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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

CRÓNICAS DE MELIDES (16)

Gosto que me aconteçam dias perfeitos. 
Daqueles que me levam contente para a cama. 
De cada vez é um filme diferente, 
mesmo que o realizador nunca seja ninguém que não eu. 
Projecto surpresas como se elas tivessem acontecido. 
As ideias descansam preguiçosamente numa chaise longue. 
Teatralizo as sugestões que me acontecem 
e atraiçoou-as num palco do desassossego.
Dispenso educadamente as pancadas do Moliére.
Já tenho nuvens que pousam nos meus ombros 
e que me cortam sonhos que não cabem na minha caneta. 
Afasto-as apressadamente e conservo todo 
o medo do seu abandono. 
Então fico à espera com uma folha de papel na mão, 
onde sei que nada poderá ser escrito. 
Lá longe, o som do mar embrulha-me o sono. 
Agora tenho o tanto que a minha almofada merece. 
Abraço o embalo das rãs. 
Sultão, o cão está na casota coçando as orelhas 
com a leviana esperança que nenhum carro atrevido o acorde. 
Apaga-se a luz. As lâmpadas estão cansadas de tanta azáfama. 
Também elas têm noites difíceis. 
Há ave marias que não chegam ao céu. 
Aqui t
ambém se passa o mesmo! 
Vou sossegar o meu sonho. Estou a ficar velho. 
Já há demasiadas moscas passeando pelos meus ombros. 
Claro que finjo, quando lhes sussurro que ainda não estou cadáver. 
Não sei se me entendem. Então abraço a guitarra e 
tento ensona-las com a ousadia da minha música. 
Não se trata de uma artimanha, 
nem sequer de uma tentativa de auto- defesa. 
Tenho o meu tempo. 
Não gosto que o apressem!





2015melidesaNTÓNIOdemIRANDA

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