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sábado, 31 de maio de 2025

AUTO-ESTRADA ‘64 ( para Foguito, o cão que mijou nas botas da tropa.’76)

 


    Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar onde gostaria de estar, não perco tempo a pensar se esse sítio na realidade existe. Foda-se! Não tenho culpa que o meu esperma originasse um saco de viagem. Na verdade, embora esteja apaixonado pela auto-estrada 64, não vejo nisto uma solução. Tudo começou quando cheguei a casa para jantar e vi pessoas estranhas sentadas à mesa. Elas tinham flores na cabeça, eu sentei-me numa lata de sardinhas & disseram: está louco, temos a certeza. Olhei para o prato e vi que alguém estava lá a acampar. Tirei um macaco do nariz & ele satisfeito, disse: uff! (até que enfim!). Senti-me aliviado, arrotei. Olhei para o chão: o boneco do mosaico estava a engraxar-me as botas! Pelo seu olhar, logo percebi: que bem que arrotas.
    Mas eu, algumas vezes sinto-me como um arco-íris ou como um cogumelo & quando olho em volta e sinto-me longe daquilo que desejo, logo penso que nem todas as pessoas se deviam ejacular. Bolas! Não tenho culpa que o meu esperma originasse um saco de viagem. Forniquei a família depois da sua primeira masturbação colectiva. Sinceramente irritou-me o cheiro do sémen então derramado. Demasiadamente! Abusivamente igual ao cheiro da merda. Além disso, é sempre tempo de partir. 
Recuso a paragem porque a sombra acabará por me trair. Cago nos contratos da única maneira possível: adiando-os. 
Corri os quatro cantos do mundo (é esta a prova de que ele realmente não é redondo), escrevi á Rommy Schneider (da qual ainda hoje espero resposta),forniquei nos wc´s dos comboios, passei tardes em Victoria Station a conversar com um índio mexicano que me ofereceu um cogumelo sagrado. Lavei os pés em muitos jardins de renome e importância histórica. Lembrei-me amiúde do conforto de uma cama. Evitei muitas vezes a memória da saudade.
& foi então que apareceste. 
Sinceramente duvidei que fosses tu, embora nunca te tivesse visto. Mas havia qualquer coisa no ar, inclusive as pessoas ficaram espantadas por terem a possibilidade de admirar um arco-íris em plena estação. Fiquei louco, muito louco & por isso beijei-te loucamente. Sim! Cago perfeitamente que me chamem machista ou homossexual, mas apaixonei-me por ti! Como pode alguém apaixonar-se por uma auto-estrada? Conhecendo-a!
Não acredito no valor relativo das palavras, (aliás o único que podem possuir). Odeio a palavra possessão!
Bem sei que caminhamos de mãos dadas através destas florestas de betão armado, provas evidentes de um urbanismo paranóico, onde raramente o pôr-do-sol acontece. Paris Bruxelas Amesterdão Colónia Hamburgo Copenhague Estocolmo Oslo Londres Belfast Biarritz Vitória Barcelona Lisboa, onde o sexo se vende em garrafas. 
(O de qualidade superior, enlatado). Os dentes dos caracóis estão expostos nas conferências e servem para coçar os cornos das pessoas que se sentem com capacidade para os possuir. 
Todos! Burocratas, políticos, capitalistas, imperialistas artistas e poetas a fingir! As mãozinhas das crianças têm muita procura no mercado: ajudam a tirar a merda dos narizes. Para o sarro da cabeça, ainda não há cura, apesar do esforço de um qualquer champô despudoradamente publicitado.
Vá lá… enrabem-se com os vossos poderosos canhões! Dêem às bombas a mesma utilidade que os supositórios vos oferecem! Se tal fizerem, verão que isto ficará um pouco melhor. Quem julgam que são! Onde pensam que estão? Superstars! Estou farto, mesmo muito cansado de vocês. Sei muito bem que as oportunidades que mentirosamente me oferecem, têm um único objectivo: o meu falhanço. Também sei que irei cair. Mas será de um modo diferente.

… Da invenção do homem

Depois do homem, o único ser abominável que conheço, é exactamente o homem. 
Inteligência? Estupidez? Honestidade? Moral? Trabalho? Escola? Educação? Família? Posição social? Deus?
Vegetem, vegetem, vegetem. Mastiguem à vontade os vossos complexos. Experimentem, experimentem, cada vez mais e mais. Vocês nunca se fartam, tenho a certeza. Ser controlado? Recenseado? Etiquetado? Notado? Tarimbado? Selado? Normalizado? Isso vocês não admitem nem saber porquê. 
    Construam! Produzam cada vez mais e mais hospitais manicómios escolas, porque num futuro cada vez mais presente, serão essas as únicas instituições que terão alguma utilidade. Adorem! Louvem, idolatrem cada vez mais e mais o poder. 
    Coloquem-no numa estante e limpem-lhe o pó todos os dias: poluindo, limpa-se a contaminação. É esse o vosso lema.
    Que me interessa ler jornais que me sujam as mãos e tentam fazer o mesmo à minha cabeça?
    Estou farto! Cada vez mais cansado e não me dirijo a vocês com qualquer réstia de esperança.
Sou porco! Suficientemente porco para defecar na vossa presunção.
    Mas tu nunca mais chegas e eu continuo a pensar. Aliás, é aquilo que me faz hesitar. Vem! Vem depressa, pois embora acredite que o suicídio não tenha dor, sou demasiado covarde para o tentar. Toca-me apalpa-me penetra-me. Faz com que eu te sinta. Nunca disse isto a ninguém, mas a verdade é que estou apaixonado por ti. Mas, tu nunca mais chegas, lembras-te? Então demos as mãos de mãos dadas, apertámos o coração e beijámos sítios que depois nos proibiram de pisar. Como vês, aquilo que eu te disse, confirmou-se. Ser diferente implica estar sujeito a duas atitudes: marginalizam-nos ou tentam devorar-nos. Não me perguntes porquê, bem sabes que não suporto questões banais,
Era mesmo necessário a separação? Disse-te para me veres quando desejasses, mas tarda o teu chegar.
… Não vi monstros coloridos, mas senti-me apertado, farto banal. 
Desejei-te da maneira que tu ainda não compreendeste, ou talvez ainda não sentiste & posso dizer que foi a primeira vez que isto me sucedeu. 
Senti a crueldade a estupidez a futilidade da existência das distâncias e isso foi o suficiente para me fazer pensar que tu realmente existias. A morfina como sempre ajudou, pelo menos da maneira que eu desejei. Surgiste mais calma, exactamente como quando julguei ter uma alucinação ao olhar-te pela primeira vez. Fecha os olhos. É melhor que não me vejas. Não! Não é que esteja com mau aspecto mas acima de tudo neste momento estou fodido. O desejo não deveria existir!
Então eles entraram. Porcos palhaços, justamente como porcos palhaços porcos. Aí senti que não me podia masturbar. Inútil! Tudo é inútil quando sentimos a necessidade da coerência, quando perguntamos a nós mesmos o que fazer quando vemos um monte enorme de trampa e nem sequer temos uma pá impregnada de batota para a destruir. Quando temos uma prova da inutilidade do pénis e da vagina, quando olhamos para uma pessoa, (sim pessoa!) e sentimos a sua dentadura beliscando o nosso corpo, quando estendemos um cigarro com o intencional desejo de uma bala, quando nos olham e sinceramente somos obrigados a sorrir todo o nojo, quando nos dizem adeus & logo pensamos que eles nunca ali estiveram presentes, quando somos obrigados a abrir os arquivos da puta da memória em busca de recordações susceptíveis de nos fazerem ausentar, mesmo que seja por um só momento.
Mas o que é isto? Não, não é uma fórmula1. Odeio descaradamente a publicidade. Isto? Ou aquilo, foi uma bad. Vocês são todos uns filhos da puta. Mas eu tive consciência de que isso tinha de acontecer.
Bad trip, fizeste desaparecer o cogumelo que até então tinha no estômago, a aura que há muito tempo contornava o meu corpo. É isso tudo o que lamento. Yah! Mete-o no cú.
Continuamos de mãos dadas. Não sei por quantos quilómetros, mas…
Vamos desejar ser odiados! Imediatamente!
Quando olho em volta e sinto-me longe do lugar onde gostaria de estar, não perco tempo a pensar se esse lugar na realidade existe. Que o meu esperma dê origem a um saco de viagem!

…Do chuto

    Heroína nas veias, cocaína na cabeça, sol espreguiçando-se no parapeito dos meus olhos, speed nas minhas mãos o brilho reflecte-se no meu cérebro. Acontece o silêncio. O único que aceito. Mas o ruído torna-se audível embora eu queira acreditar que daí nada poderá surgir. A hora do lobo. O gesto não foi consequência do pensamento e sinto que dum momento para o outro, estou cercado de espelhos que não me mostram o personagem que eu quero. O delírio deixa de sofrer alterações e tudo volta à normalidade. Uma rotina que acima de tudo continua a limitar-me. Ámen!
O arco-íris é a alucinação dos pobres!
Daqueles que apelidam de loucos, os que se apaixonam por uma auto-estrada. Daqueles que tomando “Dietilamida do Ácido Lisérgico”, pensam poder sentir o amanhecer na cabeça, comunicar com seres extra ou não terrestres, utilizar nas suas deslocações sempre denunciadas pela sua própria limitação, naves espaciais & depois desiludidos porque nada disto acontece, atiram-se do rés do chão e geralmente conseguem fisicamente não morrer, ou formam normalmente a nova polícia. 
Oferecem-me um prazer indiscutível: a banhada.
Que faço eu aqui?
Estou no intervalo de um filme. Recusei ser mais um artista nesse elenco.
É duro! Bem sei que é duro de dizer, mas nunca amei em vão. Tão pouco poderei colher os frutos dum possível fracasso. Continua-se a dar demasiada importância às palavras & por isso mesmo as contradições continuam a existir. Eu acabei agora mesmo de ler as instruções referentes ao uso do tampax: sinto-me menstruado e continuo a queimar as etiquetas dos cigarros & o telefone teima em acordar-me todas as manhãs.
Não é preciso ser meteorologista para saber de que lado sopra o vento. Não sei se alguma vez te disse isto, mas continua a não te importares.
Depois! Bem, depois uma beata apagada um charro na boca uma grande pedrada & logo pensas que a solução está na química. Também costumas politi-falar, mas estás certo: Rússia e América afinal são duas formas de poder & o poder só serve para nos foder. 
Eu? Bom, eu continuo a querer matar-te.
… Drogo-me, drogo-me não! Fico porreiro sempre que tenho oportunidade & meter-te o dedo no ânus, já não me dá prazer! Bem sabes que não posso dizer o que acontece quando um homem ama uma mulher, tal como considero nula a existência de todos os poetas & não me agrada nada que os submarinos soviéticos continuem na minha banheira. & porque te beijei e nos meus lábios nasceu uma borbulha, a partir de então prometi não beijar nunca mais o teu corpo, excepto na...boca. 
Além de mais que interesse me dá o acordar todos os dias, se vejo paredes nuas ou miseravelmente enfeitadas, com uma única saída: a futilidade do quotidiano.

    … De um país por mim lamentado

    Aqui perco-me com dias iguais descoloridos aqui a alegria dá lugar a um lamento constante aqui a ânsia da liberdade é a sucessão das horas dias anos aqui o grito de revolta é mudo aqui o sorrir é mecânico como mecanizados são todos os gestos aqui o obedecer é o contestar silencioso, nas costas de quem nos manda, com um sorriso nos lábios, aqui o estudar é futuro como posição social, aqui a esperança é sempre uma palavra agredida pela ridicularia dos homens, aqui o amor é o jogo de cama inventado pela sociedade num momento de ócio, aqui não haverá memória para dias felizes.
Não me sigas! Eu também estou perdido. E vocês não digam que estou errado! Era jovem quando saí de casa.
… Da negação do existir
Sou filho da guerra do ódio da miséria e do pecado que não fiz minha irmã é a noite que nunca mais termina é a dor inventada a boca asquerosa que não pensa nem sabe aquilo que diz minha vida são as grades que eu como os covardes não consigo quebrar os meus braços são tenazes que apertam os meus desejos e destroem a minha ânsia de amar os meus olhos são a alegria simulada de uma ambição frustrada que eu teimo ainda em pensar os meus beijos são despejos manias fumo exibição o meu pensamento é tempo é o vento da vida que eu não vivi sou homem objecto sou produto para consumir sou futuro sem presente sou a negação do existir.
… O tempo morreu, mas o cerco aperta-se a fuga é eminente a ambição desapareceu. Merda é o poema! Contudo é urgente libertar o sol para que as estrelas possam de novo dançar. Que os pássaros ensinem o mundo a amar.

    … amor às 6 da tarde

    Ela Movia-se como um anjo Levei-a ao restaurante chinês E comemos amor
Com a face Bastante rosada Falei-lhe do Nevoeiro de Lisboa Contrastando fortemente Com o sol radioso de Londres Ela riu-se E eu Perguntei-lhe Se já tinha visto algum santo Cortar as unhas Chamou-me doido E foi à casa de banho Arrancar o penso higiénico Tirei a bota do pé esquerdo Para ver as horas Ela, admirada Perguntou-me porque não usava O relógio no pulso. Disse-lhe que não tinha braços.
Levei-a ao restaurante chinês E comemos amor
Gostas de mim? Gosto Porquê? 
Ezra Pound é fantástico
Amas-me? Amo-te Porquê?
Os Estados Unidos estão em decadênCIA
Queres-me? Quero-te Porquê?
Na Rússia não há páginas amarelas
Desejas-me? Desejo Porquê?
Sou parvo
Mas Ela movia-se como um anjo
E dizia que odiava o sistema Mas prazer e amor
Continuavam a ser esquema.

  …Mas

A vida é bela, passada à janela vendo a Manela chupando um pau de canela olhando para a panela, no mar: uma caravela e a prima da Manela também é bela. Olha, lá vem ela. Como é bela a vida a Manela vista de uma janela.
… A desculpa
Não tenho o direito de vos chamar porcos estúpidos e maus. Nem lamento sentir que são isso tudo & muito mais.
… De um happening sobrenatural em Lisboa
3 três Submarinos Soviéticos 
Juntaram-se No Aqueduto Das Águas Livres
Para Fazerem 1 um Piquenique
& Devoraram 1 um Destroyer Americano

        … De um requiem por todos os poetas descalços

Nada! Para além dum bolso repleto de sonhos. Duma prática quotidiana abusivamente condicionada por um certo ritmo de consumo, de posições motivadas pelo próprio sistema. Ou uma traição consciente mas sempre traição a mim mesmo. Não! Não quero ser dos que ficaram pelo caminho. Poema é a pena de eu não ter pena de escrever o poema.
Mas, não te chateies: 
Eu sou o único poeta que pode mijar na tua algibeira.



,1976_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 23 de maio de 2025

DIZ-ME O TEU NOME

 


Eu sei que não é fácil quando a tua história está impressa numa tampa de esgoto feita de ferro dúctil como a vontade inútil que foste vomitando neste tempo que sempre te venceu. E o caminho que pensas que escreveste com palavras floridas não é mais do que um lugar raras vezes desentupido por uma máquina que sempre prometeu iria secar a tua dor. Nada disto foi possível até porque a verdade nunca quis saber de ti. Eu também penso que não é fácil dar as costas a quem só te quis enganar. Menos fácil ainda, é sentir a desigualdade da importância que te penhoraram. E os sonhos que pintavam a felicidade são agora chorados por pássaros de plástico, num quarto forrado com grades que nunca conseguiste abrir.
Eles dizem-se admirados. 
Contrataram o melhor pintor, mas nunca se lembraram de ti.
Eu sei que não é fácil tentar libertar um sonho constantemente vigiado que impede momento após dia, tocar a hipótese de contares unicamente contigo.
Estás fora! Até mesmo do zero.
Escondem-te numa cama de percevejos e fazem-te querer que nada mais poderá haver.
Só te posso dizer 
que aqui ainda se encontram 
algumas estrelas.
Diz-me o teu nome.
Falarei com elas.


2017marçoaNTÓNIODEmIRANDA
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CASCATA DOS SONHOS

 


Estou a chegar

Que ninguém roube as notícias 
da tua espera

Achar-me-ás cansado
talvez já lento, nos gestos que reclamam o teu abraço

(Posso confessar que não foi verdadeiramente fácil limar as folhas do tempo que às escondidas escreviam poemas nos sorrisos dos corações solitários)

Não fales a ninguém da miséria que entrego a mim próprio quando me escondo no camarim dos anjos da desolação

Desculpa a audácia de entregar-te sementes de poesia

[Rasguei o plano B].






,2022Mai_aNTÓNIODEmIRANDA
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3 CONVERSAS PARA O POEMA DO AMOR POSSÍVEL

 


1
Tatuámos o desejo
nas algemas da ternura
e o amor possível
não as abriu.
2
Drive me!
Drive me baby!
I like the way you do.
Take me!
Take me baby!
I wanna do bad things with you.
3
As promessas indicadas
no código de barras
abrangem a pequenez
da nossa intenção.


CONCLUSÃO FINAL
Por ti,
neste encontro nunca acontecido,
entonteço na sombra do candeeiro
que sempre me engana
quando tento abrir a tua porta.




2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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ANTES

 


Antes do arco-íris apagar o céu e escrever nas teias da memória obscenidades com a lógica do tempo, há que cortar o que dizemos, mais ou menos, em pedaços iguais.
Antes que o sol nos cegue a vista e a vida lavre caminhos errados, é necessário um esforço atrevido e uma boca que beije sem medo, na breve visita aos sítios onde moramos.
Antes de desistirmos nesta maneira sempre fugidia, há que respeitar a coragem daqueles que ousaram a diferença que nunca navegámos.
Antes de a luz apagar este projecto sempre ausente, há que pensar neste olvido total que nos faz um tempo perene, muitas vezes ovacionado nas campanhas promocionais.
Antes que o sagrado se despeça 
deste puzzle encardido, 
há que sumir depressa, 
lágrima a lágrima, 
gota a gota encharcada 
com o nojo que nos repete.
Antes do céu,
cuspir passo a passo
na nossa vergonha.





2017,jun_aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 18 de maio de 2025

OS ÚLTIMOS POETAS

Jorradas no chão,
lambendo lâminas enrouquecidas,
as estrelas solitárias
no picnic dos anjos da boa vontade,
cantam só para mim prosas simpáticas.
E no meio dos últimos poetas,
há um sax que grita
rejeitando toda a clemência.
E aparecem palavras que cortam,
e com este sangue abençoado,
serão escritos poemas
onde o tempo não pousa.
Continua o assassínio
nestas ruas envergonhadas,
de gente com alma
que só quer uma oportunidade.
E as feridas nunca serão curadas,
e os gritos arrumados no monte da ingratidão.
Sepulcros remexidos no meio de orações breves,
tão curtas como a circunstância
de só terem tentado viver.
E os últimos poetas
 soltam a poesia de todos os medos,
com todas as cores.
Na marcha fúnebre que os acompanha,
pensam com a esperança possível,
na sagrada indiferença
com que são considerados.
Os últimos poetas vão assim morrendo.
            E mostram rosários
                    de nenhum arrependimento.






,2017mai,aNTÓNIODEmIRANDA

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Rolling Stones “Honky Tonk Woman” Live At The Max Los Angeles USA 1990 F...

2025 ELEIÇÕES

 


A 18 de Maio

Na cova da Azia

Perdi o País

Que

Pensei

Existia

2025Mai16_aNTÓNIODEmiRANDA
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Nunca é tarde para ser um monte de Merda.

 


ORGASMUS

 


Há os que fodem tudo
Aqueles que gostavam de foder
Os que nunca fodem
E os que ficam a ver
Os que nunca foderam
Os que gostariam de ter fodido
Os que fingem que foderam
Os que um dia foderão
Os que da foda fugiram
E os que f….gostam de ser






,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 16 de maio de 2025

NENHUM PROFETA DISSE ISTO

 


Não me julguem insano. 
São tão poucas as palavras 
e a vontade de as escrever
que me dão a traição do cansaço 
com que já não me abraço 
agora que os dias fogem de mim 
para darem longos passeios no parque.
Amo de ti de mim 
serpente perfumada 
paga a contragosto num cartão de crédito 
que tanto seca o meu gostar.
Não quero ser difícil 
nem pretendo a facilidade, 
mas eu às vezes choro tanto sem me lembrar 
e lembro-me de muito sem ser capaz de chorar 
e isso só me mete nos caminhos
(como o Tomás costuma dizer) 
da harmonia dos desequilíbrios.

Nem todos os dias têm de ser cruéis.

Nenhum profeta disse isto
o que por si só já é importante.




,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
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terça-feira, 13 de maio de 2025

A FÚRIA DA FOME

 
Pão nosso porque nunca está na mesa?

Maldita seja a fome que em nada te incomoda

A desdita de cada dia nos dai hoje

Santificada seja a vossa mentira
aqui na vida como na miséria

Perdoai-nos as nossas ofensas 
assim como nós perdoamos 
a quem nos tem desgraçado

Não nos deixeis cair em lamentação
mas livrai-nos do Mal 
de em vós termos acreditado




,2023Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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A DESILUSÃO SOBRANTE

 


Alvejar as ideias

Trasladar os epitáfios repetidos 

Esgrimir na ponta e mola figuras de estalo
Admitir qualquer consolo
mesmo o mais fortuito

E engalanar a ausência da beleza com atributos não sofisticados

Ter a fé possível neste esconjuro de suposições tardias

E espetar com a devida esperança espinhos de água & sal

Molhar desregradamente 
a desilusão sobrante
e esperar que nos venha cair no pranto 
qualquer dose de alegria 
ainda que seja breve o instante

Descolar é preciso

Atear o desejo
é uma necessidade 
que não podemos fingir







,2018jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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A FUGA PARA O EGIPTO

 


A virgem fugiu com o menino 
para o Egipto, 
num tuk tuk.

O jumento, que não era burro, 
delicadamente   recusou       este tour.

José o atónito,  mirou o incógnito.
Herodes desesperado,
deitou fora o gps.









,2015aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 10 de maio de 2025

The Rolling Stones - Sweet Virginia 1995 BEST VERSION

BLOW WIND BLOW BLOW BACK MY FRIEND TO ME

 


Gosto sempre de ti!
Que mais poderei dizer,
quando só consigo escrever, até logo?
As coisas, aquelas que ainda são importantes,
por vezes não me transmitem muita tranquilidade.
Claro que sei que os anos vão enchendo um vazio que começa a preocupar-me.
Talvez sejam coisas próprias da tristeza que não há muito tempo, julgava não caberia em mim.
Pendurar poemas e passar palavras a ferro com a devida delicadeza, não deixará nunca de ser uma solução temporária. Outros dias vão amanhecer com noites de escuros diferentes que nos irão soletrar memórias que julgávamos esquecidas. Mas mesmo sabendo alguma coisa da não felicidade, tentamos à nossa maneira encontrar presentes para embelezar o passe social. Tenho o chão a fugir, e escrevo com um pau de giz, na mais cruel tempestade, e estou preparado para continuar a fingir que tudo não passa de uma nuvem passageira.
Mergulho num mar que não sei se é azul, e também ignoro o tipo de algodão que poderá secar as últimas lágrimas.
Não gosto do acordar com poemas que me faltam.
Blow wind blow. 
Blow back my friend to me.

,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
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MORRER É UM JOGO COMPLICADO

 


Morrer é um jogo complicado.
Queima a flor que tanto nos entonteceu, 
e não há rega para a sua ausência. 
É um arrefecimento a pronto pagamento 
depois de tantas prestações pagas a um tributo que sempre nos ignorou. 
Mas a vida, de cada vez que a respirámos, é uma traição ignóbil, 
sempre pronta a roubar aquilo que gostámos. 
Depois os dias que sobram fazem de nós os invernos, onde enroupados nas fotografias, contemplamos memórias que definham o correr do nosso tempo. 
E é tão lindo o que gostámos 
e de tão querido, embrulhámos no lenço da saudade, todos os momentos que nos fazem felizes. 
Esta realidade é uma conspiração abrasiva, abusa sempre de nós, 
aqueles que sempre acreditam 
que este jogo sempre será a mais miserável das batotas. 
            Eu também já não dou ao tempo
            a importância que ele não me merece. 
            Estou farto do seu modo de me cansar!



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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ADULAÇÃO

 


Soltaram os imbecis.
Andam por aí espalhados com doutoramentos dourados 
e abusam nada preocupados dos pesticidas.
Enjaulados nas palavras, 
reúnem-se em alcateias
 onde vomitam ideias 
que nem eles entendem.
Fingem-se amigos, pobres mendigos, 
no meio da cerveja.
Pensam que inventam, 
mas só jumentam e batem palmas 
para sacudir o tédio das mãos.
São exageradamente simpáticos 
e sorriem abraçados a esta tendência 
sem inteligência com beijos que andam 
de cara em cara. 
Tiram fotos para uma telenovela 
para mais tarde criticar. 
Amam-se enganosamente num gosto 
tão defecado e adulam-se como se isso fosse 
o mais natural acreditar.
E agora aplaudem-se bestas 
comodamente instaladas no recanto
 dos indignos.
Estou além deste propósito 
e propositadamente não consigo gostar.
Estou além da simpatia fingida.
E tenho amigos.



2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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MOSTO

 


Bebo dum trago o teu mosto 
na adega de um velho Agosto 
com a luz de um luar humedecido.
Abro-te a casta 
como se a uva 
fosse unicamente um desejo de nós.
Podámos o amor na estação sincera.
Até então, 
nada sabíamos dos danos colaterais.
Dissemos o amar-te-ei 
sempre na forma do calendário 
onde o sarro nunca muda.





,2016,06.aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 4 de maio de 2025

CANTATA DA XANA

 


Obrigado por terem vindo: ( cantata da Xana ) para os imbecis :
A vossa presença continua a ser o meu maior handicap :
Sei que não é politicamente correcto mas não comungamos a mesma falta de ética :
Tenho voos soldados numa discopatia : mutilam a simpatia :  dificultam a empatia : alojam-se em folhas de azia onde minto palavras que não sei escrever Aleijamento local / hostel (como agora se vomita) : em pranchas de banda desenhada : ferro em câmara ardente ao redor da fogueira das vaidades : Um corte sui generis, a modos que na vertical eloquente vontade : arrefecida bondade só na horizontal imaginada : explosão fatal : morte anunciada no telejornal : onda de solidariedade a pedido do governo : tal peido fedorento : discurso nojento :  voto do jumento como sempre a desculpar-se com a puta que nos partiu : A ignorância é como um penico :  Mesmo vazio ocupa espaço : E continuará para todo o sempre a cheirar mal : 
: Muita eloquência para a minha indecência...



2025Mai03_F.A._aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 3 de maio de 2025

NÃO PARO DE PENSAR EM TI Ó MAL-AMADA LIBERDADE

 


                Escondido na oficina dos 
enganos 
observo anos que voam no meu 
tempo.

                A verdade nunca me atraiçoa 
e a vontade permanece inabalável.

                Sonhos que não abandonarei 
deitam-se tranquilamente nos 
nossos abraços.

                Lembro-me sem 
arrependimentos daquilo que gosto.

          E esta á a prescrição que amo 
obedecer.

                Não paro de pensar em ti 
ó mal-amada liberdade







2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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OUTROS CORPOS ME HABITAM COM IDEIAS QUE ESCREVEM

 


Um sonho perfeito. 
        Só um sonho perfeito 
sem a coragem lascada 
nas falsas promessas da absolvição. 
        Gelado de angústias mergulhado 
no oásis das solidões. 
        Lembranças desfocadas 
fugindo das gavetas das almas 
inquietas. 
        Só um sono mais que completo 
deitado no vulcão 
dos abraços por entregar.
        Um duelo ao enternecer, 
qual arrepio, doce, frio, arrebatador, 
angustiado, ressuscitado 
num qualquer poema. 
        Teorema, telefonema 
chamada sem destinatário.
        Apenas um anseio perfeito
 nunca vestido de pijamas 
entediados.
        Chama corajosa
entregue porta a porta
a quem não importa 
liberto da taxa da aldrabice.




2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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ÍNDOLE AGONIZADA

 


Tão longe me vou ficando

            Alma chorada neste jogo 
desgostoso

            Acena na esquina

Presentes agarrados

Às tristezas ignoradas






2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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UMA ARANHA ATERROU NO MEU DEVANEIO

 


Ela, que não a outra,
 farta do espelho mentiroso, 
aspirou a triste história e perguntou:

                Tanto calor no teu meio? 

Nada receies. 
                            Irei baixar a temperatura 
do forno. 

                                Não! 

Deixa estar!

                            Amo a febre do teu 
termómetro.







2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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GUISADO EM PONTO DE CRUZ

 


Isto não vai nada bem!

                Quem te pregou na cruz?

Aquele filho da puta 

                Que não gosta de cuscuz.



2025Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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AMAR-ME DESDE SEMPRE FOI UM JOGO PERDIDO

 


Não sei quem nos perdeu 
no verso fugido do Orfeu.
 
    Nada de mim agora sou 
nem sequer a vã esperança 
num amor que não apodreça 
na nuvem do reino dos burlões.

    Em qualquer lugar em que nos escondamos 
os deuses fornecedores da miséria sem vergonha 
cortarão a vida num lento gotejar, 
distribuindo nojentos bocados aos obreiros do horror.

    Se uma lágrima se esquecesse 
de entregar a angústia que não foge…







2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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A SAUDADE MORA NA CURVA DA AUSÊNCIA

 


Sentado no catavento da memória 
acaricio uma voz interior 
abandonada no cacifo das águas-ardentes. 

Valsa da invenção 
Vazio infinito 
Voo rasante 
Viagem solitária para uso particular 
banhada na travessa dos postais tristes.

Manipuladora da ignorância 
estufa do canto confrangedor 
regado por um conta gotas 
com perfumes de gasolina.

                                                        Onde 
                                                                Foste?








2025Abr05_aNTÓNIODEmIRANDA
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ENTRE A AUSÊNCIA E A PRESENÇA O PASSADO É-ME FIEL

 


O importante é não nos comprometermos com as pessoas, não que temamos as consequências, mas porque não aceitamos e rejeitamos a realidade em que vivem. A futilidade do seu quotidiano é a sua mais notória falta de imaginação. Pensar, é aquilo que elas não conseguem, mesmo quando não têm nada para fazer. Se eu tivesse um Ferrari fazia amor com ele. Se eu fosse pato gostava de ser gato. Se eu fosse francês não falaria emigrante. Se eu fosse esperma escolheria o teu corpo para navegar. Quem pôs a bomba? Senti a sua explosão no meu corpo & logo pensei que tivessem inventado o amor. Acredito no amor, não como palavra, não como acto, mas como desejo.
É preciso estarmos atentos vigilantes não só a nós mesmos mas também aos nossos instintos naturais. Somos sensíveis, mudamos frequentemente, e quando isso acontece, nada se altera. Hoje pode dizer-se que naquele verão estavas magnífica e eu posso também afirmar, embora não publicamente, que às vezes precisava de ti imaginando-te drogada & quando tu aparecias, o que nunca aconteceu, eu olhava-te e convidava-te para me cortares as unhas dos pés. Lembro-me perfeitamente do sorriso que tinhas quando me olhaste com o dedo que não tinha unha entre as mãos: mas eu sabia, sim eu sabia que isso mais dia, menos dia iria acontecer. E eu toquei-te e tu disseste não e eu beijei-te e tu disseste não e eu desejei-te e tu disseste não. Visivelmente cansados pela nossa primeira experiência permanecemos pedrados de mãos dadas na cama, cuspindo para o tecto tentando acertar numa casca de ovo horrivelmente pintada. Aproveitei para pôr no gira-charros Woodie Guthrie & tu gostaste! 
Ouvindo Sonny Terry e Brownnie McGhee e perguntaste o que era um Blue. E eu disse-te ao ouvido: sabes pá, quando um gajo está na merda com a sua girl friend, pega na guitarra e acontece o Blue
“Eu nasci na auto-estrada 64 e a primeira refeição que tive foi uma boleia. Cresci, embora não muito, no meio de negros de caracóis dourados. Engolindo o fumo dos seus cigarros, eu ouvia-os longo tempo cantando: oh deus! Oh deus! Porque é que isto acontece? Porquê trabalho eu tanto para o outro ter Mercedes Benz. ”Comecei a trabalhar, não muito frequentemente, gastando todo o dinheiro em livrarias, até ficar com calos nas mãos de tanto pegar nos livros que muitas vezes não tinha hipótese de comprar. Era sempre um desejo adiado. Passei dias no café Pigalle observando os craques do bilhar e os curiosos das slot machines. Aprendi a conhecer pelo cheiro das beatas que fumava a marca de alguns charutos e tinha como passatempo preferido, mudar as etiquetas das garrafas de vinho nos supermercados, tornando assim viável a compra com o preço adequado às minhas reais possibilidades. E pensei em mudar. Disse á minha namorada: estou cansado de andar por aí, quero fixar-me, tenho de casar. Mas devemos de estar atentos, não mudamos quando queremos, mas porque quase sempre somos obrigados a fazê-lo. Não somos tão sensíveis como imaginamos e tão sólidos como de tal temos a certeza.
Entre a ausência e a presença o passado é-me fiel.
… Embora se saiba que a fidelidade, também é uma companhia de seguros…


76*2014.aNTÓNIODEmIRANDA
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