Embrulhar-te
em trapos de crochet num português pouco suave areado com um desodorizante
apropriado à obliquidade da tua intenção custosa de digerir. Emparedar a falta
de ideias com a argamassa das não palavras que usamos para tingir pôr-de-sois
tímidos estendidos em toalhas-de-praia
de um mar onde se revolta a nossa vergonha. Sonhar. Abusar. Sonhar alto
para incomodar o vizinho e distrair a polícia para que não bata tanto na
ausência que nos abriga. Rezar de qualquer maneira e esperar com a fé congelada
que o pipo da panela de pressão não fure o tecto da noite. Atender chamadas
anónimas com a possível esperança e curiosidade do que é suposto acontecer.
Sorrir até que nem fique um só osso das costas quentes, onde lábios patetas
grelham poemas que nunca ninguém lia. Vestir este, o outro e aquele dia que
tanto tarda a escurecer. Aparecer com a souplesse e habilidade usual.
Distribuir maionese para grafitar com toda a alma e empenho qualquer chão
envelhecido. Seguir a seta errada e amolar as garras num rebolo educado, lá
para os lados de qualquer lugar.
,2016,04aNTÓNIODEmIRANDA
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