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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

EU NO AUTO DESCONSOLO PRECAVIDO



Esta noite não preciso da solidão. Empenhei os sapatos que me levariam ao quarto que já não tenho. Sou a todo o momento um habilidoso desclassificado. Não aplaudem o meu discurso e ignoram a única coisa que tenho para exibir: uma miséria de segunda classe. Já não durmo com o medo. Só poderei pedir desculpa porque fugi das palavras. Escondido por aí, espalho-me nas peregrinações da decadência. Os passos das minhas voltas fugiram do último sonho que tinha para colorir. Massacro o chão de cada vez que leio aquela lápide. E eu que tanto desejava que não tivesse partido. Sei que não deveria sentir assim mas invejo a chuva que saúda o seu passar. Um bom dormir talvez acalmasse a onda do desespero que faz deste tempo um cavalo alucinado, a fugir sem parar da inquietação. Onde param agora as asas das vozes bondosas? Falam de uma ideia navegada na angústia do choro das baleias. Terrível desilusão que só me dirige para sonhos imperfeitos. E estes gritos não cessam, qual murmúrio sangrento ávido para assassinar o hálito dos deuses. Perdi o perfume da utopia especial. Onde te encontrar diccionário das solidões escondidas, dos desencontros da memória da proximidade cada vez mais longínqua, nas feridas sem conserto da consolação possível? Perdido em mim, envolto nos sentidos proibidos da ferida audácia, cortejo a atracção do abismo. Só, como de costume já não desenho a delicadeza do desejo. Deito-me no castigo da fracassada espera e qualquer acontecer nunca passará de um inconveniente acaso. Roubaram tudo (Nina Simone - Ain't Got No, I Got Life). É a mentira maior quando o imbecil conforto afirma que voltaremos a viver. Estou deveras cansado desta inutilidade. Quero fugir deste fumo e do convite para dançar na imbecilidade da reanimação hipócrita. Sacudo as ideias mas os distúrbios permanecem na cabeça. Dizem que me amam, da maneira mais absurda, para vomitar palavras bonitas no desgosto dos meus ombros. Um pássaro que nunca me disse o nome rouba apressadamente a ampola da última esperança. O vento infeliz encosta a raiva nos uivos do desânimo. Deitamo-nos lado a lado na cama da carne fresca com fantasmas a fingir, escondidos nos cachecóis da crueldade. Beijos sintéticos abençoam a benevolência da mentirosa salvação. Duendes desesperados apagam a ardósia da poesia.

VÁ. INDE BRINCAR COM OS OUTROS MENINOS

Seja bem-vinda a solidão e os abraços envergonhados que entrega.  Às vezes sinto-me a escrever qualquer coisa perto do fim, como se fosse fácil rasgar o nojo do que gostaria ter queimado. Neste deserto nunca se está só. Jamais pretendi combinar com as notícias da última hora, nem me deixei seduzir pelo apelo carbonizado do talho dos Mártires ou pela promessa da santificação com certificação devidamente armadilhada. Nuvens atentas antecipam o relatório do tempo, e, assim não deixam mentir a vontade de um curioso qualquer. Objectivo obrigatório: Gatilho espoletado / Deflagrar venturas aziagas / Declamar a azia insonsa / Engalanar relíquias virtuais / Sodomizar qualquer simpatia pela memória calcinada. Por determinação superior, plantado no meio da selva de mentes pingadas, escondo-me da plantação de microfones tentando-me aliviar numa qualquer introspecção ambulatória. 

OPERÁRIOS DO SABER

Ainda não frequento esses lugares. Até porque será sempre difícil enganar o céu. Embebedei o cansaço. Um deus arrependido pediu-me um afago embrulhado com laços de tédio sexual. Momentos eternizados. Ideias fora do formato espichado. Psique retalhada. Cadáver acrílico: rabisco memórias. Divirto-me delicadamente na festa das sensações. Sonho -te sempre, mesmo sabendo que nunca tocarei no perfume da tua pele. Acho-me e perco-me no festim para o caminho entornado por estrelas enganadoras. 

Despediu-se e foi para longe. 
Moral da história de um Insignificante Camafeu
Ninguém deu pela sua falta.


,2024Jan16_aNTÓNIODEmIRANDA


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