E os árabes faziam perguntas terríveis
e o Papa não sabia o que dizer e as pessoas
corriam de um lado para o outro em sapatos de
madeira perguntando para que lado estava virado o rosto
de Midas e toda a gente dizia
Não em vez de Sim
Enquanto nos Jardins do Luxemburgo
nas fontes dos Médicis estavam
para sempre imóveis os
peixes dourados vermelhos grandes e os peixes
dourados brancos grandes
e as crianças correndo à roda do lago
apontando com o dedo e esganiçando-se:
Des poissons rouges!
Des poissons rouges!
Mas foram-se embora
e uma folha desprendeu-se da árvore
e a caiu no lago
e ficou à tona de água como um olho a piscar círculos
e depois o lago ficou muito
tranquilo
e só lá ficou um cão
sem fazer nada
na borda do lago
a olhar para baixo
para os peixes em transe
e sem ladrar
nem dar ao ridículo rabo nem
nada
de modo que
então por um momento
no crepúsculo do final de Novembro
o silêncio pendeu como uma idéia perdida
e uma estátua virou
a cabeça
“pictures of the gone world / trad. José Palla e Carmo
cadernos de poesia Dom Quixote 1972”
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