Já
os cães não reconhecem o meu andar.
Sorriem-me
com a vontade de um escarro.
Sinto-me
crucificado.
Teias
de aranha fazem-me um abrigo onde me
escondo das horas difíceis.
Serei agora a mais
frágil das flores de estufa?
Está na hora de
queimar a poesia!
Não passa de estupidez o acto de escrever,
embora
seja preciso fazer qualquer coisa.
Não se pode evitar. Sou com todo
o desassossego
parte de coisa alguma, agarro os tijolos da melancolia
e construo assim as minhas intimidades.
Pinto-a com relógios
perdidos,
onde as horas são menos mentirosas.
Espera-me um quarto
gelado com lençóis cujo cheiro não reconheço.
Adormeço ao
contrário com os pulsos atados como se fossem tristeza.
Estendida no
arame, há roupa suja com cheiros que enjoam o vento.
O pecado não
foi meu. A morte da beleza soa melhor em italiano.
Molhado em mim
próprio, tento secar a escuridão que me encharca os ossos.
Há
lembranças que embaciam espelhos,
há silêncios ruidosamente
inconvenientes,
há beijos que nunca irão tocar lábios
e mãos tão
enroladas que nunca provarão a pele.
Há coxas por afagar,
desejos
expectantes aguardando uma só oportunidade.
Promessas ainda à
espera de boleia.
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