Lembro-me perfeitamente do senhor Custódio Elias, da sua enorme barriga apertada por uns suspensórios condignamente adequados ao perímetro evidenciado, e do seu habitual sorriso que constantemente fugia da sua boca. Estou a falar do melhor vendedor de frutas e legumes que até hoje conheci. Passamos algumas horas, eu, ele e a sua calma esposa, sentados na... cabine da sua carrinha de caixa aberta, com uma navalha um naco de pão e um queijo partido com todo o preceito. Discutíamos assim os planos para a máquina de lavar e secar caracóis profusamente publicitada na sua área comercial. Isto é: um terreno na estrada da praia.Com esta convivência, atrevia-me a pedir que me vendesse os produtos da pior espécie, perante o espanto dos outros clientes, mas ele logo os tranquilizava: isto é tudo da melhor qualidade, se não prestar é porque não era bom. Aqui está uma espécie de garantia, que nunca aproveitei. Era sempre festa quando nos encontrávamos. Tenho na memória a cara de espanto de um cliente, ao ouvir da boca do Elias o relato da minha ida da praia de Melides a Tróia, sempre a nadar. Ó compadre, dizia ele, este companheiro treina muito! Diga lá amigo Miranda, como é que é. E eu explicava: lá para os lados de Lisboa, treino todos os dias nos depósitos de Vialonga, e, só venho á tona para comer tremoços. Nunca nos cansamos de rir com a espera do barco carregado de moedas, que um dia qualquer iria aparecer na lagoa. Um acontecimento improvável, dado a carga etílica habitualmente apresentada pelo comandante, originando assim frequentes enganos na rota. (O gps ainda não era nascido).
Pago ontem, disse-lhe uma vez, Otto, o belgicano.
Olha! Olha! Com clientes assim, não tenho o trabalho de fazer a conta.
Acabo de ouvir a sua enorme gargalhada.
Um abraço, Elias, onde quer que esteja.
Pago ontem, disse-lhe uma vez, Otto, o belgicano.
Olha! Olha! Com clientes assim, não tenho o trabalho de fazer a conta.
Acabo de ouvir a sua enorme gargalhada.
Um abraço, Elias, onde quer que esteja.
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