Dói
quando a última pele da noite se vai desenrolando, e nela já nada
está escrito. Já não queima a memória. Já não te faz sujar os
olhos. Dói quando te magoas em todos os despertares na única coisa
que é real. Dói quando nada consegues apagar.
Dói
como se fossem picadas, os passos, naquela estrada que pensavas
nunca mais iria acontecer. Dói tudo! Dói a alegria que imaginaste
nunca te iria abandonar. Dói até ao fundo, a coroa de espinhos
quando pegas na guitarra, e não consegues tocar a música preferida.
Dói!
Dói sempre! Cada vez mais.
Dói
esta distância sem conserto, vidrada com pensamentos quebrados, que
nos fazem sentir um outro que não nós. Quando todos se foram
embora, e agora só podes apalpar sentimentos desaparecidos, deixando
manchado um tempo que já não é teu. Dói, quando gotas estranhas
de uma chuva triste, encharcam uma despedida sempre presente. Dias
que não te deixam ir. Dói quando o amor que te é devido, já não
te reclama. Quando ergues as mãos, na última espera daquele que
nunca esteve presente.
Tanto te magoaste para seres o quê?
Uma
sombra fiel depositária da vulgaridade.
Dói!
Dói sempre! Cada vez mais.
2015aNTÓNIODEmIRANDA
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