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sábado, 8 de junho de 2019

ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO

Orai por nós:
Os desertores da infâmia.
Os que com sangue regam gota a gota
as rosas com espinhos arrependidos.
Os que estão sempre prontos para cair na tentação.
Os que só ajoelham para determinada posição.
Os pervertidos da glória.
Os travestidos da memória.
Os que continuam a sonhar com outra coisa.
Os que não fazem outra coisa senão sonhar.
Os que teimam em tapar o buraco
da camada do ozono com bolas de naftalina.
Os que só pensam em introduzir no buraco do Osório.
Os que se vendem mesmo por preço irrisório.
Os sérios, os graves, os desanimados.
Os ridículos, os burlescos, os grotescos, os cómicos.
Os bizarros, os pífios, os tolos, os engraçados.
Os gozados, os satíricos, os caricatos.
Os disformes, os velhacos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os preocupados sem futuro.
Os desocupados no futuro.
Os medíocres.
Os que escrevem arritmias nos murais
das redes sociais.
Os que injectam doses optimistas.
Os que mantêm teimosamente
ventríloquos tresloucados
E entopem artérias
com todos os sentidos proibidos.
Os que amam nos tempos difíceis.
Os que dormem na vertical.
Os que morrem à pressa.
Os que demoram a viver.
Os que nos aborrecem sordidamente.
Os que usam nós de gravata
completamente desafinados.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os mal-educados.
Os analistas do fluído vaginal.
Os que pedem sempre desculpa numa frequência imoderada.
Os indiferentes.
Alguns indigentes.
Os menos inteligentes.
A carpideira.
A moçoila namoradeira.
O petiz aprendiz.
Os que não corroem a corrupção.
Os fatídicos.
Os distraídos.
Os mal dizentes.
Os mordedores de inveja.
Os sábios sem nexo.
Os que não têm de nós boas ideias.
Os que fugiram à boleia e voltaram de táxi.
O difícil sem fácil.
Os pensamentos mal frequentados.
Os esquisitos.
Os requentados.
Os esquentados.
Os bons e os malvados.
Os putativos.
Os inerentes.
A barata no topo do bolo.
O engraçado que só é tolo.
A dignificação.
A insubmissão.
A sublimação.
A efervescência.
O esturro do tacho.
Quem se deixa ser capacho.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
A sílaba mal colocada.
O ponto sem nó. 
A exclamação desfocada. 
Os desarrumados mentais.
E também os sentimentais.
Os que confundem bóbós com papos de anjo.
O padre que diz que perdoa.
O pecado que não magoa.
Os curandeiros mal tratados
Os políticos menstruados. 
O deputado marmanjo.
Os que tomam conta de nós.
Os que às vezes odeiam
e arrefecem na fogueira
sacrifícios a um deus desconhecido.
Os autoclismos desprezados.
Os desenganados do amor.
O amor não reconhecido.
Os epitáfios não lidos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
Os incautos. Os perdulários. 
Os inaptos.
Os inadaptados. 
Os adoptados.
Os arautos. 
Os anormais. 
Os colegiais.
Os coloquiais.
Os que gritam Toni faz-me um filho
mesmo sabendo que eu só me chamo António.
Os que me pedem a camisola,
não se importando com o frio que depois teria.
Os agradecimentos. 
Os sentimentos.
As mulheres mal-aventuradas
e também as desgraçadas.
As menos interessantes. 
As de ventre inchado.
As desconfiadas.
Os epicentros. 
Os retábulos. 
Os oráculos.
Os oratórios. 
Os sacrários. 
Os dromedários.
Os anjos sem cabecinha e com asas de cebolada.
Os conventos. 
As carmelitas.
As recolhidas. 
As não escolhidas.
As que f…. às escondidas.
As noviças. 
As nabiças.
As metediças. 
As mestiças.
As clandestinas e as dominicanas.
As virgens imaculadas. 
As louras. 
As oxigenadas.
As infectadas. 
As perfuradas.
Os eclesiásticos da parábola do falo.
Os faloqueiros e azeiteiros.
A serenidade embutida nas alas psiquiátricas.
Os obscenos. 
Os helénicos. 
Os frenéticos.
Os morenos. 
Os patéticos. 
Os angélicos.
ORAI POR NÓS, MAS NÃO PERCAM MUITO TEMPO.
A beleza da incerteza.
As musas mediáticas e as dores ciáticas.
A visita guiada. 
A colaboração.
A pena. 
A temperatura amena.
O turismo sexual.
O casamento conveniente.
A proposta indecente.
O anel de diamante.
As bodas de fígado. 
A foto à la minute.
O minete feito à pressa. 
O linguado desajeitado.
O orgasmo não adquirido.
Os onanismos coerentes.
As práticas indecentes
O resto que nunca interessa.
A faca na liga. 
A cintura descaída.
O peito flácido. 
A ária do Plácido.
O domingo soalheiro. 
O furo no mealheiro.
O jet leg. O jet set. O cinc à sec.
Os astronautas e argonautas.
Os anabolizantes e fertilizantes.
Os debutantes e os não principiantes.
A família que não escolhemos.
A paciência que não pudemos.
A fodação Internacional.
A importância do espanador.
Os suicídios que estão para vir.
Os que gastam a vida a carpir.

Orai agora por mim.
Aquele que nunca será o vosso salvador.

,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA

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