Nada
aconteceu naquele momento em que estive no céu e roubei as escadas
para que ninguém mais conseguisse lá chegar. Acampei na tarte de
limão, aconcheguei a normalidade e espalhei os confetti mais bonitos
na via láctea do Buñuel.
Todo
o olhar era vidrado, exactamente como naquelas séries do Syfy, carne
picada amaciando um crepúsculo de deuses murmurado numa dicção
nada subtil. O mundo está diferente e cada vez mais interessado em
iludir ideias para uma viagem que nunca nos satisfará.
Já
vi este filme. E pior do que isso, é que não me apetece mudar de
canal. São agora dez horas da noite, horas iguais aquelas que
continuo a vomitar. No baloiço desta cadeira, cambaleio num
inverosímil latir do cão e
no meu ombro recostado no sofá, caiem lágrimas da púrpura chuva.
Os meus olhos não te viram e sei que esta não é uma desculpa
aliciante. Gostaria de contar outras histórias, mas não filmadas em
slow motion, para que as mentiras apetitosas não fossem sodomizadas
pelos efeitos especiais. Tenho o horóscopo manchado por pegadas de
pizza oferecida na recepção do motel onde um oral até à última
gota é pago a uma loura a imitar uma Marilyn em forma de candeeiro.
É
tudo tão estranho!
Logo
sou levado a pensar que já vi aquilo que quis. A minha cabeça
capota perante a presença de tanta luz inusitada. Acordo agarrado a
uma roda desconhecida e tento desmaiar perante a visão de um
porta-chaves falante em forma de et, que agora lembro, tinha visto
numa fábrica lá para os lados do Areeiro.
Estava
em promoção! Culpa minha! Merda de distracção!
Liguei
a lanterna para não causar distúrbios à minha bisbilhotice e
poisamos num bar curioso onde saboreamos amistosas sanduiches de
vitela estucada.
Alien
o porteiro da morte, abriu a porta e num desinibido aperto de mãos,
disse-me:
Se
calhar vou ter saudades tuas.
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