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domingo, 10 de novembro de 2024

FOGE-ME DE REPENTE O ALENTO

 


Correm as memórias no assassino voar 
do tempo.
    Sei que a vida é um sequestro permanente 
pairando no tempo que nunca esperamos 
acontecer, porque abandona maliciosamente 
a noite dos sonhos pré comprados 
nas eleições do último céu.
    É sempre uma lide desigual na 
nuvem onde repousam o júbilo e a tristeza. 
    Quem poderá cuidar da solidão do 
mundo? 
    Onde se terá escondido a 
benevolência?
    É tão triste esta música solfejada 
no rosário das súplicas como se a esperança 
    não fosse a mais espancada das palavras. 
Sinto que não tenho todo o tempo e as 
condolências que cortejam a angústia 
cada vez mais atrevida, tentam disfarçar 
a insensatez de um qualquer porvir.
    Triste razão que teima o afastamento 
que necessito. 
    Bagatela perfumada que queima 
o azedume onde não me quero deitar. 
    Ó paraíso das memórias interditadas, 
que fogo é este que me entregas?
    Quem te falou deste desejo? 
    Quem te mentiu quando disse que 
o credo que exibo não passa de uma 
trapaceira mania? 
    Habito uma solidão que renego descrever. 
    Continuo teimoso que nem um raio 
sempre pronto para incendiar 
a inquietação que me castiga. 
    Sentado no patamar da tristeza 
a celebrar o reportório das vontades 
que perdi. 
    A minha alma é um declínio em constante 
ebulição.
Quantas verdades a vida terá de iludir? 
Quantas vezes os tiranos deverão morrer? 
Revolta refractária, 
pensamento errando na auto-estrada. 
Agora um tapete de gritos alisa a cara 
na almofada dos medos e rouba 
a inocência que tanto me custou a ganhar. 
Efémero recluso, desafiando o
 acordar contrariado, ferida constante 
no desarranjo que escolhi. 
Na única coisa que posso mentir 
há uma dor adormecida pelo canto da agulha. 
        Vou apanhar-te e oferecer este meu 
sofrimento. 
A coragem nunca poderá morrer.




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot.com

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