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terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

AGORA QUE O CÉU FOGE DO SOL


E ao terceiro dia perguntou 
que mais poderia ter feito 
agora que o céu foge do sol 
e na garganta tem o sufoco dos relógios perdidos 
tornando rugosa a urbanidade 
onde passos promíscuos enganam a noite.
Ainda não tinha aprendido 
a traição de todos os sexos que pariu 
e o desejo negligente 
com que abraçava pérolas ausentes de abraços 
com chapéus de arame farpado. 
Lançou para longe o seu próprio ruído 
e ficou assustado com o cair de todas as penas. 
Tinha nos olhos a cor que o espelho tinha partido.
A alma encanecida 
tinha abandonado o uivo da sua urgência 
e agora tingia a crueldade do pensamento.
Tinha de aprender a esquecer a sensatez 
de todos os silêncios que nos morrem nas mãos.
Não poderia continuar a desprezar o prazer.
Pontapeou para longe o coração que lhe roubaram.
Agora que o céu foge do sol...



,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA


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