QUANDO EU ERA PEQUENINO (BARCELOS)
Nunca liguei aos carrinhos da matchbox, nem os comboios da märklín despertavam em mim qualquer tipo de curiosidade. O zé, agora o Tomás, era o responsável por essa área. Ocupava o tempo,imaginando-me jogador de futebol do benfica, toureiro e algumas vezes padre. Fui figurante em alguns enterros onde me pagavam 5 c`roas. Fiz negócios no calisto, o ferro velho, vendendo umas poucas cabeças usadas de máquinas de cozinhar a petróleo, pelo mesmo valor. Jogava à bola com os gajos do seminário de santo António e tinha como recompensa um quarto de sêmea recheada com marmelada. Tive no meio das
portas daquela igreja, a minha primeira experiência de sexo. No natal ficava sempre extasiado com o presépio e tenho na cabeça uma música que mais tarde vim a saber que se chama glória in excélsis deo. (com o tempo afastei-me dessa ideia. E, claro, o inevitável par de meias que a mãe do meu pai costumava oferecer. Recordo ser obrigado a dormir aos pés do meu avô Augusto e do cheiro a chulé das suas peúgas. Lembro-me de fugir á Zeza e ao Jorge Faria, pelo campo da feira e esconder-me em todas as portas da rua direita, e das voltas na bicicleta alugada no parque, pagas com um inestimável sorriso do meu tio. Adorava a pingoleta feita pela avó São, e as sopas de leite da bisavó Luciana. O padrinho António, impunha respeito, e, ai de quem se esquecesse de lhe beijar a mão. Uma enorme roda de pão de ló e o espumante branco, na companhia do frei António, tinham o condão de os aproximar de deus. A Sofia e a Graça, depois da fábrica, rematavam a obra em casa, ao som de “quando o telefone toca”. Não sabíamos inglês, mas isso
também nunca foi importante. Ainda ecoam os carolos do barbeiro, que em nada acalmavam a minha revolta. Andei na primeira classe com o meu tio António e joguei futebol com o Jorge. A 1ª vez que fiz gazeta foi no dia 2 de maio de 62, para ver o glorioso ganhar a final da taça dos campeões europeus, frente ao real Madrid. Não me lembro se apanhei alguma tareia.
.2015aNTÓNIOdemIRANDA
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