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sábado, 13 de outubro de 2018

NÃO TE ESQUEÇAS DO MOLHO

Mataste-me tanto que já não há funerais disponíveis.
A urna mandou-me às urtigas, e o crematório está cheio de leitões.
Tanta demora para quê?
O atraso estava combinado, e não era necessário toda aquela cerimónia.

E agora, quem vai pagar a indumentária?
Já me avisaram que há multas de estacionamento, uma sobrecarga no aquecimento, e até o padre desfaleceu.
Claro, a lagosta estava suada, o bife tenro e com a mostarda a preceito, pão torrado, vinho gelado, mas não era isso o que estava no edital.
Vá, chega cá. Finge um ar cansado.
Convém até surpreendido, e, já agora evita o sorriso trocista.
Vai-te despindo.
O forno está aprazível.
Temperatura ideal.
Não me comprometas.
Não te esqueças do molho.
Não! Não ligues ao perfume.
Deita-te.
Vai-te virando lentamente.
Quieta! Está quase.
Todos irão adorar as tuas costeletas.
Depois,
dar-te-ei
notícias.

2018Out_aNTÓNIODEmIRANDA

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