Observo o voo cantado destes pássaros, sentado no abrigo do alpendre em frente desta estrada onde poucos carros passam. O padeiro apita duas vezes e o peixeiro às terças e quintas, outras tantas. Já a carrinha da carne, aparece ao fim da tarde das sextas. Compro o branco e o tinto na café do Abílio de S. Geraldo e geralmente trago o contrapeso de uma garrafa de jeropiga. 35 anos já passaram por nós e continuamos a rir descaradamente desta perda de tempo. Nunca discutimos! Sabemos que entre nós só existe o melhor e como ele costuma dizer, há que aproveitá-lo. Vamos às compras a Tábua e para os esquecimentos visitámos Oliveira do Hospital. Pois como diz a eloquente sabedoria da D. Isaura, nem tudo lembra. Gostavam de ter uma sogra assim? Tenho pena, mas não é para todos. Soube que a Odete partiu o osso do “frenes” mas não foi operada. O senhor Alberto continua com o mesmo rol de queixas, mas agora tem uma maldita tremedeira na mão esquerda e os “diabos” que o deixam muito prostrado. A Gracinda diz que ele sofre do “parks”, aquela doença que o papa antigo tinha. Vai a caminho de casa pois tem de botar cera agrícola no soalho . O Rogério deve estar a caminho para mais uma aula de geometria das couves, arte que não se aprende em compêndios. Qualquer coisa que se disponham a comer, vão naturalmente à horta. Portanto não perdem tempo com as etiquetas das grandes superfícies da enganação nacional. Vou tendo oportunidade aqui nesta aldeia, de mastigar sabores que tornam cada vez mais difícil a mentira da cidade. Abóboras com tez saudável metem-me uma enorme cobiça e penso que se riem de mim enquanto descansam nos muros com banhos de sol solidários.
Estou debaixo desta lua solteirona, danada para uma brincadeira às escondidas com estrelas atrevidas aplaudindo o piar dos mochos.
As corvachas voam desalmadamente para reservarem a melhor suite na certeza de uma noite sem núpcias apressadas. O gato preto na sua matinal procissão não deixa nada ao acaso na possível apanha de um pássaro. Assim tão concentrado, não me liga nenhuma. Os javalis estão cada vez mais perto. Não há quem cuide deles! As badaladas continuam a não falhar o cuidado com que nos dizem as horas. A velha romãzeira secou.
Sinto que esta noite vou dormir com um diospiro.
Mas como em todo o lado, também aqui a vida não passa de um ensaio geral para a representação da morte.
Estou debaixo desta lua solteirona, danada para uma brincadeira às escondidas com estrelas atrevidas aplaudindo o piar dos mochos.
As corvachas voam desalmadamente para reservarem a melhor suite na certeza de uma noite sem núpcias apressadas. O gato preto na sua matinal procissão não deixa nada ao acaso na possível apanha de um pássaro. Assim tão concentrado, não me liga nenhuma. Os javalis estão cada vez mais perto. Não há quem cuide deles! As badaladas continuam a não falhar o cuidado com que nos dizem as horas. A velha romãzeira secou.
Sinto que esta noite vou dormir com um diospiro.
Mas como em todo o lado, também aqui a vida não passa de um ensaio geral para a representação da morte.
2016,09aNTÓNIODEmIRANDA
Sem comentários:
Enviar um comentário