INTRODUÇÃO
A segunda guerra mundial teve seu fim e
com ela surge o fim de seu alavancar econômico, que nutriu alguns
países, entre eles, os EUA, que acabaram se encontrando numa grave
crise, já vivida anteriormente em 1929 e que não poderia ser
repetida, porque esta situação iria levar a nação a uma recessão
sem precedentes. A classe dos operários contemplavam a própria
ascensão com suas greves que chegavam a mais de 5000, quando
chegávamos em 1946. Não seria comum que o governo, diante de
tamanha pressão, viesse a aprovar o Ato do Emprego, garantindo o
pleno emprego para diversos setores da indústria.
Tal ato governamental foi de muita
valia, quebrando os problemas de desemprego da época do período do
pós-guerra. Mas ainda havia outros problemas que causavam uma
verdadeira avalanche como a inflação, a desvalorização salarial e
o descontrole sindical das greves. A estabilidade do governo estava
em xeque a tal ponto que eles criaram leis contra a classe dos
operários, dificultando greves e usurpando poder dos sindicatos. A
pressão do povo ajudou no reajusste salarial de forma bem moderada
até que o clinch entre os trabalhadores havia atingido o limiar em
48 com a perseguição política, numa repressão memorável de
lembrar a inquisição contra atividades antiamericanas.
Um comitê havia sido criado para que
qualquer atividade cultural, política e intelectual fosse silenciada
neste momento. De forma pontual, um pacote de medidas econômicas
havia sido realizado para que o consumo interno se ampliasse, de
compras a prazo e até mesmo financiamentos, expulsando as vibrações
da recessão, permitindo que a economia respirasse mesmo diante da
recém quebra promovida pelo período pós-guerra. Este movimento
intenso de atividades fez com que um período de paz silenciosa se
posicionasse em solo americano, graças ao contorno das reações
revolucionárias e o refluxo da classe operária havia sido
contornado como tanto se queria. Este foi o início da expansão
econômica que transformaria os EUA, com a expansão do mercado
imobiliário, a modernidade das estradas, ampliação de
supermercados, a produção de novos eletrônicos.
Os bens de consumo atingiram uma
dimensão nunca antes alçada que era a possibilidade da classe média
atingir sua própria ascensão social e a ilusão da imprensa incutiu
um dos maiores slogans já vistos na história da humanidade:
"american way of life" Porque para ser parte do sonho
americano, tem que se adaptar e aceitar aos novos ideais de consumo.
Quanto mais bens materiais e mais conforto, mais ambição você
possuí. Isso também iria criar a infinita confiança de
prosperidade e a fixação do conservadorismo das mentalidade
burguesa. A cereja do bolo ficou a cargo da caça aos comunistas, que
criou um arquétipo de desconfiança aos intelectuais, vulgo
eggheads. Estava sacramentado: os anos 50 dos EUA eram a república
da mediocridade.
A força motriz do New
Criticism
Kerouc, o
libertário das letras.
A literatura
oficial norte-americana tinha um extremado rigor formal graças ao
New Criticism surgido da década de 1920, que mantinha as bases do
academicismo em suas análises. Ela rejeitava a análise literária a
partir de contextos sociais ou culturais, promovendo uma visão bem
artifícial da autonomia, desvinculadas do contexto em que eram
escritas, como se não sofressem influências externas de nada. Havia
sim uma ideia monocrática de que o New Criticism era de ignorar e
desprezar a discussão sobre as intenções do autor perante sua obra
ou seu significado. O significado do texto importava, o significado
fora do texto não. A burocracia da literatura e da vida estava
devidamente imposta. As obras só deveriam ter valor pelos aspectos
formais e para tanto novas formas e conceitos literários deveriam se
versar para se adaptar aos tempos deste pseudo-modernismo.
Os defensores mais
ferrenhos deste movimento foram William Empson, John Ransom, Cleanth
Brooks, William K. Wimsatt, Robert Warren e Monroe Beardsley. Dessa
forma eles criaram bareiras para o nascimento de novos autores porque
eles deveriam apresentar o padrão exigido. E a opinião pública
conservadora adorando o rechaçar destas publicações dos novos
valores. Mas por um outro lado existiam o lado b. A técnica
sofisticada aliada ao convencional naturalismo fez com que os
aspectos formais dos livros se mantivessem intactos. A consequência
era uma visão desesperada de uma sociedade destruída e sua
decadência inevitável. A exposição do pessimismo e a perda do
encanto do fragmento populacional intelectualizado. Ignorando a visão
desembestada do conservadorismo e prosperidade, houve uma produção
literária robusta durante as décadas de 40 e 50 com Langston
Hughes, Saul Bellow, Norman Mailer, John Hersey, Flanery O'Connor,
Carson McCullers, Truman Capote, James Baldwin e mais um número
considerável de outros autores. O sentido da nova crítica era de
acabar sendo o de escamotear as chagas sociais através de suas
análises formais e estilísticas.
Com o surgimento
do fenômeno On the Road, romance desenvolvido que rompia com os
padrões em favor da escrita livre e expressiva, não poderia ser
explicado facilmente. O que podia ser feito é engolir todo o sucesso
arrebatador da época, sendo que os teóricos do New Criticism nada
puderam fazer.
2."Vencidos... pela... vida."
A vivência de uma
adolescência esfacelada e desnorteada pela depressão dos anos 30,
na década de 40, bateram de frente com o obscurantismo da segunda
guerra, em sua extensão e brutalidade sem fronteiras, introduzindo o
perigo real da dizimação de cidades inteiras, quando viram a reação
da bomba atômica. Isso só foi o início de um acúmulo de tensões
sem precedentes que chegaram até a Guerra Fria. O sentimento destas
pessoas eram de descrença total, em especial em seu âmbito moral e
no que tangia a civilização capitalista. No olho do tornado dessas
novidades, nascia uma geração progressivista e otimista, uma
burguesia conformada dos valores e das novas possibilidades. E esse
cenário social estranho e isento de sentidos fixos é que nascem os
beatniks. Eles aparecem num momento de angústia existencial
indefinida por tantas adversidades passadas, mas que clamava por uma
mudança real, por valores revisitados e um estilo de vida genuíno e
sem as máscaras debeladas do american way of life.
No seio da
Universidade de Columbia um grupo de jovens mentes talentosas se
conhecem e percebem que suas capacidades vão além das paredes de
concreto do instituto escolar. Os bares de jazz e apartamentos pobres
de Nova Iorque ganham novas expectativas com a inserção destas
personalidades. E não suficiente, posteriormente eles iriam
desbravar o país inteiro entre viagens, sem nenhum motivo aparente
senão o de procurar entender e ver a vida de uma nova maneira.
Lawrence Ferlinguetti, Hubert Huncle, Gary Snyder, Neal Cassady,
Gregory Corso, David Kammerer, Lucien Carr e Carl Solomon se juntaram
a três ícones que seriam os exemplos desta nova realidade. Um
tímido e deslumbrado estudante universitário chamado Allen
Ginsberg, unido a um ex-jogador de basquete juvenil, visto por muitos
como um possível jogador profissional e um veterano da Marinha - o
não tão jovem Jack Kerouac, liderados pelo chefe da matilha: o
enigmático mas não menos importante, William Burroughs.
3.O berço das novas mentes
pensantes
Jack Kerouac
ganhou notoriedade entre a juventude com seu romance On the Road da
forma mais simples possível: sendo diferente. Entretanto não se
trata de um ser diferente desmotivado. Os norte-americanos já
mantinham um certo desgaste pelos ideais do slogan “american way of
life”, o que iria acontecer cedo ou tarde, e essa irritação é
denotada enfurecidamente entre os beatniks. A ânsia de mudanças é
uma realidade, ainda mais numa sociedade que vivia um moralismo
secular e um convencionalismo extremado, que atava a mão de jovens
pensadores e sonhadores. No On the Road, havia um rompimento de vida
tradicionalista, é um ode contemplativo a vida marginalizada e
romântica, que ia desde as viagens ao oeste americano até o
misticismo engendrado e indefinido em sua maneira peculiar de
compreender a vida e seu sentido. A nova moral é expressa de forma
dinâmica em termos de mudança de conteúdo.
O herói do livro
é Dear Moriarty (um personagem inspirado com as raízes até a
carótida em Neal Cassady), um jovem marginalizado, preso algumas
vezes por roubo de carros, vadiagem e bebedeira, que arruma diversos
sub-empregos para manter seu estilo de vida boêmio e despretencioso.
Moriarty é o ícone da rebeldia e da paixão pela vida, que ao lado
de outro personagem, Sal Paradise (vulgo o alter ego de Jack
Kerouac), mergulha de cabeça em uma série de caronas através dos
EUA, sempre em busca da beleza no mundo, contemplando a beleza que
ele via na população menos afeita de seu país.
A partir desta
identificação da marginalização do ser humano é que se conhece o
eixo central da literatura beat. Kerouac tinha fascínio por
vagabundos, desordeiros e andarilhos que atravessam o país em trens
de cargas e joyrides, enquanto Ginsberg era atraído por
homoafetivos, delinquentes e pessoas que eram vistas como
incompreendidas pelo sistema social daquela época. Burroughs, tinha
interesse entre viver experiencias entre criminosos, fascínoras e
viciados. Na visão dos autores beats, os excluídos da sociedade
tinham alguma verdade ignorada pelo formalismo da hipocrisia social e
dos seus valores. E com a descaracterização da roupagem civilizada,
a sinceridade e a honestidade viria à tona. Segundo eles, as pessoas
eram puras, quase santificadas, sendo corrompidas pelo trato social,
mas que poderiam ser salvas se voltassem aos interesses originais de
sua natureza, naquilo que é básico. O que fora feito antes com a
roupagem punk.
Os beatniks
formaram um dos maiores fenômenos culturais da segunda metade do
século que explodiria com as movimentações dos anos 60 e 70. O
descontentamento geral foi manifestada por uma pequena boemia e
crescendo de forma vigorosa, que já existiam desde os anos 50.
O pai dos
escritores beats foi Henry Miller. Sua escrita é baseada na critica
aos valores da burguesia e sua abordagem explícita sobre as
liberalidade sexuais e o uso de drogas, com a presença constante de
personagens marginalizados e anti-heróis, ressaltando com frequência
o grotesco em suas personalidades. O misticismo é relevante como
similaridade com os beatniks, bem visto no livro O Pesadelo com Ar
Condicionado. Apesar da cultura beatnik explodir nos EUA, o seu
manifesto repúdio pelo moralismo americano fez com que Henry Miller
saísse do país, uma vez que grande parte de seus materiais
permanecessem censurados, devido ao conteúdo sexual. O Trópico de
Câncer só foi publicado nos EUA em 1961, sendo este seu trabalho
mais importante. Miller percebeu a parte mais significativa de sua
vida como escritor nas ruas de Paris.
4.Um novo olhar, uma nova forma de
ser percebido
A terminologia
beatnik tem uma origem estranha e confusa. A palavra beat é
utilizada por Jack Kerouac no livro On the Road pela primeira vez
como uma forma de abreviar a palavra beatitude, lembrando o estado
espiritual que ele e os companheiros buscavam. Outros especialistas
diziam que era uma referência direta do jazz, remetendo as batidas
aceleradas do bebop. Há quem diga que isso possa ser também uma
conotação de "Vencido pela Vida" ou dead-beat. Daí,
funde-se este radical beat com o sufixo do satélite russo Sputnik,
lançado em 1957 ao espaço, com uma conotação de velocidade e
movimento. Beatnik também era utilizado para denominar os seguidores
deste movimento. Algumas vezes era comum que se chamassem de
hipsters, termo aplicado as pessoas marginalizadas, delinquentes
juvenis, usuários de drogas e brancos que se relacionavam mais
intimamente com a cultura grega e de sua corruptela nasceu o famoso
termo hippie, ligado aos jovens da contra-cultura sessentista.
Mas uma coisa deve
ser frisada quando se fala da geração beat. O conceito deve
exprimir o desalento de uma época e uma vida ampla, alternativa, que
iam contra a falta de percepção das pessoas comuns, da burguesia.
Essa nova forma de descrever o mundo ao seu redor é que vão
demonstrar a possibilidade de criar uma forma escrita fluida,
pulsante e impaciente, querendo estar aptos a circular nos diversos
universos em que sua visão pudesse estar e estabelecer seus fluxos.
Toda esta influência surrealista nos pensamentos são carregadas por
condutas virtuosas de personalidades como Max Roach, Thelonious Monk,
Dizzy Gillespie, Charlie Parker e Bud Powell com seu ritmo quase
profano - o Jazz. Era a consagração da arte beatnik com sua
legitimidade intelectual ao seu primor. Não havia nada melhor do que
o ritmo norte-americano do que a declamação de protesto sem
qualquer disciplina senão o Jazz e os improvisos inconsequentes do
Bebop, sua corrente mais progressiva da época.
5. Jack Kerouac e sua
esponteaneidade da prosa Bop
Podemos perceber
experimentalismos literários dos escritores do movimento beatnik,
mas ninguém fez essa procura incessante de dizer as coisas de uma
forma nova como Jack Kerouac fez. Sua maneira metódica e bem
consciente, no encontro de uma escrita emocional extremamente densa
fez com que ele criasse um estilo único que ignorava completamente
as regras gramaticais ordinárias, que ficou devidamente notório em
On the Road que foi escrito em um rolo de papel contínuo durante 20
dias e 20 noites, sob o efeito de benzedrina durante o abril de 1951,
em um efeito de transe até então nunca visto, sendo repetido de
forma similar no livro Os Subterrâneos, só que desta vez escrito em
3 dias e noites, só que sob o efeito de outros estimulantes. Ele, W.
B. Yeats na área literária, Jackson Pollock na área da pintura e
Charlie Parker na área musical tinham tal método peculiar genesíaco
entre eles em comum.
É interessante
frisar que ele chegou a discorrer seus métodos de escrita em ensaios
como o Essentials of Spontaneous Prose, de 1956; e Beliefs &
Techniques of Modern Prose, de 1957. As expressões "prosa
espontânea", "forma selvagem" e "prosódia bop"
apareciam e ele fazia uma analogia muito interessante dizendo que a
forma de separar suas frases, seria similar ao ato de sua respiração,
feitas pelo cérebro, metaforizando o ato de um saxofonista ao soprar
um fraseado no instrumento.
Jack Kerouac
demonstrava através de sua unicidade, a riqueza inestimável de seu
campo de percepção, bem como a forma que seu pensamento se
construía, sem quaisquer tipos de barreiras sensoriais ou censuras,
tendo total fluidez com a pureza plena do processo sem desvios e
associações e assim essa era a sinceridade da captação
sentimental sem formalismos. Tanto que outros romancistas da época
viam este homem como uma estrutura densa de informações.
Era interessante a
crença dele no pensamento como uma forma de expressar o todo de sua
personalidade e a verdade condensada nela e a artificialidade das
correções. Era uma busca por tudo aquilo que achava-se mais sincero
em sua existência e é dessa forma que se compreende a rutilância
dos beats pelo formalismo acadêmico e pelas obras ficcionais. Tudo
que era escrito, era descrito, pois eram experiências pessoais. Era
a tábula rasa de sua vida íntima. Tudo a serviço da expressividade
ao seu formato mais natural possível. Durante a sua carreira, o
estilo sempre experimental apresentou modificações, mostrando
evoluções na maneira de mostrar sua escrita. Suas importantes obras
a destacar são: Os Subterrâneos (1958), Os Vagabundos Iluminados
(1958), Maggie Cassady (1959), Tristessa (1960), Big Sur (1962), e
aquele que é considerado por muitos, inclusive pelo próprio Jack
Kerouac, como sua obra-prima, Visions of Cody (1972).
6.Ginsberg: um poeta à margem.
Allen Ginsberg é
um importante autor beat que carrega também o aspecto de pôr em sua
obra aquilo que vivenciou: o binômio poesia e vida. Mais uma vez
vemos uma pessoa se colocando como matéria prima com acontecimentos
reais, criando poemas através da primeira pessoa. E esta
expressividade tinha uma sinergia consistente com à poesia dos
românticos, de Whitman e Rimbaud. Até então parte do seu legado
sofre um certo abandono, porque sua pesquisa é herdeira legítima
das experiências vanguardistas do século XX.
Cria-se a conexão
entre os europeus de vanguarda e a literatura moderna de Ezra Pound,
William Carlos Williams e Gertrude Stein, criando um grande marco de
update na criação literária dos EUA. Sua forma de se expressar ia
completamente na contramão da realidade dos escritores beats, uma
vez que ele era um laboratório vivo de vanguardismos. Nele era
possível visualizar o futurismo de Maiakovski, o surrealismo de
Artaud, o dadaísmo de Schwitters e o cubismo de Apollinaire, sem
esquecer de pitadas densas de Garcia Lorca, Hart Crane e adicionado a
consciência de James Joyce, Stein e até mesmo a forma de
influenciar-se dos Hai-Kais da literatura oriental.
Sua obra-prima O
Uivo é um emblema da produção literária beatnik. É através
deste manifesto que todas as barreiras acercas com a realidade dura e
marginalizada são escancaradas a olhos nus, desde o estilo de vida,
até o uso de drogas e a liberalidade sexual. Assim contemplava nas
primeiras linhas deste livro: “Eu vi os expoentes da minha geração
destruídos pela loucura, morrendo de fome, histéricos, nus,
/arrastando-se pelas ruas do bairro negro em busca de uma dose
violenta de qualquer coisa, /hipsters com cabeça de anjo ansiando
pelo antigo contato com o dínamo estrelado da maquinaria da noite/
que pobres, esfarrapados e olheiras fundas, viajaram fumando sentados
na escuridão dos miseráveis apartamentos sem água quente,
flutuando sobre os tetos das cidades contemplando jazz...” Não
seria absurdo reparar que sua escrita foi altamente influenciada pela
prosódia bop espontânea de Jack Kerouac, evidenciada pela
velocidade ritmica e escrita com alta fluidez.
Além de seu
perfil como escritor, foi um ativista popular que era favorável aos
hippies e junto a Timothy Leary pode divulgar os "benefícios do
LSD" além da participação de protestos pacifistas contra a
Guerra do Vietnã. Ginsberg via que viver uma vida à margem da lei
significaria a única forma para que se contemple todas as
experiências mais miseráveis da sobrevivência para que se alcance
o processo de purificação da existência. Seu poema sofreu
tentativa de censura e seu editor, posteriormente, sofreu processo
por pornografia.
7.Burroughs: o experimentador.
William Burroughs.
Este sim é o grande experimentor da geração beat. Uma mistura de
blends dadaístas, surrealistas e até mesmo cubistas. Seus
procedimentos de dobragem e colagens, que tinha aplicação bem
diversificada, foi muito diferenciada. O recorte de passagens e
fontes diferentes desde versículos da bíblia e até mesmo fraseados
de Shakespeare, faziam com que seus textos criassem verdadeiros
resultados únicos e conceituais. Aplicando uma metodologia ímpar,
Burroughs deu vida a suas obras mais contundentes como o Almoço nu
(1959), A máquina mole (1961), O bilhete que explodiu (1962), e O
expresso nova (1964). Assim como os outros autores beat, seu
experimentalismo alçava a área de uso de entorpecentes, pela sua
busca incessante por novos estados de consciência.
Ele chocava e
escandalizava ao ampliar a consciência com experiências
homoafetivas, violência urbana e o submundo urbano. Ele queria algo
além do próprio sentido estrito da linguagem, ele queria algo
profundo e infinito. Queria, se tornar, como ele mesmo se descrevia
"um cosmonauta do espaço interior" na busca de uma
realidade mais profunda e verdadeira no sentido da existência. O zen
budismo também ajudava em suas imaginações e ponderações tendo
uma concepção única do universo. Ele era o mais velho dos autores
da geração beat e sua forma de escrita era puramente satírica,
tanto que Jack Kerouac se referiu a ele como "o maior escritor
satírico desde Jonathan Swift".
Junto a estes
três, haviam vários outros nomes importantes que deslindaram as
décadas de 50 e 60 com esta geração de impacto profundo na
literatura norte-americana. Eles seriam Kenneth Patchen, Gary Snyder,
Denise Levertov, John Ashberry, Gregory Corso, Barbara Guest, Frank
O'Hara, Clellon Holmes, Lawrence Ferlinghetti, Carl Solomon entre
outros. Os beatniks estavam além de uma mera visão literária, de
uma absolvição do marasmo centralizado do academicismo exacerbado.
Estava acima, era multidisciplinar.
Os anseios eram
inerentes a libertar o corpo, a sexualidade e os desejos de conhecer
os efeitos da lisergia. A ampliação de consciência e a procura de
novas formas de se viver na sociedade. No ínicio dos anos 60 as
marcas já haviam sido feitas por eles com o surgimento do movimento
hippie, que visava o instinto, o pacifismo, a espontaneidade e o
misticismo como a idealização da existência. Tudo isso foi pano de
fundo para que a própria realidade norte-americana pudesse enxergar
a saturação que a burguesia dominante havia se encontrado e como as
coisas precisariam e deveriam ser modificadas, durante os anos 60 e
70 para que os valores do regime capitalista pudessem ser alterados
no intuito de modificar uma vez mais o ponto de vista da organização
social.
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