Sentado
na paragem do autocarro, relembro esse fim de tarde onde
desoladamente percorri as ruas que me levariam pela última vez até
si. Ruas estranhas, pisadas por mim, vezes sem conta. Tempo sem
tempo, aquele que demorei a chegar. Estava cansado duma forma
absorta, vazio de uma esperança que julguei, nunca me abandonaria.
Invejoso de todos os sorrisos. Assassino de qualquer alegria.
Acompanhava-me a mais vil das tristezas, embora soubesse que agora
era para sempre. Saboreava todos os paladares da angústia. Sabia
agora, a hipótese exacta da perda. São 19 horas e mais vinte e sete
anos. Correu demasiado depressa o seu tempo. Longo, exaustivamente
longo, foi o tempo que levou a sofrer. Nada era tão real á minha
frente, como o cenário real da sua morte. O Tomás estava no quarto
ao lado, ele que também esteve para morrer. E a mãe com passagens
para a outra realidade. Mas havia um abutre! Um abutre abusivamente
mascarado de palhaço, que não conseguia respeitar a sua partida,
gozando porca e despudoradamente com a situação da minha mãe. Eu
bem o avisei, que ele não valia nada. Tal como fiz dois dias antes,
com uma das suas irmãs, que depois da sua morte, não haveria a
mínima hipótese de qualquer relacionamento entre nós.
Compreendemos os dois, que essa foi a última conversa.
VIVA
LA MUERTE ! Irei abraça-la como um cavalo louco.
04
de Dezembro de 2014.
aNTÓNIODEmIRANDA
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