Curiosidade mórbida e a realização de cenários de
quem nunca está presente. Ouvi dizer, diz-se por aí, é a constante permanente
numa ideia infinitamente menor. Côa-se assim o tempo, desperdiçando a vida sem
ter desta qualquer lembrança. Só baixo de nível com a eloquência da estupidez
absoluta. Não há remédio para esta fatalidade. Mantenho comigo uma frequente
possibilidade de aprender. Se calhar já escrevi isto, mas se calhar vocês não
leram. Os dias passam tranquilos na minha cabeça cheia de boas intenções. É bom
ter esta possibilidade de anualmente repetir certas leituras. Estou mais
sossegado na minha calma, mais acessível à minha atenção, com menos desprezo
pelas coisas mais simples, que há muito tempo passavam despercebidas. A cidade
grande surge depressa demais para confirmar qualquer intenção de me lembrar.
Sou só, sem qualquer anomalia proveniente do lamento. Passo os dias com ritmos
tão subtis envolvendo todas as hipóteses aptas para serem impressas nas paredes
da minha memória. Humedeço os sentidos com esta tranquilidade ausente de todo o
sentimento de fraqueza, e enleio a minha satisfação com amplos sorrisos e
gargalhadas encharcadas de contentamento. Não me contento com pouco, juro-vos!
Mas, não me levem a mal, sou dono da minha plenitude. A vida não é simples e
incautos serão os caminhos que nem sequer admitem essa possibilidade. Deixemos
correr o tempo sem termos a ínfima intenção de tingir a sua dignidade. Sou tão
difícil como a mentira em que ninguém deve acreditar. Não sou rima para
agradar, e pequei tanto que o andor tombava para o lado da minha não
imprecação. As velas queimavam cinicamente os dedos, e os crentes indiferentes
saboreavam entremeadas previamente benzidas. Eu seja louvado! E como não sou
invejoso, que o outro venha logo atrás.
Sou tão ilógico que a lógica tem de mudar de pilhas.
Os leds anotaram esta evidência com um ar de mercedes condicionado e filtros
plenos de satisfação. Incrédulo mas receptível á inovação, mandei-os á merda
com todo o cuidado, tirei os dedos da ficha, desliguei o motor, abri a porta da
marquise, informei a mulher, avisei a empregada, telefonei para a porteira,
raspei a raspadinha, ignorei a vizinha, atei a trela ao pescoço, meti na boca
um osso, adiei a caganeira, paguei o imi, cheguei á cama arrasado. De nada me
lembro. Dormi com o mesmo lado.
Aviso: este texto nunca poderá ser incluído em
qualquer manifesto eleitoral, assim como na posologia de qualquer coisa
intencionalmente prescrita com o propósito da normalização da loucura.
Admitirei a possibilidade da sua utilização na confecção de collants e num
restrito modelo de copas de soutien. Bom, a hipótese de pára-choques, poderá
eventualmente ser discutida.
2015aNTÓNIODEmIRANDA
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