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sábado, 28 de dezembro de 2019

Da Madalena Ávila

vou-te escrever uma carta
uma carta que não conta nada de ninguém
uma carta que te ouve  mar
para que tenhas atenção ao que é de ter atenção
escutaste o coração?
porque se o escutaste saberás do que ele te bateu
a existência
feroz
sem missivas nem céus a caírem-nos na cabeça
desfeita a linguagem das almas ergue-se numa flor
murcha a estrada é uma maçã que deseja a tua boca  a levantar-se peito
uma marca funda de tinta preta instalada nos músculos
atrofiados os gestos cantam lamentos sem fronteiras

é esta a carta violenta das pessoas que só querem pensar
sozinhas

não é esta a carta que te queria escrever
a carta que quero não se escreve

a carta é humana
e rasga-se no papel

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