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quinta-feira, 20 de junho de 2019

DECEPÇÃO


Escrevo-te a única carta nesta noite que tarda a embalar-me. Mentiste luas tristes coladas nos anúncios do consolo ausente. Tentei gostar de ti, mas, demasiados nomes feriram a minha vontade. Nunca duvidei do teu preço, embora estranhasse a pressa do prazer, que, acreditei, era o outro lado do meu. No 326, enrolaste o corpo oleado, na minha pele enrugada, e cheguei a pensar, que, naquele momento, era o amante mais decente do rol dos desejos apetecidos. Rasguei aquele papel, porque percebi que irei acabar antes de um qualquer adeus. Nesta idade, só resta lamentar a teimosia da minha necessidade de consolo. E, como Stig Dagerman escreveu, essa é impossível de satisfazer. Dei por mim a chorar, que já não me apeteces. Guardei no sovaco, o cheiro efémero do teu gemido. Mas, a estima é um suor peneirado pelo tempo, uma angústia mais tarde arrependida, um nó que corta a ferida. 

Vou caminhando suavemente na canção que abraça o fim, embora confortar a tristeza dê sempre muito trabalho. 
Digo  até logo, e, sinceramente, pouca importância terá, o que vier depois. 




2019jun_aNTÓNIODEmIRANDA

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