Que poemas poderei escrever, eu o miserável não arrependido, anónimo sobrevivente desta infâmia incólume, que queima a chuva que agarro com estas mãos prenhes de promessas inocentes. Alguém me valha no meu querer de não me salvar, com que humedeço lágrimas do céu que me agradecem o breve instante do arranhão onde guardo todos os beijos. Que escrevo eu, sonhador de tantos rebanhos? Amai-vos aos poucos com letras de sangue nestas palavras lambidas que escorrem pelo poema. Estado liquido, lacre queimado em todas as vírgulas, seladas gota a gota neste bico de bunsen.
Tenho nas mãos a bíblia da sobrevivência avariada, uma chamada nunca atendida, suspensórios ilusórios e uma fisga sem pontaria, amiga da rota de colisão. Embrulho-me na razão excluída, no hat-trick fora de jogo com trivela mal parida, bandeira ferida e olhos aos molhos vendidos como couves na mercearia onde os nabos não conseguem sacudir a água do capote. Câmara retardada, lente constipada, transformadas em bolas de Berlim, percorrem ano após ano o santuário onde os anjos não querem dormir. Ok, Marta! Já o tenho seguro!
E caminho com um jerrican de 5 litros.
Desculpa, já não me porto como dantes.
Longos dias têm horas indecentes, marés estupidamente teimosas e sonhos banhados em canelas açucaradas. Triste tempero em algodão hidrófilo, só para afinar os ponteiros do relógio que fugiu daquela feira.
Impulsos sonolentos não acordam os obstruídos mentais.
A noite cai neste mundo desabrigado com vidas de partidas choradas.
De nada servem os poemas.
E arrependimentos como habitualmente
sem significado, devem ficar na tecla do voltar atrás, como é nossa usual conveniência. Recostados no controle do saldo do cartão de crédito, amanhã iremos ser de certeza moderados no fútil consumo, respeitando assim um minuto de insolvência.
,2017,mai_.aNTÓNIODEmIRANDA
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