessem corar a vergonha num campo de verde milho
como aquele que vi lá em Lijó.
Mas eu paro-me tanto neste desabrigo
onde pássaros atrevidos chegam sempre antes de mim
ao fruto que sempre penso, iria comer.
Empanturro-me de desculpas esquisitas,
mentindo à mentira que me assola,
que hoje vai ser diferente.
Mas porquê chego sempre atrasado?
Tenho de escrever sempre um poema dentro de mim.
Não são assim tão difíceis estas coisas,
só porque eu não as consigo dizer.
Sorrimos um para o outro com palavras cruzadas.
O entendimento acabará por acontecer.
2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
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