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segunda-feira, 31 de maio de 2021

OS CHAMPS ELYSÉES

 


Os trapos esconderam os soluços do amanhecer que puderam finalmente dormir aconchegados em papéis de milho, velha memória dos gitanes que adorava fumar lá em Paris onde amparei lágrimas estúpidas que nadavam em formol climatizado debaixo daquela ponte onde enrolado no saco cama escondia o medo de estar sozinho num mundo que então eu pensava que tinha gente.
Paris não era um lugar qualquer. Tive sempre o desejo de a amar. Encostei-me sempre que pude aos seus encantos e na espuma do Sena no modo mais jeitoso fecundei a minha imaginação colorindo decalcomanias com um spray propositadamente tóxico para que os saqueadores do tempo não inflamassem as luzes que ocupavam o resto de uma oração que adormecia antes de mim. Paguei uma "demi" à roda do infortúnio e Grappelli discretamente agradeceu-me.
Naquele domingo fui parar à Notre Dame e o meu bom desempenho no Português conseguiu alguns francos que mais tarde em Montmartre entreguei a uma Edith com olhos tão vítreos que me fizeram acreditar que choramos juntos.
Mais tarde contaram-me que uma esmeralda percorria desalmadamente os Champs Elysées à minha procura.
Mas isso nunca teve nada a ver comigo.
Abraçava outras canções no Beaubourg.


,2016,04.aNTÓNIODEmIRANDA


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