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sábado, 18 de fevereiro de 2023

SE CALHAR, NEM NOME TERIA

Caminhava no vazio em busca da sombra, a sua única companhia. Por entre os gritos que ouvia, molhava com lágrimas todas as esquinas. Nada mais era, do que uma doce criança, na amargura do tempo que lhe roubava a idade. Apertou o coração com o choro que restava, e, embrulhou cuidadosamente o futuro dos dias possíveis. Havia um tango que fumegava convites que não conhecia. A chuva começou a arder, naquele olhar que já nada sentia. Enrolou a vida numa manta de feijão. Abanou a gamela, encostou-a ao peito que tremia num esquisito jeito, e gemeram juntos nas cascas a fingir alegria. As ruas fugiram. Correu para o banco do frio cimento, para ouvir outra história. Escondeu a corda com todo o cuidado, não fosse algum curioso aleijar o nó. Não se lembra de ter dormido, mas a azáfama dos ainda mais tristes, não deu por ela. Estão moribundas as luzes, procurando fugir do desânimo que as habitam.
Agora dizem que era bizarro,
mas nunca incomodou alguém.
Se calhar, nem nome teria.





,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA



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