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sexta-feira, 3 de novembro de 2017

PAI POEMA PARA ABÍLIO de MIRANDA (1927.12.04 – 1987.11.03)

Podemos começar ouvindo Charles Aznavour cantando “ La Bohème” ou para momentos mais sérios escutar a “ Avé Maria “ de Schubert. Passaram-se dias, muitos deles acompanhados daquelas cores feitas com lágrimas. Alguns ainda em que o sangue beijou o chão.
Foi numa terça feira, ao cair da tarde ( sei agora que é o momento em que o sol vai dormir com a lua), que me disse as suas últimas palavras : às 7 vou deixar de ser a...
não . Levanta-me ! … E assim, partimos os dois, o senhor abraçando os meus braços. Ás vezes sinto-me como uma criança perdida, mirando uma qualquer estrela que passeia despreocupada lá naquele lugar com um nome tão estranho e tão longe. Ás vezes sinto-me cansado e durmo como se mil sonhos estivessem á espera de me acordar.
A verdade é que estou menos novo, e, a Mãe, o Jorge Faria, o tio António e a Guilhermina, já não podem ficar nas fotografias. A vida vai gastando o tempo e filtrando na sua imensa paciência, os verdadeiros amigos. Não me arrependo de lhe ter dito algumas verdades ( daquelas que doem a sério ), mesmo sabendo que estava pronto para a viagem. Recordo-me das nossas festas, das nossas canções, cantadas como só aqueles que se gostam podem fazer. Tenho na garganta o sabor daquele “americano”. Tenho na pele a promessa de tomar conta da Mãe.
Tenho no coração a mais linda declaração de amor ( falava você com a Mãe), que alguma vez ouvi.
Tenho a certeza que você era diferente dos outros !
Lembro-me perfeitamente quando com um sorriso cúmplice me dizia : tens lá em baixo livros “novos”.
O que eu aprendi consigo !
Sentado neste banco de memórias, deixo-lhe a minha saudade.
Não sei qual é a pressa de acelerar a minha corrida.
Afinal a vida continua a ser um lugar estranho para se morrer !
 
2013.out30aNTÓNIODEmIRANDA

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