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terça-feira, 29 de março de 2016

O BAILE

Ela movia-se como geleia
Enquanto subia e descia a avenida
Cada curva das suas meias
Acentuava a pele cobreada
Que fingia uma indiferença mostrada
40 dias
&
40 noites
Desde que foi embora
Não sei o que fiz de errado
Quando só lhe prometi
Amá-la a cada hora
Gastava assim o tempo
Secando sempre o momento
Num sorriso árido e infeliz
Partia então cansada
E mal chegava
Ao quarto da pensão
Gemia ao chorar
Sonhos de meretriz
Na outra manhã acordava
Na toalha enxugava
Lágrimas cansadas e secas
Por nunca ter sido
Aquilo que sempre quis
Mas ela
Movia-se como geleia
Já com a condição dos anos
Com todos os minutos sem faltar
Já era mais atrevida
Menos tímida no olhar
Procurando nesta ânsia
Outros olhos para a ver
Mas só um chauffeur de táxi
De idade muito avançada
Com o brilho da saudade comentava
Para indiferentes passageiros
Esta foi a mais linda das mulheres
Não teve sorte na carreira
Mas ela
Movia-se como geleia
E voltava para o quarto da pensão
E lá chegando
Chorava da mesma maneira
Enquanto adormecia
Abraçando a cabeleira
Embrulharam o seu corpo
De um modo igual àquilo que é feito
Alguém escondido soluçava
Olhando uma tabuleta de mármore
Que nunca terá escrito o seu nome
Agora,
Ela move-se como geleia
Num baile onde todos a convidam.



,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA

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