O lustro dos anos oferece-me memórias camufladas,
dedos que tocaram a morte,
sinais que não cumpri,
ajustes que não me sensibilizaram.
Parado nesta esquadra,
não tenho qualquer interesse em cumprimentar
o sinaleiro das normas socializáveis.
Aqueço certos momentos na lentidão da frigideira,
enquanto o tempo o vai permitindo.
Olho-me com um desdém habituado à repulsa,
que não consigo fingir.
No lado escuro da lua,
leio o obituário que por enquanto não me diz respeito.
Aceito o findar dos dias,
iluminado pela matreirice de uma vela benemérita,
que dizem, purifica todas as urgências.
Há muito que vivo na pressa
que reza nas horas vagas pela minha salvação.
Continuo encostado na fila com fim
completamente indefinido.
Contudo não confio na fiabilidade desta hipótese.
Tudo é possível no esgoto da
previsibilidade.
Orar por mim,
será sempre um verbo com tempos mal passados.
,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA