que puderam finalmente dormir aconchegados
em papeis de milho, velha memória dos gitanes
que adorava fumar lá em Paris onde amparei
lágrimas estúpidas que nadavam
em formol climatizado debaixo daquela ponte
onde enrolado no saco cama
escondia o medo de estar sozinho
num mundo que então eu pensava que tinha gente.
Paris não era um lugar qualquer.
Tive sempre o desejo de a amar.
Encostei-me sempre que pude aos seus encantos
e na espuma do Sena no modo mais jeitoso
fecundei a minha imaginação
colorindo decalcomanias com um spray
propositadamente tóxico para
que os saqueadores do tempo
não inflamassem as luzes que ocupavam
o resto de uma oração que adormecia antes de mim.
Paguei uma demi à roda do infortúnio
e Grappelli discretamente agradeceu-me.
Naquele domingo fui parar à Notre Dame
e o meu bom desempenho no Português
conseguiu alguns francos
que mais tarde em Montmartre
entreguei a uma Edith com olhos tão vítreos
que me fizeram acreditar que choramos juntos.
Mais tarde contaram-me que uma esmeralda
percorria desalmadamente os Champs Elysées à minha procura.
Mas isso nunca teve nada a ver comigo.
Abraçava outras canções no Beaubourg.
,2016,04aNTÓNIODEmIRANDA
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