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quarta-feira, 30 de novembro de 2022

SABES QUEM ÉS!

 

Olha para ti todo avariado.
Que vida é esta que nos afasta de casa? Fuga pintada ao ritmo de bombas. Suaves tons de borboleta oferecem sorrisos doridos na boleia da enganosa esperança. A paz continua a ser grotescamente agredida pela bestialidade. Agora as lágrimas sabem o caminho, e mergulham a tristeza nos lábios de sangue. A fúria desce para esconder a traidora perspectiva. Sabes quem és! Tens esse fel bordado na almofada. A insónia molha o incómodo da memória. Não há sonhos para cobrir este desespero. Anjos vadios choram só para invejarem a impossibilidade. Ninguém sabe da tua fome. Sabes quem és! Claro que não consegues levantar-te. Queimaram a vontade comprada no alfarrabista. O desgosto aninhado, o futuro extraviado lá no poço da ousadia. Música de fundo aconchegada em suaves tons de luto. Olha para ti todo avariado.
Silêncio solitário. Iguarias imponentes oferecidas pela rainha dos loucos como se fosse ontem o dia que queria amanhã. Como ELE costumava mentir quando asseverava que ilimitada era a bondade do mundo. Ninguém sabe para o que está guardado. 
Acertou mesmo em cheio o cangalheiro, velho gozador. Fogo gelado à espreita na atrofia deste paraíso. Desenvencilhar pedaços de verdade Continuam difíceis os convites para quem só quer acreditar. Curiosidade dos urinóis.
Vai longe o poema que costumava vestir os nossos ideais. De mãos dadas no ocaso amolgado, não serei o único insanamente belo. Nuvens cristalinas já não acontecem.
Quando o sol veste o roupão negro à lua, parto à procura de um verbo que me entregue meiguices. 
A paixão seriamente danificada foi ter com o amante ao consultório. Noites doidamente cansadas. Onde te escondes, surpresa pré combinada? Vendo alguns dos meus milagres a 40 nós a desgraça. Envio por mensagem mentirosa um eloquente certificado garantindo o mísero estado dos meus órgãos veniais. (O último a cair nem imagina a sorte que teve).De costas voltadas durmo num soluço desesperadamente apressado. Ele perdeu a capacidade de esconder pesadelos banhados em fétidos tanques onde se arquivam heróis estupidamente desinfectados. Chorosos, os sinos já não dobram abraçados aos que não conseguem falar. Que deus (tal e qual sex symbol do aviário),não esqueça nunca as mentiras que lhe perdoei, assim como os pecados legendados com remendos de arrependimento.
Por mim pode perder-se no banho dos aloquetes desconfiados, olhar com simpatia o nojo, enaltecer a covardia, apunhalar os impulsos atrevidos, espalhar na avenida salpicos da desilusão constante.
Não quero pertencer-me nesta dor que assopra na coroa dos falhanços que não consigo evitar. 
Muito do que amei desapareceu neste império doloso.
Sabes quem és!

Fazem de ti ladrão mas não és tu o usurpador.



,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

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