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sábado, 30 de novembro de 2024

NAQUELA NOITE E NOS PESADELOS SEGUINTES

 


Nos tempos com asas para o fim  voa 
distante o caminho do amparo nem sempre 
com elevados índices de consideração. 
Dizem impostor este teimoso capricho do 
acordar.
(Quem me dera a mim outro mundo neste 
fraco viver). 
Certos futuros nunca caberão na minha
bossa.
Guerreiros desleixados combatem a 
velhacaria do destino.
Dizem-nos muito bons. 
(eu é que não tenho jeito para gostar 
dessa merda). 
A paciência que exibo mudou de capoeira. 
Um homem não treme 
(ideia estupidamente absurda) 
do bobo do leme. 
Olá musas desencantadas. 
Deixai de andar desvairadas à procura 
do enfermo remo. 
Ai agora é que  tremo qual rena 
num trenó na atarefada entrega da nostalgia.
Ó besta quadrada  tendência desembestada
(árdua missão naufragada 
num impiedoso autoclismo), 
quando deixarás de importunar o peluche
que precisa de exílio? 
No caminho da memória 
escondo as fraldas da lucidez 
limada num ribombar ensurdecedor 
que atrapalha o ânimo que me entende.

                                        Mas não é esse a essência que procuro.


,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO TE IMPORTES QUE EU UM DIA AINDA IREI SER FELIZ

 



Desolei-me na última lágrima 
no vale dos encantos sem fim.
Ginguei a noite feliz 
naquele fugaz instante 
onde as mentiras repousam 
no perdão dos sonhos dourados.
E no colo da solidão, 
reguei a angústia habitual 
com o trago azedo dos abraços da 
memória.
  Depois o presente 
embrulhou o futuro 
com os mais elevados golpes 
de consideração e estima, 
e pendurou-os  no mastro dos laços 
purificados.







,2024Nov30_aNTÓNIODEmIRANDA
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PROEZA ABENÇOADA

 



É bem verdade que não pinto essas 
fantasias 

Agito sentimentos mesmo sabendo 
alguma coisa das promessas que 
oferecem (só para ti) 
vozes que nunca se irão cansar 
de regar esse nome no desvão 
dos dias sem memória

(dói sempre o desencanto da 
carência) 

Continuo a admirar a benevolência 
das flores que invejam esse feitiço

O futuro zarpou 

Desistiu da última viagem

Viajantes solitários 
falam agora das noites que não 
conseguem dormir



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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POR VEZES A MINHA MENTE DIVAGA

 



Interceptado por uma 
patrulha de 
“camisas sem mangas” 
no IC-19



(acerca do congestionamento 
sexual numa casa de 
amizades lá para os lados de 
Massamá)






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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O HABITUAL GRANDE DESASTRE DA COVARDE HUMANIDADE

 



A bandeja de Bombas 
Disfarçadas             de 
Bombons da Salvação 
Armadilhada 
Aguarda                     
Disponibilidade             do 
“Directo da tv” 
Com                         Imagens 
Chocantes 
Susceptíveis             de 
Sensibilizar 
Mentes Hipócritas






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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PARADA DOS PATETAS

 




Tu     que     tens     

cordão de enforcar

 
    A         quem 

                    compraste     tal 
        
                    condão  

                            Para 

 bem     dos     nossos 

falhanços? 






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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DEPOIS DA MEIA-NOITE TODOS OS SONHOS SÃO PARDOS

 



A Coisa Mais 
Importante 
Antes de Nascer?


                                Não Ter 
                                Perguntado 
                                Pelo Amor 
                                Deste Morrer







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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VIVE EM MIM UMA TRISTE EMOÇÃO

 



Sem lágrimas para distribuir

Apenas uma ideia absurda

Nenhuma palavra razoável


            Porque cheira a 
            Míssil 
            Aquilo que deveria 
            Ser 
            
            Sorriso 
            Da 
            Esperança? 







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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MAS AGORA VIM EU AO MUNDO PARA ME CHAMAREM POETA?

 


Respeitem 

De Uma Vez 

Para Sempre 

Esta Nunca 

Fingida 

Indignação




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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CÁLICE DE BENZOVAQUE

 


Aconchegou as brasas á 
ossada

Lubrificou os sonhos

Abençoou a determinação

Beijou o cálice

E esperou calmamente 

A chegada da ilusão

(A realidade fora daquela 
janela 
há muito que deixou de o 
cativar)








,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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Amy Winehouse - You Know I'm No Good

terça-feira, 26 de novembro de 2024

SONHO - TE

 



Sonho - te

Dentro - de - mim

Como se a v e r d a d e

Fosse esse momento

,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA
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FEBRE VAIDOSA

 

Tens o perfume dos anjos.

A minha única riqueza 
é a lembrança da tua pele, 
qual templo de ameixa, 
flor que engana o desejo.

Sonho-te num vale de amoras,
amaciado na febre vaidosa do teu sexo.

,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA










domingo, 24 de novembro de 2024

SEMENTES APODRECIDAS

 


Mais de mil amantes espalhados pelas ruas, 
rezam poemas sem ninguém para os entregar. 
Escondem na sarjeta, desgostos malvados, 
distribuídos na novena do entardecer amolecido. 
Varrem do céu, as luas da solidão, 
e, já nada esperam
 dos ruídos dos cinzentos subúrbios. 
Pedem-lhes para acreditarem no amanhecer 
que confortará
 a violência com que sempre se deitam. 
Fingem pintar o azul do nó que aperta a vida, 
e, sacodem na corda bamba, um choro rouco.
Mais de mil amantes, 
enterram sementes apodrecidas 
na terra da esperança mentirosa.
Destroçados, 
procuram um sangue não santificado, 
um único abraço, 
mesmo que finja a verdade.


,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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ACDC & The Rolling Stones - Rock Me Baby

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

A CONDIÇÃO DO POETA

 


Andamos para aqui a sarapintar vírgulas num papel qualquer.
Sabes, os poetas não têm uma fama lá muito aconselhável.
Há quem diga que têm na alma um teclado de uma máquina de escrever. 
E não são muito rígidos na escolha das palavras adequadas.
Às vezes pintam imagens estranhas, como se falassem com elas.
Abusam constantemente nas cargas etílicas.
Têm sempre uma pressa urgente.
E lavam pouco os pensamentos.
Enfeitam com um laço as ilusões,
ouvem outras vozes frequentemente
e são geralmente doidos por um par de asas.
São singelos na leitura de cartografias,
aparecem tímidos nas fotografias,
e passam muitas tardes a corrigir epitáfios.
E beatificamente despedem-se com a bênção habitual:
Que deus vos acompanhe,
porque eu já não sei o caminho.
Aqueles, ditos subversivos,
apostam sempre na barata tonta,
e lisonjeiam com desdém matraquilhos curiosos
que vomitam sílabas mal cheirosas.
Os poetas não são assim,
mas também nunca poderiam ser o contrário.
Têm ritmos de alquimia,
e, sentados, tentam colorir outro cenário.
Pensam que falam como as pessoas,
discutem amiúde anatomias sintéticas,
descansam os olhos com atitudes patéticas, e sorriem como se fizessem parte do mundo.
Cultivam simpatias incompreensíveis,
dão longos passeios envoltos num manto de nevoeiro, chamando alguém em forma de estátua, de Sebastião.
Odeiam parapeitos supersticiosos, e escorrem por uma corda fictícia até pisarem os pés da lua.
Dois poetas nunca se encontram, 
mas abraçam-se com um código secreto, 
e sabem de cor a maliciosa palavra-chave.
Os poetas têm importâncias não definidas,
e sangram como crianças,
pelo poema que nunca poderão escrever.
Vivem em forma de tempestade, 
o tempo que constantemente lhes foge.
Cavalgam como um puro-sangue, 
mas enganam-se sempre na corrida.
Sabem que não há futuro na poesia,
mas, enquanto poetas acreditam 
na sua eventualidade.
Há quem diga que não são normais! 
Até mesmo difíceis!
Têm sempre um copo na mão,
Donde bebem sessões contínuas de dignidade.
Nunca renegam a condição de ser poeta.



2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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A NAVALHA



 A beleza passava sempre ao lado. 
No bornal da fome, 
ilustrado com fotos da terra dos sonhos caídos, 
vadiava a angústia de todas as horas. 
Martelava a saudade no banco
 da estação de Santa Apolónia, 
e escondia o regresso no miolo da broa, 
tão dura como a sua solidão. 
Sabia de cor todos os horários, 
que um bilhete certa vez sonhado
 no único sono bonito lhe prometera.
Na camarata, lia às escondidas, 
postais tristes que nunca teve coragem 
de meter no marco do correio.
A manhã seguinte, 
era o único castigo que o mantinha por cá. 
E a navalha, 
a sua fiel companheira,
 só se deitava após o seu adormecer.
Na enxerga, 
nunca houve lugar para sonhar.





2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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CRÓNICAS DE VILA CHÃ ANTUNES, O MOCHO (PENSAVA QUE NÃO VOLTAVAS)

 


O mocho de todos estes Setembros, 
voltou.
Está na árvore de sempre, 
agora com galhos queimados.
Há muito que decorei o seu cantar. 
Sei que é ele. 
Esconde-se da minha curiosidade 
na sombra das estrelas, 
que só neste lugar iluminam o céu. 
Vai e vem, neste sossego 
fora dos barulhos da cidade podre. 
Fala-me com o breve instante 
que a sua liberdade permite.
A noite é um lugar com muitas asas.
Há 37 anos que nos encontramos.
Sem compromissos.
Sem os avisos prévios das despedidas.
Apenas com o adeus que nunca 
nos separou.
Agora, como de costume, 
vamos dormir no ninho dos 
sonos encantados.


2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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A MÚSICA ESPECIAL

 


O rosto do espelho não vai parar.
Uma festa 
espera por mim
no lado que fugiu.
A gota na janela não vai cair
no sono que me afunda.
Um som muito suave
que não quero escutar,
abraça um longe,
que anseia  voltar para os  meus braços.
Diz que está cansado de andar nesta luz,
e agora só pretende dançar no fogo,
a música especial.







2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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EM MODO TESTICULAR

 


Não somos nada!

Nada valemos!

Dizem um para o outro,

olhando pessimamente para aquele 

pedaço inerte.


Não sei porque nos abandonou!

Exclamava o menos conformado.




2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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EM SINAL DE TODO O RESPEITO

 


Gostaria que o teu perfume, 
não tivesse a marca de um despejo 
de recordações.
Não sou bom, e admito-o, 
nesta colecção árida de intenções confortáveis.
Não sou bom no acariciar 
dos cuidados intensivos, 
quando enterro a minha alma nesse lugar.
A minha médica, 
sem nada de mim compreender, 
manifesta um apoio que considero 
deficiente, mas nada de melhor pode fazer.
E, em sinal de todo o respeito, 
snifo as cinzas das suas receitas.
Poderia dar-lhes outro uso!
Mas a rigidez do papel, 
poderá causar-me hemorroidal.







2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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AQUI NÃO HÁ ESTRANHOS

Está tudo agora tão preso neste jardim.
As palavras brincam de pedra em pedra 
e regam flores
num jogo de cabra-cega.
Acedem-se velas
queimando cartas 
para incendiar vudus.
Alegres coros
celebram jubileus fora de horas.
Aleluias passeiam de bicicleta
carregando pintassilgos para chilrear
nos caminhos das manhãs perdidas.
Lamentos com a corda na garganta
oferecem gargalhadas embrulhadas
em pacotes de amendoins.
Jura-se um choro eterno
que será ardido
no crepúsculo cristalino
dos dias com encomenda especial.
Aqui não há estranhos.
Simplesmente ninguém
quer ser conhecido.




2016,11aNTÓNIODEmIRANDA
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AFINAL NÃO SOU ATEU!

 

Afinal não sou ateu!
Acredito piamente em mim.
Não sou fã da solicitude nem de escrotos 
entupidos por falta de amparo. 
Gosto das fagulhas que desentopem 
qualquer esperança digna desse nome.
Claro que no que toca a sexo, 
ainda não dou a vez a ninguém.
Retoca-se assim a intenção 
e varejo as ideias que nico, 
como se fosse os mais bem-educado 
dos mamíferos. 
As alvíssaras repousam delicadamente 
em fotos post mortem, 
à procura de melhores épocas.






2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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A BELEZA É UMA ACTIVIDADE INFLACIONÁRIA

 


Odeio círculos viciosos.
A traição poderá estar na esquina.
A beleza é uma actividade inflacionária.
Os curandeiros Filipinos respiram 
essa convicção.
A agência France Press 
e o conceituado Der Spiegel
pelo contrário, respigam a ideia 
da pobreza penetrada 
de um positivismo apostólico, 
admitindo um neopaganismo europeu.
O Vaticano, preocupado, 
manda chover adereços progressivos, 
escamoteados na psique da metafísica, 
que nos dirigem à penúria.
O mundo é feito com demasiadas pessoas 
desprevenidas.
Os ataques acontecem.
Os presidentes reúnem-se 
em gabinetes de crise
previamente concebidos. 
Isto é, supostamente sem o pecado original.
Distribuem-se condolências escritas 
em cartões cinicamente impressos.
Como não conseguem resolver 
a sua inutilidade, 
vingam-se nas sanções impostas 
aos outros países.




Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

EU ESTIVE LÁ

 


Santos alternativos 
procuram outras opções.
O resto é melhor do que nada, 
diz a fome para o desperdício.
Busco um abrigo, 
mas os tempos já pesam demasiado. 
Vivo numa tempestade que contempla 
o futuro estagnado num cais do metropolitano
 pejado de sorrisos injectados. 
Ignoro o painel de azulejos com nomes 
cuspidos pela indiferença. 
Eu estive lá, 
nos lugares agora sujos. 
Eu vi as palavras que mancharam. 
Eu cheirei na pele a agonia 
da mais ínfima probabilidade. 
Eu ouvi as façanhas dos cobardes 
relatando a mutilação da dignidade.
Mas, 
Eu só tinha 14 anos, 
e, 
assim aprendi, 
que o nojo não deverá nunca ter idade.






,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO TENHO LÁ MUITAS SAUDADES DE MORRER

 

_Estou à espera que o Jeff Koons 

acabe o meu retrato

_Quero assistir ao 150º aniversário

do senhor Ferlinghetti

_Ainda não perdi a esperança de ser 

rico, embora não procure esse tipo

de fortuna

_Além disso, desejo uma realidade 

decente, mesmo que isso implique um drástico equilíbrio populacional

_Anseio pelo glorioso bacanal com as virgens desanimadas.

_Organizar um happening redentor 

com os apóstolos arrependidos

_Aguardo a clemência para os 

desastres que não cometi

_Só quero tatuar o pensamento 

com a certeza dos dias felizes


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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INQUIETAÇÃO

 


Dói-me 

A

Esperança

De

Tanto

Tentar

Trilhar

O

Futuro




,2020abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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GENTE FELIZ COM LÁGRIMAS

 


Já não tenho queda para cair
neste sentir naufragado
enrolado nos farrapos fora da caixa.

Guardarei na imensidão do meu delírio
toda a memória 
da gente feliz com lágrimas.

Só tenho para fugir
um saco de segredos escondidos 
numa rede ansiosa.









,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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FRATERNIDADE

 


Os que nada têm 

Nunca poderão ajudar aqueles 

A quem tudo falta.  




,2020Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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ESTA É A NOITE DO ROCK`N`ROLL



 Que tal morrer hoje?
Amanhã as vagas estão esgotadas.
Ainda estamos presentes neste concerto de zombies.
Enrolo-te no Rock do Chuck Berry, 
e escrevo poemas obscenos 
no decote da ousadia. 
Estonteia-me a silhueta do teu arfar. 
Estou pronto para te oferecer 
a mais ousada dança.
Despir-te num sonho de papel, 
dourar-te os seios e embrulhar
a ilusão em mortalhas de cetim.






,2020Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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FEED-BACK DA AUSÊNCIA CONSOLADA

 


Solteiros & Cansados

Mãos Calejadas

Fantasias Avariadas

Gemidos Secretos

Sexos Obstipados

Imagens Prometedoras

Sonhos Embrulhados

no cetim da timidez





,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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The Jolly Boys - Rehab

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS

 


Labirinto da saudade.
A ausência enche as ruas.
Magoo-me.
Tenho o cinto no aperto da vontade.
Uma misericórdia inoperante.
O que pretendes pecador infalível desordeiro das orações que ensinámos?
Império das mentiras, princesas maquilhadas no trono dos tropeços.
Não consigo um diferente começar. 

NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Oceano afogado nas sombras - uma corrente de murmúrios - negação contínua que conforta o autismo pulsos atados num remo à deriva -  barca velha cansada da adega - e há um sol teimoso que finge o nascer -  e oferece-nos um perder agasalhado nas pulseiras.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Neste palácio borrado de medo pela curiosidade de janelas indiscretas. O existir não passa de uma circunstância inconveniente. Os palhaços abandonaram o palanque. Este sítio é suspeito. Sobrevive com nuances de sanguessuga. Doida autópsia rasurada, escondida num asilo ignóbil mija decências nos muros encharcados de peçonha. Glorificado seja o nojo de cada dia, a toda a hora, aqui na terra mas nunca no inferno. Queimo as respostas que hipoteticamente endereço a mim. Não ouso pintar ausências, até porque o mais perto que estive da felicidade, foi uma vírgula sem o ridículo das palavras. Estou sempre pronto para o que de mim eu quiser. Atento e venerando o optimismo conservado numa solução fictícia cada vez mais longe deste lugar que tanto me cansa. (não estou a falar de mim. Eu sou outra coisa). Se calhar até podia ser assim, mas esta maldita fé enferrujada por néctares alucinados, pregou-me a esta ilusão roubada numa caixa de esmolas. Despejei o cabaz dos imbecis. Há alguém por aí? Alguém que me possa matar? Tenho dores para a troca, sorrisos fáceis para vender, um coração habitado na mentira, olhos que nada entendem, boca obediente, consumo mínimo do zero à morte, 7 chicotadas. Ofereço um diamante louco abençoado pelo Syd Barrett. Se não for do agrado, tenho átomos congelados, embebidos numa salada russa, antes de o Putin começar a levar no ânus. Candy dizia ao corpo que a estranhava, que só queria um dia perfeito. Só me queixo da sorte quando o azar se esquece de mim. Até porque não gosto das bebedeiras diluídas em contrafacção. Tenho um gosto distinto entendido por um tinto de reserva conceituada. De cada vez que me penso, esqueço o que de mim presta, ainda não queimo o que resta, mas isto vai ter cura. Relembro-me em leituras sonâmbulas e caminho nas nuvens da ilusão. Colo a tristeza numa manta amiga, e espremo a esperança com dedos manchados pela crença que me impregnaram. Recordo quando era jovem, mas não encontro os segredos que escondi.
NÃO HÁ CÁ NINGUÉM A NÃO SER ESPANTALHOS.
Tenho a pele empilhada por aplausos que nunca ouvi. 
Opções divorciadas dos flashes fedorentos.




,2020Dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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A PONTUALIDADE DA TUA AUSÊNCIA JÁ NÃO ME SURPREENDE



 A memória já não bate a esta porta 
e a fragância que lhe ofereci 
também não está disponível.

O fascínio mora ao lado. 

Assim está escrito na cicatriz da mágoa.
Vai sem voltar 
este secreto desejo 
de teimosamente ainda te sonhar.


,2023Nov9_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

A SENHA DA ESPERA

 


É aqui que me acho
na desordem das palavras
que escorrem dos livros.
É aqui que falo
e combino a fuga
para as asas que me podem salvar.
É aqui, neste silêncio vomitado 
que calco todas as tonalidades do nojo 
que pretende lavar a minha indignação.
É aqui que decoro labirintos
desenho os cenários da contradição
e morro na impossibilidade
habitualmente tentada. 
É aqui, neste alforge desabitado
que debito soluços 
que, 
pensei, 
já não me pertenciam.
É aqui,
que retiro da vida 
a senha da espera.






,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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2

 


Como poderei beijar o teu corpo 
tão ateu como o meu? 

Ai meu amor estamos tão perdidos 
que não nos deixam morrer como deve ser. 

Agora não sei como esperar outras luas 
mesmo com significados traiçoeiros.
 
A verdade é que fomos dois números 
com hipotenusas nem sempre mentirosas. 

Beijo-te os seios 
continuamente como se fosse um desejo 
que virá tardiamente depois da nossa aparição. 

Esperaremos o dia 
para que violetas agradecidas
embelezem os nossos desesperos 
escondidos em lençóis 
que mancham o nosso encontro. 

Tanto nos amamos 
e ardemos numa febre 
que queima a indiferença que nos difama.



,2016,03aNTÓNIODEmIRANDA
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Yesterday Morning

JIM MORRISON & JOHN LEE HOOKER

domingo, 10 de novembro de 2024

FOGE-ME DE REPENTE O ALENTO

 


Correm as memórias no assassino voar 
do tempo.
    Sei que a vida é um sequestro permanente 
pairando no tempo que nunca esperamos 
acontecer, porque abandona maliciosamente 
a noite dos sonhos pré comprados 
nas eleições do último céu.
    É sempre uma lide desigual na 
nuvem onde repousam o júbilo e a tristeza. 
    Quem poderá cuidar da solidão do 
mundo? 
    Onde se terá escondido a 
benevolência?
    É tão triste esta música solfejada 
no rosário das súplicas como se a esperança 
    não fosse a mais espancada das palavras. 
Sinto que não tenho todo o tempo e as 
condolências que cortejam a angústia 
cada vez mais atrevida, tentam disfarçar 
a insensatez de um qualquer porvir.
    Triste razão que teima o afastamento 
que necessito. 
    Bagatela perfumada que queima 
o azedume onde não me quero deitar. 
    Ó paraíso das memórias interditadas, 
que fogo é este que me entregas?
    Quem te falou deste desejo? 
    Quem te mentiu quando disse que 
o credo que exibo não passa de uma 
trapaceira mania? 
    Habito uma solidão que renego descrever. 
    Continuo teimoso que nem um raio 
sempre pronto para incendiar 
a inquietação que me castiga. 
    Sentado no patamar da tristeza 
a celebrar o reportório das vontades 
que perdi. 
    A minha alma é um declínio em constante 
ebulição.
Quantas verdades a vida terá de iludir? 
Quantas vezes os tiranos deverão morrer? 
Revolta refractária, 
pensamento errando na auto-estrada. 
Agora um tapete de gritos alisa a cara 
na almofada dos medos e rouba 
a inocência que tanto me custou a ganhar. 
Efémero recluso, desafiando o
 acordar contrariado, ferida constante 
no desarranjo que escolhi. 
Na única coisa que posso mentir 
há uma dor adormecida pelo canto da agulha. 
        Vou apanhar-te e oferecer este meu 
sofrimento. 
A coragem nunca poderá morrer.




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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ABENÇOADO CÂNTICO FINAL

 


Mudei todo o sentido.
Inventei outras vidas mas nunca perdi 
o meu nome.
Furacão de emoções retirando poesia das 
estantes enquanto emocionados anjos 
estendem a magia das palavras… 
Ó delírio celestial, por onde tens fugido? 
Aguardo com a esperança possível 
o enlace da tua chama. 
Ó beleza que sei jamais serei capaz 
de compor, porque teimas em não acampar 
na minha vontade? 
Sou unicamente um amigo da tua velha 
solidão. 
Vagabundo dos sons do silêncio 
que nos cercam. 
Nada é razoável nesta jornada 
de desencontros adiados. 
O “casting” conformista viajou 
para os intensivos cuidados da 
atrapalhação. 
A carruagem segue outro caminho. 
Alguém dormiu para longe do nosso 
acordar. 
Deslumbramento sabiamente ignorado. 
E no permanente conflito, 
o mundo da ignóbil humanidade 
espalha a vergonha sobre o sombrio 
abismo. 


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FUTUROLOGIA

 


A.M.

    What

    I

    Am


(simplesmente
uma razão 
com a permanente vontade 
de ser esclarecida)






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SECÂNCIA

 


E se um dia o poema 

deixar de viajar na tua 

rima

A preponderância da 

inoperância

não será somente 

Uma     questão     de 

ignorância 



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TENHO UM DEUS ACAMPADO NA ASNEIRA

 


Um mal maior num dó sem fim. 

Tudo escrito num 
sermão enviado pelo mais
mentiroso dos filhos da puta.

Não sou de pedra
Nem de cal.

            &
                    Isso 
                                Até não me faz 
                    mal.









,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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NEM SEMPRE A SOLIDÃO ADORA COMPANHIA

 


Fica-te mundo para cada vez mais 
longe do meu estar.

Este uivar de palavras mordidas, 
entalha na pele todo o nojo.
 
E nem os passos do solidário sorriso 
conseguem consolar a miséria do 
quotidiano.

Tenho saudades das pessoas 
felizes!

Nunca invejei aquelas gargalhadas.

Descalços, assim sempre 
caminharão os lamentos do tardio 
arrependimento ao encontro da 
derradeira despedida.





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DESCARADAMENTE A LIMPAR O AZEDO DAS MINHAS VIRTUDES

 


Despejei os macaquinhos do sótão.

Aluguei a paisagem à mentira.

Mudei as fraldas da fama, 
e ao terceiro tiro não falhado, 
comuniquei à assembleia das angústias
 previamente danificadas, os dados 
para o juramento a favor do divã 
da salvação celestial 
sabiamente diluída numa aquosa solução 
de ómega 3, comprovadamente infectada.

Dizem que Deus é grande. 

A estupidez ainda maior é. 

E este mundo nunca deixará 
de rodar num tempo cada vez mais 
ameaçador.



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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MEMÓRIA RALADA

 


Um fantasma impresso no meu
Sonho
Regista nos anos o gastar da
Lembrança.

Maldito mentiroso.

(Nem sequer desconta o tempo
Do desgosto que lhe entrego).

A vida não é fácil.

Mas sonhar será sempre o meu
Desígnio preferido.







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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A POESIA ADORMECE

 


Anjos vazios à boleia.

Liguei os ouvidos para a longa 
conversa.

Saquei palavras da velha cítara,
entrapei a pressa,
contando estrelas
na enseada da poesia.

À roda da fogueira,
onde a amizade não arde,
esperamos calmamente 
a brisa dos versos felizes.

Ainda há diálogos para iluminar 
caminhos.

Então a poesia adormece,
abrigada nos nossos corações.






,2020Jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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FALAM DE TI COMO SE FOSSES ALGUÉM

 


Tratam de ti como um animal tinhoso. 
Ajoelham-te para melhor conferir 
aquele número que nada vale. 
Chamam-te como se fosses alguém.
Enfiam-te no cu a esperança que
 nunca te ajudará.
Ai!
Que saudade deverias ter da coleira 
que tanto te amansou.
A ira medrosa abandonou a revolta, 
a troco de um formulário indecente 
que só a miséria prometia.
Navegas ondas de choro. 
Cavas lágrimas gritadas num compasso 
que já não tem dias para ti.
Obedeces a uma conveniência 
que encharca com morbidade, 
o lixo em que foste transformado.
Teclas no telemóvel da última geração 
a morte partilhada na rede social 
que aplaude o teu desespero.
Pensa nisso!
Mas, 
não percas tempo se não fores capaz.



,2020Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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COSMÉTICA DOS ORGASMOS

 


Embebedo-me com gotas do desespero 
na cidade dos exílios. 
Visto as cicatrizes
do penoso arrastar do passado.
Mandem-me um anjo rebelde
que acenda a luz da solidão.
Uma última brisa
um verso não farsante
mesmo uma lâmina na palma da mão.
Fugir sem rasto
para abraçar a noite que falta
à espreita nas ruas que não conheço.
Ofereçam-me um ramo de raízes obscenas 
Uma bandeira sem a cor da pele
um sorriso nunca esquisito 
um ouvido interessado 
poi, há longo tempo  
que nem comigo converso. 
A minha cabeça já não funciona. 
(dizem que tenho a mentalidade 
de um cogumelo fora de prazo). 
Neste caso
convém não agitar.
Bem-vindos à cosmética dos orgasmos




,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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DARK CLOUDS ROLLIN`


#DARK CLOUDS ROLLIN`#

Cá ando
Onde nunca aconteço
Oleado num desamparo 
Escondido
Como se a vida
Ainda fosse um
Dado adquirido.
Qual pássaro
  De andar sempre perene
Longe do voar
Dos dias felizes.
Nada sei daquele cartão sagrado
Onde os poetas costumavam
Ousar.
Que alma poderá habitar-me?
Não entendo
A voz que me escuta.
Não sei o que retribuir
A este abraço teimoso
Como se fosse 
Sempre honesto
O incómodo de ficar.
(dêem-me uma garrafa de “Bourbon”
para depois da meia-noite)






,2024Nov05_23,25h_aNTÓNIODEmIRANDA
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sexta-feira, 8 de novembro de 2024

RECOLHENDO PÉROLAS NO JARDIM DOS ESCOMBROS

 


Nenhuma esperança nesta barbárie 
sequiosa de tormentos
Onde se morre entre as bombas 
Bramindo de mãos abertas
A agonizante consolação
Para um 
Deus 
Sempre 
Vazio








,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 7 de novembro de 2024

ATÉ PORQUE DOS GRANDES NEM SEMPRE REZA A HISTÓRIA

 


Somente desejo cuidar da minha alma

Ronronar momentos calmos 
para perturbar o meu sossegar

Até porque…

Vai curta a vida 
muitas vezes iludida 
num chanfrado juízo 
 
E assim vai gingando o tempo 
fintando o quebra-cabeças da memória













,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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A LEI DE ISRAEL

 


Rende-te
Se queres continuar a 
morrer.

(Alguém lava a tristeza  
com o sangue do último filho).

Sons da desilusão 
observam a fria mortalha 
pendurada na porta do paraíso 
a entregar a derradeira valsa.

Nada mais importa!

A morte não precisa de heróis.

A morte recusa os mártires.






,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

A MESMA LÉRIA DE SEMPRE

 



Noites de cetim a pintar a espera.
Mas o sol, sempre escondido,
tardava tal acontecer.

A esperança sobrevive,
qual maldição,
nos títulos dos jornais.

Asas tristes continuam reféns 
do manto da miséria.

Expectativas traiçoeiras carpiam 
a morte da infalível partida.

Mas a esperança só tinha 
adormecido
numa tenda de papelão.









,2024Out_aNTÓNIODEmIRANDA
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A LEMBRANÇA DA TUA AUSÊNCIA

 


Cada vez nos entendemos 
menos.

Será esta a verdadeira 
pronúncia do fim.

Nada tens a dizer.
 
Compreendo o significado 
desse silêncio.

Está a chegar o tempo
de guardar na memória 
a lembrança da tua ausência.

Gostar de ti foi uma verdade 
que chegou 
a apaziguar-me

Mas...

Já nada encontro nessa 
importância.




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segunda-feira, 4 de novembro de 2024

PALAVRAS DE SABEDORIA

 


Talvez um poema abraçado
e Evidentemente um sorriso 
decorado com laços de ternura

Obviamente um beijo sempre 
elevado ao desejo 

Naturalmente um gesto sem 
artifícios 

Ocasionalmente aquele até logo sem 
o aroma da despedida ingloriamente 
danificado 

Possivelmente o tempo sem as horas 
conservadas na desilusão 

(Inegavelmente devastado)







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domingo, 3 de novembro de 2024

QUE RAIO DE FADÁRIO ME CALHOU

 


A indecisão sufoca o atrevimento
O medo ferra o pensamento
A angústia trucida a alma
A fome golpeia a vida
A morte não recomenda o azar

E nós por aqui 
virados de patas para o ar
à espera do costumeiro enganar

        Má sorte porque me 
saíste?
        Era para ser um 
acontecer irreprovável
        Sem ladrões nos 
governos
        E com o caldeirão a 
abarrotar de ministros 
        Era só uma ideia 
contente
        Pendurar aqueles 
matreiros 
        Na mais longínqua lua
        Até porque a corja da 
justiça
        Não quer escumalha 
dessa igualha



,2024Out12_aNTÓNIODEmIRANDA
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