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terça-feira, 29 de novembro de 2022

MANCEBO

       Encostado na esquina, ouço partir os olhos vazios, neste passar do tempo, que teimam em dizer que perdi. Mas eu continuo a acender este fogo, como se fosse um cantor de uma banda de rock`n`roll, onde nunca toquei. Poderia contar outras histórias, se o blush na minha face, não mostrasse que isso não passa de uma mentira. És doce como aquela canção que já não me espera. Continuo longe desse sapateado, ensaiado na escala do baixo, que amorosamente quer levantar o chão que me insulta. Por vezes, tudo me parece tão difícil, malgrado as desculpas de ocasiões mal desagravadas. Tenho saudades das velhas lojas, onde muitas vezes entrei para nada comprar, apesar das boas intenções. Os velhos amigos continuam comigo, mitigando a recordação das gajas que não chegamos a comer. Era só um supor malandro, que enchia uma pose com que fingíamos vender a alma. Estamos aqui, como provam estas gargalhadas emolduradas nos cabelos brancos, que só nos fazem sorrir. Naquelas noites tocadas nos jardins, fomos os mais felizes astronautas. Nas ondas do medo, iluminadas pelos faróis dos carros da polícia, enfeitávamos em segredo a nossa diferença. E no quarto das paredes sem sonho, adiávamos o sono, com todo o pavor da farda que nos esperava. Nunca perdemos a cabeça neste horizonte selvagem, ainda que as notícias dos amigos mais velhos, deixassem de ser escritas. A lua sonhava então, com cores bonitas, o pequeno-almoço era animado com ácidos sem estricnina, e lá fora, a realidade mentirosa, felizmente não estranhava esta mania. Acariciava os anjos no duche, e compreendia que o seu olhar, só procurava o amor, num abraço que nunca ignorei. Entregavam-me sempre uma fotografia, com uma nuvem que tentava agarrar todas as coisas que fugiram do meu caminho, quando deus não estava feliz com a minha aparição, nas manhãs do ódio que tanto me sujava. Olhos sem luz, sorrisos maltratados, assaltavam a minha cabeça, neste princípio da procura de uma só escada divertida.

 

,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA

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