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quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

JOÃO ROIZ DE CASTELO BRANCO

CANTIGA, PARTINDO-SE
...
Senhora, partem tão tristes
Meus olhos, meu bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém,
Tão tristes, tão saudosos,
Tão doentes da partida,
Tão cansados, tão chorosos,
Da morte mais desejosos
Cem mil vezes que da vida.
Partem tão tristes os tristes,
Tão fora de esperar bem,
Que nunca tão tristes vistes
Outros nenhuns por ninguém.


in «Antologia do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende»,
org. de Maria Ema Tarracha Ferreira, Ulisseia, Lisboa, 1994.
João Roiz de Castelo Branco (séc. XV) foi um Poeta português palaciano. Conservam-se algumas composições suas no Cancioneiro Geral de Garcia de Resende. Fez parte da corte do rei D. Afonso V, tendo ocupado o cargo de contador, na Guarda. Celebrizou-se pela cantiga «Partindo-se» ou «Senhora, partem tão tristes», de carácter amoroso, e por uma glosa das Coplas de Mingo Revulgo, «Adonde tienes las mientes». A sua produção estendeu-se também a outros temas, como a presença portuguesa no norte de África ou questões morais relacionadas com o desprezo pela vida na corte, mais tarde retomado por Sá de Miranda. É notável a perfeição formal e a riqueza estilística de que deu provas noutros poemas também reunidos no Cancioneiro Geral, entre eles, «Mafoma, primo, senhor», «O gosto que me falece» e «Porque sempre em vos servir».

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