1.
Um outro tempo com um mundo diferente sem
mentiras arrepiadas nem uma qualquer solução
alcalina para afagar a pele dos sentidos.
Um choro descarnado da dor, um sussurro tenro,
amigo de uma paz não apaziguada em cocktails
que não fervem.
Talvez uma esperança permanente e um grito um
só grito infinitamente eficaz como se fosse altura
sem arreios para a desenfrear
2.
Escrevo-te com todos os erros que me roubaram
nesta ortografia corrigida com as estrelas
que agora caiem nas minhas mãos.
Não gosto deste arrastar sem som,
nenhum paladar procurando um crédito acessível,
num código sempre pronto para me abusar.
A primeira noite depois da despedida
é a mais verdadeira.
Os dias seguintes prometem um descanso
que irá ao longo do tempo temperar a saudade.
Aceito a morte.
Aquilo que ela mais tarde me transporta
é um relógio que não consigo acertar.
Mas as palavras só valem o que valem.
Todas as lágrimas inventadas
escorregam na gentil indiferença da tampa do caixão.
Vamo-nos gastando porque vivemos o tempo
que nos convém para celebrar angústias nesta panela.
Só há uma escolha:
respeitar a dignidade daqueles que sem querer
nos abandonaram.
E isto implica sempre uma obrigação.
Nada de desculpas.
Só amo aqueles que me respeitam.
3.
Outro mundo que me escreva boas notícias.
Com açoites para as nuvens que me enganaram
e suspiros cor-de-rosa para entupir as artérias
da horta biologicamente certificada.
Um dissolvente inteligente que queime
a intenção das disposições estúpidas.
Um circuito magnetizado nunca desconfiado
da cabidela dos maus fígados.
Uma fotografia sem ausências
e um relatório colorido anormalmente identificado
e com todos os pormenores
da nossa continuada avareza.
Tende cuidado!
Agora mais do que nunca.
2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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