Não é a ferida que me arde
Nem o golpe que me consome.
A memória
É uma lâmina com um tricotar absurdo
Que tudo absorve.
Ronrona um poema não audível
Que atinge a raiz da alma
Que nos abandona.
Deixa um sabor sempre estranho
E um badalar sinuoso
Por onde ecoam as horas.
Um gato atravessa a estrada.
Miar namoradeiro
E dança na sua noite
Olhares em câmara lenta
Para mais tarde serem filmados.
Naquele sítio,
Onde as estrelas perderam a lua
Escondem-se nos ramos do céu
Nuvens da sabedoria
Nunca escrita nos livros.
Pássaros vadios
Aguardam pacientemente
A leitura do poeta.
Sempre atrasado.
É assim que ele acontece.
Chora na alma
O seu último poema.
2017,jul_aNTÓNIODEmIRANDA
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