Pesquisar neste blogue

domingo, 31 de dezembro de 2023

SEC`ADEGAS com André Miranda POEMA PARA UMA PASSAGEM DE ANO COM FINAL F...

O melhor 2024 (se for caso disso) POEMA PARA UMA PASSAGEM DE ANO COM FINAL FELIZ

 Lembro-me de certos dias  
De um sonho sem retorno  
De alguns passos desviados e 
Da matança integral Dos fracassos 
com doses de naftalina e 
Da alfabetização Da ejaculação colectiva 
Dos buracos ocasionais 
Da estrada Da glória 
De alguns erros De palmatória 
que não pude escusar 
De certas acções De castidade mal sucedidas  
De elogios frios como o mármore 
De favores perfeitamente dispensáveis 
De poucas curvas sem muita gravidade 
De aparições cósmicas sem serem convidadas 
De senilidades não vigiadas 
De carícias tímidas 
De poucas conversas envergonhadas
 De algumas urgências atrapalhadas 
De poucos convites para a deserção social
Também me lembro Dos dias restantes
Mas esses serão sempre pertença minha

Permitam-me que me apresente:
sou um homem que em mim tem fé
e, pelo qual nutro a simpatia suficiente

,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA



sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

NATAL_2023* SOLAR DO MORGADIO*Rojão Pequeno





.




.



.



 

CAPELA DA LUCIDEZ

 



Um anjo acampou na capela da lucidez 
e entregou o protocolo das verdades vindouras 
que nunca fariam os tempos fáceis.

Até então acreditava na fantasia.

Fiquei-me pela poesia. 

Espero que a robustez do tempo restante 
deposite as prometidas melhoras.

A estrada não acaba 
mesmo que não haja lugar que nos espere.


,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA

LEMBRANÇA

 


Deita-te fora de mim 

como se fosses toda a  beleza 

e deixa no espelho 

um beijo que fale do meu nome



,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA

ISSO MESMO



 Quando 

quiseres

um bom começo

rejeita 

as dúvidas

da

ignorância


,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA

Nina Simone - Backlash blues

Ain't Got No, I Got Life - Nina Simone

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

O QUE ME RESTA DA VIDA

 


Quando as flores
Cheiram a estrume
Quando a inteligência
Cheira a esperma
Quando o perfume
Cheira a merda
Quando o desejo
Não tem significado…

Não dou por mal gasto
O tempo que passo
Gerando o meu próprio cancro.
Deixai-me pois
Viver o que me resta da vida
Dum tempo 
Abusivamente sujo
Nesta procura insana
De encontrar outro lugar
De tentar outra saída.


,aNTÓNIODEmIRANDA


GOSTO DE TI INDECENTEMENTE



Amor da minha vida 

Que tão cedo me enganaste 

Flor em constante ferida 

Fúria incorrigível  

Cavalgada

Em fracassos de puro-sangue 


,2023Abr_aNTÓNIODEmIRANDA



PHOTOSHOP #DA SÉRIE FANTASIAS DE NATAL#

 


Carrego nos suspensórios que a vida me vai estendendo - retratos com marcas de mágoas à la minute - tratadas na sala dos espelhos ardilosos - e projecto assim os cómodos defeitos maldosamente articulados - num photoshop que não sei manobrar - e revogo esta intenção para que alguma beleza aconteça.
De tanta mudança que o tempo 
nos entrega - como no bom dia 
do carteiro que sabe de cor os 
dígitos do nosso destino postal 
- a canseira de todos os momentos 
da subida dos tristes degraus- 
que cumprimenta a azevia 
que julga ver na nossa cabeça -  e 
respeita um sorriso que nunca vê 
- vestido com um barrete vermelho 
- como se fosse o pai natal que logo 
à noite - moído de inchaços - num 
choro cansado -  abafado por um pijama 
vestido de lágrimas sempre iguais 
- soletra as mesmas ruas numa inveja 
ausente dos códigos postais.



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


Um Grande "Mimo" da Marina Camponês. Obrigado

 


Para o Tomás Miranda Luthier e o Miranda Antonio De, duas pessoas que muito estimo e admiro pela sua humildade e generosidade

#DA SÉRIE FANTASIAS DE NATAL#

 


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

ENREDANDO A VIDA

 


Alma deserta

Janela ausente

Sonho sem sentido

Sina perdida

numa gaiola de arame farpado


Roda o mundo

Enredando a vida

Que há muito

Não

Me

Oferece

Notícias




2019out_aNTÓNIODEmIRANDA


VOAR CONTRA O DESTINO

 

Elevar o veneno.   
Traço para aspirar.  
Encher  
o balde. 
Sujar até atingir o zero.
Entrelaçar genitais burgueses. 
Sentado num charro de erva, 
com um índio que parece um anjo, 
cujo primeiro acto de traição foi o ter nascido. 
Estou em guerra com toda a contemplação, 
e contento-me em fumar a minha alma 
nesta alucinação não odiosa. 
Quebrar o estado de sítio estampado numa frigideira 
com banha de porco. 
Corpos fritos, atados com arame, 
no anexo da podridão. 
E aterrar sempre fora da pista, 
numa capotagem perfeita.  
Saquear os fornos do pão sangrento. 
Ungir a loucura e santificar todos os beijos 
no altar dos enlevos não mentirosos.
Ó cogumelo celestial, 
estou louco por chegar até ti, 
e sair deste voo de excrementos pisados. 
Descalço ao som da bateria do Max Roach
curvo-me perante toda a ousadia,  
e carrego no botão do gancho do umbigo, 
uma dose anímica  de alegria em conserva.  
E procuro na pedreira, 
a esmeralda preferida da primeira dor que pretendo esculpir. 
Estrondo paralisado no rabo da sombra, 
imaginação de veludo pregada com laços. 
Abandono a faixa da rodagem correcta, 
e distribuo autógrafos escondidos nas sandwiches 
da realidade confrangedora. 
Princípios rígidos, desdenhosos, atirados à poeira. 
Rendição agachada, zombies maltratados com anúncios encharcados na testa, amontoam-se na prateleira dos delírios prontos para o banho da guilhotina.
É chegado o tempo de esmaltar as orações recolhidas, 
e voar contra o destino. 

,2019_ jan_aNTÓNIODEmIRANDA

EMBARAÇO

 

Cansado

            Desapareço

                        No embaraço

Da minha

                    Solidão

    &

                            Enrolo fios

    Desta meada 

                        Absurda

                                Para o futuro

        Que alguém

                                    Pensa

                                    Ter 


,2017dez_aNTÓNIODEmIRANDA


ESPECIALMENTE DEDICADO AOS IMBECIS

 


Nunca

Me

Cansarei

De

Admirar

A

Vossa

Estimada

Ausência



,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


"SOU EU" A Madalena Ávila​, disse. *PARABÉNS* - 20DEZEMBRO

DESPEDIDA

 


Vou-me despedindo do tempo
Afagando os dias
Com os poemas possíveis
Não sei o momento
Que gasta o pensamento
Agora que a luz do túnel
Não me mostra qualquer caminho.
Da vergonha,
Só restam as cinzas
Da possível hipótese
Nem ficou o lamento
Não cabe em mim
Qualquer desalento
É minha amiga a poesia.
O diabo pintou a minha alma
Num dia 
Em que um deus qualquer
Não esteve atento.
Não há desculpa,
Esta foi a minha vontade.



2014 aNTÓNIODEmIRANDA


CORTE FINO

 


Será desta que atino? Agora que da razão só tenho o estritamente necessário, todo o cuidado é pouco, diz-me aquele que nem a fingir sabe ser louco. Todas as manhãs penso que o dia poderá ser bom, depois esclareço a minha vontade oferecendo-lhe rebuçados cuidadosamente embrulhados em papel selado. São mimos que gosto de dar. Depois de encharcados não há chuva que nos molhe. Palavras cruzadas, intenções ofendidas ou simplesmente um exercício diário de sudoku. Dizem os entendidos que faz bem ao mesmo. Modernidades! Nem sequer peço uma oportunidade. É demasiado tarde para que alguns sentimentos venham á tona. Nem sempre o tempo permite essa fatalidade. Há que continuar a enrolar aquilo que não fará mal á sapiência. Da paciência falaremos na altura adequada… Ritmar a vida nas teclas da minha CORONA (velha putona onde tantos dedos a fizeram gemer), apagando com o corrector pornográfico as palavras sujas. Esfolar as críticas e pendurá-las no sol do açougue, esmurrar a normal inveja das pessoas assiduamente anormais e por fim sentirmo-nos bem, como probos que somos, por conspurcar personalidades contra faccionadas.
Devo dizer-vos que tenho o monitor cheio de ideias ignóbeis. Na disquete estes ficheiros não existem.


2015aNTÓNIODEmIRANDA


terça-feira, 19 de dezembro de 2023

ESOFAGITE

 


Odeia-me!
sempre!
E como quiseres!
nunca pedirei desculpa
por não ter consumido os
teus pecados.
Seria tudo mais simples se não 
tivesses inventado a complicação estúpida 
de pensar que és necessário.
Mil vezes te absolveram num piquenique 
de hóstias marinadas numa vinha-de-alhos 
pouco escrupulosa.
Ouro manchado que pinta uma fé que aniquila . 
Promessas inúteis compradas 
no mais duvidoso dos altares.
Há que proibir certos domingos 
para dar o merecido descanso 
às pessoas da boa vontade.
Quem sempre se curva, 
é porque não sabe que isso afecta a 
esofagite.





,2019abr_aNTÓNIODEmIRANDA


ESTÃO DIFÍCEIS AS BOLEIAS PARA O CÉU

 

Aqui na sala 
sentado a pintar janelas no mar 
embrulho-me nas ondas da desordem
e escrevo corações sem endereço 
nas veias deste desalmado veleiro
 
Perdido na tempestade das memórias 
ergo as mãos para um deus desajustado 
que com toda a sua bondade
mente um perdão caligrafado em fotocópias 
vendidas na feira da ladra
Que mal fiz eu
pergunta o apóstolo infeliz
procurando na rotunda dos abraços perdidos 
um anjo com “GPS” não enganador
 
Estão difíceis as boleias para o céu
com esta trampa do turismo espacial


,2021Dezembro_aNTÓNIODEmIRANDA


HOJE TEMOS PARA SI:

 

Bem-vindo ao self-service!
Hoje temos para si:

Sonhos enrolados em nenúfares da mais singela proveniência.
Atitudes mal pensadas enterradas num licor coq au vin.
Seduções panadas em pó de arroz cor-de-rosa.
Subtilezas assinadas pelo fotógrafo oficial.
Comentários jocosos no banho com a Maria.
Capas de revistas sociais com o toque original do forno do presidente.
Um par de pés com meias em perfeito estado de perfuração.
Vol-au-vent de aparas de unhas roídas.
Chalotas picadas sem dor nem piedade.
Pizza na brasa parada.
Fino carpaccio de línguas coscuvilheiras.
Canja de palavras com sílabas trocadas.
Canapés deitados fora de horas.
Cabidela à moda da Octapharma.
Croquetes de fígados maus arrasados em chantilly.
Suspiros abafados em beijos de absinto.
Coalhada de bagas de bacon enfeitadas com banana passa.
Batata-doce energicamente golpeada com chicote de beldroegas.
Vergamota hirta e facilmente insuflável.
Bobó com final de camarão e paródia de farófias.
Brioches na caçarola agilmente temperados em caldo de cálcio.
Empadas embutidas com molho húmido de rabo de boi.
Escabeche assiduamente envinagrado.
Escalopes escamados com toda a decência.
Estofado de obscenidades.
Estrugido cínico de elogios gelatinosos.
Gemadas aromatizadas em açúcar pernicioso.
Batido sempre à mão
Digestões bêbadas com preparado de enxofre.
Charros de erva-doce.

Sirva-se por favor


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

MEMORY BABE


Já se matou o tempo
Do desejo acontecido
Do livro que juntos
Não chegamos a ler
Do filme que sempre
Ficou para ver.
A música
Essa ficou num cd mal gravado
Embora por vezes
Penso que a ouço
Numa qualquer estação do metro
Passando despercebida
No meio de tanta pressa.
MEMORY BABE,
Um dia vou tocar-te 
Na minha guitarra
Num acorde de dó
Fatalmente desafinado.
Não terá de ser o último
O beijo da despedida.


2014.aNTÓNIODEmIRANDA





domingo, 17 de dezembro de 2023

Mungo Jerry - In The Summertime ORIGINAL 1970

ADORO A LEVEZA DOS PASSOS AUSPICIOSOS

 


Light My Fire” encharca-me o pensamento 
nesta madrugada sem horas indecentes.
A memória desfila a mais simples 
das minhas vontades.
Serei sempre um optimista 
sem destino possível.
A cabeça escreve-me imagens 
manchadas por sangues assassinos.

Onde estás, 
Deus de todos os sacrifícios santificados 
nas mentiras sem fim?

Envias afectos fotografados 
por algozes na procissão daqueles 
que estão sempre a morrer.

,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA


AGUARDAR A VEZ NO LUGAR DO TEMPO

 



Ainda não sinto a falta de mim.

Não quero repetir o cansaço nem respirar 
o erro da inútil espera.

Mostrei-lhe no olhar 
um desejo inequívoco de animar 
outras andanças.

Tenho na cabeça muitas portas do céu, 
mas ninguém em mente.

Portanto, desta vez tudo leva a crer 
que o passado vai correr bem. 

Pelo menos é o que  o teclado escreve 
na folha de papel sem jeito 
para crónicas de embuste.

Sou um clandestino a navegar 
nas ideias deste cenário.



,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 16 de dezembro de 2023

RETURN MAIL BLUES

 


Vamos deixar secar o tempo!

Escorrer a traição destas teias
que não param de sangrar.

Cantiga antiga
sempre ouvida num sentido contrário
à nossa vontade.

Os dias difíceis têm sempre
o osso do gato preto
achado na encruzilhada.

Foi deixado
por um diabo insatisfeito
com o mal amor da sua namorada.

Escrevo com o pó do meu quarto
uma segura intenção:

não quero mais sarilhos!

Não vou ler a carta devolvida.


2016,02aNTÓNIODEmIRANDA


NÃO É FÁCIL!

 


Não é fácil!
Dizer-te com palavras que não sei,
molhar esta fingida ousadia.
Amar-te com tudo o de mim
e continuar a sorrir
com estrelas na palma da mão.
Não é fácil!
Viver assim o dia-a-dia
com crepúsculos inacabados
numa t-shirt tatuada com todas as farsas 
de um calendário obsoleto.
Não é fácil!
Esta solidão contrária
aos ponteiros de um relógio
que mentem o nosso tempo.
Não é fácil!
esperar algo mais
do aquilo que a minha vontade
vai permitindo.
Não é fácil!
Soletrar a tua ausência,
Eu,
Que 
Da tua flor,
Agora só
Sinto 
a
Falta.
Não é fácil!



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


RED LABEL

 


Fiquei sem os máximos e desenhei borboletas no escuro da estrada, para que os saltimbancos do Picasso as fossem pintar. 
Tenho uma certeza que me corrói.
Ninguém respeitou a minha arte!
Aguardo a pequena esperança de que algum grilo, mesmo mal falante, as tenha guardado.
Pelo menos a Taschen teria assim uma boa hipótese para as dissolver. De qualquer modo, ainda me soa no ouvido a música tocada pela Kina e o Angel junto às muralhas do castelo de Sines. Depois do caril de amendoim, de uma dose de moelas, ambas sobre o efeito do microondas, uma Red Label do Johnnie Walker fora de prazo, comprada nas bombas de gasolina. A vida é dura e não há gelo que me salve. E as melgas fazem questão de o comprovar com assíduas vinganças na minha delicada pele. Penso que não admiram um homem interessante.
A verdade é que ando a mijar há 61 anos e ainda não molhei a humanidade.
Uma rã acampada no jardim afina o check sound para o concerto de amanhã.
A coisa promete. 
A entrada é livre e ela cumpre escrupulosamente o horário da actuação. 
Aceitei comovidamente o seu convite.



Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 15 de dezembro de 2023

FAHRENHEIT

 


A minha carruagem está a chegar.
Não me lembro de uma só vez 
em que esta cidade desse pela minha presença. 
Não pretendo o amanhã como outro dia.
Já não tenho tempo para coisas inúteis.
Deixo-vos essa angústia enquanto 
vou estrelar o céu.
Como é que estão?
Sentem-se bem?
Não acredito.
É melhor tomarem qualquer coisa 
que não deprima a hipótese do habitual.
Hey, baby!
Tardas em aparecer.
Tenho para ti as flores que roubei daquele pomar infestado de olhares curiosos, onde só queríamos esconder o destino da lua. Tínhamos sempre que fugir pela porta das traseiras, lambendo um chão conspurcado por uma lei que sempre ignorou o respeito que nos era devido.
Eram tão corriqueiros os sons das sirenes, 
que enrolávamos o medo 
em mortalhas cheias de nojo.
Tocávamos as mãos num azul que nos traía, 
e juntávamos os lábios com decibéis 
de fahrenheit (s) proibidos.




,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

EU SOU O QUE TU NÃO ÉS

 

Tento matar esta dor 
mas ela sabe tudo de mim 
(diz sempre que se pensar em fugir
irá magoar a intenção)

Tudo o que queres 
sou sempre eu que imagino

Nada podes recomeçar

Eu sou o que tu não és

E isto é 
só o teu único falhanço.


,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


O VENTO FAVORÁVEL

 


Serei sempre umas reticências, um ponto de interrogação ladeado por um etc às vezes latido. Um aloquete mal aberto ou ferrolho enferrujado. Tímida descoberta desaguando num cais com todas as milhas da distância. Mera circunstância de marinheiro atrevido. Relógio sem pulso, mentindo o impulso do tempo em que me abuso, navegando alturas agarrado a uma corda digitalizada em formato de imagem desfocada, que não me respeita. Serei sempre aquilo que gostava de ser. Vontade presente, para um desejo sempre premente parindo uma razão apenas não válida, para um pretérito imperfeito onde nada mais poderá caber. Não gosto de meias medidas!
Serei sempre o meu mundo dentro de uma barca prenha de soluços encaminhados por um controlo remoto, tentando enganar o nevoeiro anunciado pelo ronronar dos faróis automatizados. Uma solitária prancha de surf, aproveita o momento para entregar poemas de amor a uma onda com destino desconhecido. Uma vela ingénua, anuncia contente uma passageira hipótese de poesia.
Na praça do costume, à hora habitual, estátuas supostamente interessadas, catam o tempo corrigindo a minha escrita não adequada. A cigana despenteia-me o olhar. Perdeu a vontade de me ler a sina. Caminho ao contrário. 

Esta rota já não me convém... 
O comandante sou eu!
Ainda não descobri o vento favorável.



2015dez11_3 ½ da manhã aNTÓNIODEmIRANDA

#CANÇÃO FINAL# poema do Sr. Carlos Drummond de Andrade

Canção Final

Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.


NADA NEM NENHUM

 

É assim

Que as noites

Não se 

Cansam

De me deitar


,2022Nov_aNTÓNIODEmIRANDA


quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

APENAS SONHAR

 


Apenas sonhar
com 1 verbo diferente.
Uma perspectiva aderente
à amplitude
do meu não estar.
1 Incómodo somente
a divagar num sofá
com o couro adormecido
pela minha constante
frequência.
Uma sensação habitual
tão estranha
como o tempo
em que não sou
presente.
1 Encosto repartido
encolhido
num grito distante
perto do tempo
onde caiem todos os lamentos.
Apenas sonhar
1 Verso
sempre presente
e um sorrir
sem préstimo algum
às vezes
como se fosse
Gente


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


FARDOS DE SILÊNCIO

 


Mudar e desaparecer lentamente.

Não posso viver com o medo
na procura de ideias para me encontrar. 

Quero adormecer por aí 
abraçado ao bafo da sombra.
 
Não costumo rezar aos Domingos
e nos dias importantes
tal também não acontece.

Estou farto do desempenho 
deste esqueleto amassado.

Quieto,
carrego fardos de silêncio.


,2019Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


ABRAÇO ESTIMADO

 


Caro amigo:
Tudo normal dentro desta carapaça.
Continuo a naufragar nesta salada de bibelots
embora não deixe de estranhar o seu sabor.
De vez em quando, 
ouço falar de liberdade, 
conquanto ela nunca disse que existe. 
Ou melhor, 
aparece esporadicamente num 
qualquer poema abusivamente 
afastado da memória.
Na capoeira ensaiam-se sorrisos patéticos, 
para celebrar o raquitismo das ideias 
sem qualquer interesse.
O escorbuto, contrariando as expectativas 
mais optimistas, não se mostra eficaz na contaminação dos cretinos.
Há que dar tempo ao tempo, 
dizem os filósofos da boa-fé.
Na lixeira repousam cocktails de sonhos.

Celebro a nossa amizade com um 
Abraço Estimado.



,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


O USO DOS ANOS

 


Adoro os dias sem tempo

Há quem diga

que é o modo mais eficaz

para mascarar

o uso

dos 

anos

.


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA

E ADORMECIA …

 


Limpava alguns momentos à procura  de boas notícias na página da necrologia do jornal pousado na mesa do café e invariavelmente discutia a desilusão com o barbeiro.
Depois seguia até à paragem da camioneta que religiosamente tinha partido às sete da manhã. E esperava pelo carro do peixeiro, sempre com a esperança de um atraso que era raro acontecer.
Dava um pulo à horta para regar os tomates, e encostado ao muro habitual, contava vagarosamente as badaladas do sino da igreja, não que tivesse interesse, mas podia ser que desta vez elas não sincronizassem com o relógio que tinha comprado na loja do chinês.
Tinha saudades da cavaqueira da feira, mas agora está tudo tão fraco e longe, mais longe, do que o tempo que tem para gastar. Chegava a casa e ligava a televisão e telefonava para o número mágico que lhe prometia um prémio de não deitar fora. Quando fosse á cidade, haveria de comprar um telemóvel novo. O seu só funcionava para chamadas sem ofertas. Além disso queria fazer boa figura quando fosse à festa da aldeia. E continuava a cismar com a mania de pôr a mota em cima da mesa do snooker. Claro que gostava muito dela e aos poucos foi perdendo a saudade do ribombar das bolas. E o canito já estava velho para as apanhar.
Não ia para a cama sem visitar a adega, agora que não podia beber nem vinho nem aguardente que teimava em fazer. Talvez alguém apareça hoje e lhe dê dois dedos de conversa. Não será pedir muito. 
E adormecia ...


,2016,06aNTÓNIODEmIRANDA

terça-feira, 12 de dezembro de 2023

A VÉNIA ,

 

Pus um sorriso nas veias
e quase toquei o céu

Alguém invejou
a vénia 
que o tempo
me entregou

Eu
Só tentei
Outro
Lugar



,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA

CARNE PICADA

 


Enrola-me pela manhã
docemente até ao fim do dia.
Quero que me mates
até os ossos se tornarem fiambre.
Ama-me no chão,
faz de mim o mais vil tostão
um chá de um Judas pestilento,
canta-me numa canção de 
azar, só para acreditarem
que gostas de mim.
Enrola-me num cartucho
como se guardasses a
mais preciosa iguaria.
E oferece-me sofregamente
quando te apetecer.
Estou aqui,
abaixo do zero mais que finito
com arpejos do bolero
onde uma loura sem vergonha,
cavalgou nas minhas ancas
arfando palavras
roubadas dos meus poemas.
Enrola-me de manhã mesmo só um bocado,
no mais fino brocado para fingir a alegria.
Enrola-me agora,
pela noite fora
até fazeres das minhas costas
um ossário defeituoso.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA



domingo, 10 de dezembro de 2023

FÁCIL DE DIZER

 


O melhor será esquecer 

Derreter a angústia mesmo nos tempos 
não brandos 
diminuir a dor dos encantos falhados 
não desconfiar da expectativa entregue 
pelo rufar 
dos beijos da ainda possível esperança
 
FÁCIL
de dizer 
nunca às palavras sem vergonha de 
serem amadas

FÁCIL 
esfaquear todos os arrependimentos 
e depois congelar para sempre 
sensações escusadas

FÁCIL 
de falar quando estrelas deitadas 
nos teus ombros já não confortam 
o desassossego dos anjos quebrados

FÁCIL
inventar as vidas que poderiam ter sido
outras que não as nossas
e
Bolsar Indecentemente
Delicias         Anónimas


,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA


O SONHO QUE DESISTIU DA FANTASIA

 


        Para sempre é o tempo que 
        eternamente me foge

        Alguém me falou desta 
        viagem

        Continuo à espera do seu 
        horário

        A noite está cansada

        Só quero que o meu 
        desânimo 
        não atrase a chegada

        Prazeres simples jogam ao 
        futuro 
        com damas negligenciadas


,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA


ORA PRO NOBIS (2023) [A ABALADIÇA]

             


Tomai e Bebei Todos 

                    Esta Zurrapa de Merda

Para Vós 

                                Por Mim Derramada



,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA


VARRER O TEMPO DA MISÉRIA

 


Não me interessa molestar o que 
penso.
Estou cansado de escrever este 
desapontamento. 
É tarde para arrancar o sonho falido. 
Essa “fase” dá-me demasiado 
trabalho. 
Enviei (as vezes necessárias) 
numa oração por mim imaginada, 
cartas para o meu próprio 
desespero.
Não posso continuar a ignorar a dor 
que em todos os momentos me 
açoita.
Pensei que hoje seria um golpe 
diferente.
Um pijama carinhoso tenta 
encaminhar 
o desejo para o perfume do xaile 
encantado.
Por vezes demoro a acreditar no 
tempo 
que tantas simpatias mente.


,2023Dez03_aNTÓNIODEmIRANDA


CANSAÇO FATAL

 


Amei 
Até que o abraço do cansaço 
Me atraiçoou


Sim!
Estou bem!
Já não consigo sonhar



,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA


SÓ QUIS O QUE O MUNDO DIZ SER CERTO

 


Quis a família o amparo o afecto a companhia.
QUIS TANTO que agora só quero viver
Nunca na vida que achava minha 
pensei que morasse a mais grande 
das mentiras.
EI TRISTEZA, PARA ONDE ME LEVAS COM ESSA FACA NA MÃO?
Pensei que eras o anjo que procurei, o abraço que seria entregue no laço perfeito ou qualquer coisa parecida com o mundo que inventei. Nunca me tinham falado da chave da felicidade e humildemente peço desculpa por jamais me ter sentido verdadeiramente liberto. Provavelmente descurei a malvadez nas palavras que conspurcaram o teu / meu / e os outros nomes. A vida demasiadas vezes não passa de uma vontade malparida, um abandono escrito nas mais tristes emoções dos beijos envergonhados escondidos nos pacotes da solitude. Atolado nesta forte e louca obstinação de acreditar que o acontecer que nos deu luz trazia com ela a galáxia dos ventos felizes. 
Nada falha nesta trapaça cantada no hino impostor saudado pelos violadores da dignidade.
SÓ QUIS O QUE O MUNDO DIZ SER CERTO
O carinho sonhado o amor nunca acontecido. Tanto quis que agora só quero viver.
Deus não está para me aturar!
Eu não assassinei a boa vontade do mundo.
Só escrevi palavras de sangue no muro do vexame universal. 
Não passo de um meliante da comunidade 
das malévolas intenções.
Depois...
dizem que gostam de mim!
Mas...
tratam-me tão mal.
Onde pára a lucidez?
Porque se esconde dos sorrisos não mentirosos?
O amanhã não pode prolongar o longe de mais.
Cama vazia - confortos ausentes - um trago amargo na boca.
Ninguém aparece para disfarçar o lamento. 
Tanta desilusão deitada na insónia dos lençóis.
Será sempre bem-vindo o tempo para não desistir.
E isso nunca será pedir demais.
É esta a suprema lei com que tento acordar.
SÓ QUIS O QUE O MUNDO DIZ SER CERTO 
Mas o sonho só me oferece melodias de desespero.


,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA


IMAGENS...










 

ENFERRUJAR HORAS

 



Que merda de dia,
dizem aqueles que gastam 
o tempo a enferrujar
horas.

Passo ao lado dessa indignação.

Para esses,
é só mais um
para a colecção.


,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA


ASSUSTADORAMENTE INSPIRADO

 


Rezo por ti todas as mortes 
antes de tentar a habitual rábula 
da sobrevivência 

É custosa a decência 
vivida na decadência
para quem sobretudo 
espera que a vida 
por vezes não seja
também uma 

Colmeia de Percalços 


,2023Dez08_aNTÓNIODEmIRANDA


Gregory Corso #GASOLINA# Como diria o estimado Changuito (Poesia Incompleta), os mortos escrevem muito bem!

 





POSOLOGIA



… MAS ELES JÁ NÃO DÃO POR ELA

 


Há sempre uma possibilidade que nos atinge, 
assim como um raio insensato parido 
no micro-ondas. Um chapéu-de-chuva para
 sacudir as gotas que envinagram o nosso suor. 
Há lentidões temperadas em casca de limão 
e aquela chuva tão gentil e educada 
que chora lágrimas só para não nos molhar. 
Há ainda cabelos nos ombros, 
leves escombros para não nos atingir. 
Há sonhos agitados em banhos de pão-de-ló 
com gestos açucarados para se banharem 
no nosso café. E há gostos vestidos com véus 
em direcção aos céus que mesmo assim 
nos ficam tão longe. Há sempre um espaço 
que marca a distância que habitámos nesta 
construção de delicadeza robusta. 
Também há palavras que ainda não 
sabemos dizer. E uma estúpida vergonha 
que nos trai a audácia. 
Guardamos esta amálgama 
no mais inútil fervedor.
Depois esperamos o amor, 
nestes tempos de guerra.
O que faz de nós mais uma espécie 
em vias de extinção.
O que é verdade é que o mundo 
ficará mais pobre.

… Mas eles já não dão por ela.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


sábado, 9 de dezembro de 2023

LÁ FORA, AGORA JÁ NADA LHE ERA ESTRANHO

 


É vegetariana distraída.
Muito ela falava da assiduidade fundamental.
Transporta na mala o suave Channel N5,
não veste peles de animais 
e a vistosa echarpe que exibia era feita 
com cápsulas de Coca-Cola reciclada.
Abandonou a pobreza que nunca conheceu.
Usa agora, em tons de azul claro, 
fora de estação, 
uma boquilha com ansiolíticos naturais 
criteriosamente supervisionados 
pelo seu consultor de normalidades.
Deitada no sofá, 
tenta agarrar nuvens para esconder 
a confusão.
Olha de soslaio os ténis dourados,
imaginando pénis que gostaria de ter na mão.
Hum... desta vez correu muito bem,
dizia-lhe abotoando a bata o doutor.
É bom que assim se sinta.
Da próxima não traga a cinta.
Quero fazer-lhe uma “fodagrafia” 
como deve ser.
Foi para casa no Mercedes contente.
Falhou os piscas habituais.
Confiante, enfiou no whisky 
os comprimidos usuais só 
para ficar dormente.
Adormeceu abraçada à lingerie 
com todo o
cuidado para não se lembrar do amor.
Lá fora,
agora já nada lhe era estranho.



2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

A SOMBRA DE DEUS

 


Estranha linguagem falava de poesia no leilão das palavras sem letras. As metáforas foram desviadas para a secção do silêncio privado. Os lotes mais atrevidos secretamente consignados a troco de chorudos resgates. Há um ninho apodrecido pela ganância de habituais curiosos. Detesto personagens. Trago o mundo na malga das frustrações ilustradas pela coragem do monitor. Soluço moribundo. Lembranças destroçadas. Fobia estereotipada. Alma enforcada. Os livros ardem apressadamente. Fartaram-se das brincadeiras dos profetas curiosos. Fui sequestrado por um arco-íris. Na minha cabeça há um comboio de inquietações sem catalogação possível, escondendo visões numa maratona de demências. Janela insensata alucinações digitalizadas grito que afaga suavemente confeitos envinagrados argamassa roída coma esquelético ossos braseados cuspidos com todo o desdém por visionários do subúrbio, apalpando o êxtase das entranhas deixadas ao abandono nos insuspeitos mictórios do cinismo misericordioso. Panfletos contra a opressão das vidraças indigestas. Incógnito, o pianista de jazz iludindo o azar a duzentas rotações por minuto. Crepúsculo contemplando a cópula no caos do líder instantâneo, tatuada no prazo de validade da eternidade. Bactérias antiaéreas invadem vómitos frenéticos aplaudidos num bordel de virgens electrificadas.  Psicoestimulante colérico escravizado pelos embaixadores da maldade. 
A rosa enlameada das asas loucas oferecendo vazios sem fim. Diálogo de defuntos aquecido por velas cristalizadas com fragâncias da nojenta oligarquia do Kremlin. Pedófilos ainda não castrados regendo a ilusão. Confissão mágica emprenhando paixões distraídas acampadas no viaduto da burocracia. Caridade sinistra oferecendo exéquias requentadas a arcanjos desossados. Solidões nuas pregadas na cruz de onde fugiu um manequim que nunca aceitou a cegueira escrita na indecência dos boletins das submissões. Mentalidade absurda para podar cabeças empaladas em postes benzidos. De nada vale a pressa na prisão sem fuga possível. A cicatriz da viagem permanecerá violentamente intacta.
Na peça de teatro celebra-se a morte perante o aplauso complacente da sombra de deus.


,2023Dez06e7_aNTÓNIODEmIRANDA