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segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

DEZEMBRO E OS OUTROS TEMPOS

 



Ilustração Sandra Filipe





Ilustração: Sandra Filipe

Ilustração : Sandra Filipe



Ilustração : Sandra filipe

 




Ilustração : Sandra Filipe





Ilustração : Sandra Filipe






 
Ilustração : Sandra Filipe



















domingo, 22 de dezembro de 2024

FANTASIAS DE NATAL

 
Não sei se terei o tempo para ter o momento para te mentir no engano mais verdadeiro.
Nada sei de calendários com nomes estranhos que definem dias para vontades nunca apetecidas. Fico-me por Janeiro não por ser o primeiro mas porque Dezembro tem um calor que já não me aquece. Roubo figuras do presépio poupando-as assim ao desconforto de um choque eventualmente patético. Agora são cromos pousados num musgo com características normalizadas. Queimei assim as palhas para incendiar natais onde só isso faltava. Fingia a alegria imitando o olhar infeliz da criancinha e adormecia com a repetida frustração de mais um par de meias de duvidosa qualidade. Na manhã seguinte toda a gente sorridente mas nada era mesmo o nada e o resto nunca diferente. Os anjos de chocolate com asas deficientes, animavam o José e a Maria arrependida. O burrinho constipado, o menino cagado e alguém agoniado queimava incenso para disfarçar o cheiro da erva.



,2016,05.aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 21 de dezembro de 2024

PUTOS & MENINAS

 


Encontram-se em - “Gemes Sessions” 
Em Paris é diferente - Diz o intelectual inteligente
Trocam fotos de cores mentirosas – Prova evidente – De que os grandes fotógrafos estão mortos - Escrevem obedecendo a um manual de suposições cristalizadas – Nos intervalos entretém-se a bajular auréolas de um mau gosto narcisista – Chupam imperiais - como se fossem champanhe - e arrotam postas de pescada “low coast”  - e mal congelada Não falham a apresentação - e recitam a sopa de feijão podre - como se fosse um ex-libris da - “ciber-cu-linária”
Em Paris é que é bom - Mente o intelectual morcão - Pobre malária - Tão incultamente calcificada
Sempre preocupados com a sua ânus
“(h)ânus_orabilidade” - insurgem-se em grupo contra quem enferrujou a sua talha oxidada
Tende  - piedade - de mim
Eu que só sei - ser assim -  quieto - no meu modo sereno - rejeitando mortalhas sem qualquer sapiência
A história é um acto repetido
A pretensão é um dejecto mais que cagado
Estou fora - Devagar - Apressadamente devagar 
- Vagarosamente apressado - Só fico onde desejo – estar - Já não ouço tudo - E há muito que não entendo aquilo que não me - interessa - Vou assim
- Cortando curvas - Endireitando a estrada – 
Calmamente - Saboreando só a minha azáfama
- Porque o resto
- São putos e meninas


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 15 de dezembro de 2024

APENAS SONHAR

 


Apenas sonhar
com 1 verbo diferente.
Uma perspectiva aderente
à amplitude
do meu não estar.
1 Incómodo somente
a divagar num sofá
com o couro adormecido
pela minha constante
frequência.
Uma sensação habitual
tão estranha
como o tempo
em que não sou
presente.
1 Encosto repartido
encolhido
num grito distante
perto do tempo
onde caiem todos os lamentos.
Apenas sonhar
1 Verso
sempre presente
e um sorrir
sem préstimo algum
às vezes
como se fosse
Gente


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA
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AMY W.

 


No último degrau do sonho que deixaste, 
doí-me demasiado o não poder ouvir-te, 
e o meu coração é um copo de vinho 
que nunca molhou o teu penteado. 

O mundo sempre aborrecido, 
desprezou o teu olhar de sereia atrevida, 
navegando o tempo que não te quis merecer.
 
As boas estrelas voltam ao sonho, 
acompanhadas de um sax que grita ajoelhado, 
o tímido amor de só te quer beijar. 

No teu céu, estará à espera 
um cálice sempre cheio de saudade.

Aqui, vou rasgando aqueles aplausos 
que tanto te enganaram.







2017set_aNTÓNIODEmIRANDA
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FAHRENHEIT

 


A minha carruagem está a chegar.
Não me lembro de uma só vez em que esta 
cidade desse pela minha presença. 
Não pretendo o amanhã como outro dia.
Já não tenho tempo para coisas inúteis.
Deixo-vos essa angústia enquanto 
vou estrelar o céu.
Como é que estão?
Sentem-se bem?
Não acredito.
É melhor tomarem qualquer coisa que não 
deprima a hipótese do habitual.
Hey, baby.
Tardas em aparecer.
Tenho para ti as flores que roubei
 daquele pomar 
infestado de olhares curiosos, 
onde só queríamos esconder 
o destino da lua. 
Tínhamos sempre que fugir pela porta 
das traseiras, 
lambendo um chão conspurcado 
por uma lei que sempre ignorou o respeito 
que nos era devido.
Eram tão corriqueiros os sons das sirenes, 
que enrolávamos o medo
 em mortalhas cheias de nojo.
Tocávamos as mãos num azul que nos traía, 
e juntávamos os lábios com decibéis de 
fahrenheit (s) proibidos.


,2017nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 14 de dezembro de 2024

MANIAS DE UM NÃO POETA INEQUIVOCAMENTE MAL DISPOSTO

 


Retrato usado
A vida qual verme 
- hábil rasurador 
de currículos batoteiros

Há um olhar que me assassina 
uma língua maldosamente escalada 
só para atingir a impossibilidade
da minha razão

Desconheço o que fazer com tanta 
obrigação 

Cada vez que a tento matar 
ela foge como se fosse feliz 

Visto
esta capa de desilusão 
nas tristezas vividas 
que não sei reparar


,2023Dez01_aNTÓNIODEmIRANDA
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LISBOA LOGO À NOITE

 


Os candeeiros
já não dormem em sossego.

Não entendem
a linguagem das conversas
que entopem o ressoar
das sirenes da emergência médica.

Escorrem da salada dos shots
vómitos imbecis
que chutam para a rua
baratas tontas com piercings
enferrujados.

Lisboa,
é uma cretina visão
fedendo a uma loucura
sem ponta por onde
se lhe pegue.

Maldito jogo
destes matraquilhos batoteiros.



,2020Fev_aNTÓNIODEmIRANDA
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NA TRAIÇÃO DO SILÊNCIO



 A minha vida é um divórcio

Pé ante pé 
no cais de promessas falidas 
enterro o imaginário

Este começo sem princípio nem fim
deixa de tentar pintar pedras 
na memória

Na traição do silêncio
empenhei a última vontade


,2023Dez13aNTÓNIODEmIRANDA
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ILUSIONISTA

 


Mal         me 
                chamaste 
encerraram 
        as portagens 
do paraíso 

Um aceno machucado 
continua a cumprimentar
ausências



,2023Dez13aNTÓNIODEmIRANDA
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domingo, 8 de dezembro de 2024

A SOMBRA DE DEUS

 


Estranha linguagem falava de poesia no leilão das palavras sem letras. As metáforas foram desviadas para a secção do silêncio privado. Os lotes mais atrevidos secretamente consignados a troco de chorudos resgates. Há um ninho apodrecido pela ganância de habituais curiosos. Detesto personagens. Trago o mundo na malga das frustrações ilustradas pela coragem do monitor. Soluço moribundo. Lembranças destroçadas. Fobia estereotipada. Alma enforcada. Os livros ardem apressadamente. Fartaram-se das brincadeiras dos profetas curiosos. Fui sequestrado por um arco-íris. Na minha cabeça há um comboio de inquietações sem catalogação possível, escondendo visões numa maratona de demências. Janela insensata alucinações digitalizadas grito que afaga suavemente confeitos envinagrados argamassa roída coma esquelético ossos braseados cuspidos com todo o desdém por visionários do subúrbio, apalpando o êxtase das entranhas deixadas ao abandono nos insuspeitos mictórios do cinismo misericordioso. Panfletos contra a opressão das vidraças indigestas. Incógnito, o pianista de jazz iludindo o azar a duzentas rotações por minuto. Crepúsculo contemplando a cópula no caos do líder instantâneo, tatuada no prazo de validade da eternidade. Bactérias antiaéreas invadem vómitos frenéticos aplaudidos num bordel de virgens electrificadas. 
 Psicoestimulante colérico escravizado pelos embaixadores da maldade. 
A rosa enlameada das asas loucas oferecendo vazios sem fim. Diálogo de defuntos aquecido por velas cristalizadas com fragâncias da nojenta oligarquia do Kremlin. Pedófilos ainda não castrados regendo a ilusão. Confissão mágica emprenhando paixões distraídas acampadas no viaduto da burocracia. Caridade sinistra oferecendo exéquias requentadas a arcanjos desossados. Solidões nuas pregadas na cruz de onde fugiu um manequim que nunca aceitou a cegueira escrita na indecência dos boletins das submissões. Mentalidade absurda para podar cabeças empaladas em postes benzidos. De nada vale a pressa na prisão sem fuga possível. A cicatriz da viagem permanecerá violentamente intacta.
Na peça de teatro celebra-se a morte perante o aplauso complacente da sombra de deus.







,2023Dez06e7_aNTÓNIODEmIRANDA
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WD-40

 


Impávido mas não sereno 
no meio da circulação congestionada, 
já não aguentava a artrite 
nem as queixas da artrose.
Mudou de via e entrou religiosamente 
no posto de abastecimento.
Uma simples água das pedras 
temperada com abundantes salpicos 
do milagreiro WD-40, 
seria o suficiente para o aliviar.
Ligou o compressor, 
ajustou o volume, 
agitou a disposição 
e começou a ouvir a sua canção preferida.
O relatório das análises indicava 
uma substância incomum nas fezes. 
Pouco lhe importava!
Não fazia tenção de o mostrar ao médico.


,2017fev_aNTÓNIODEmIRANDA
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SE ESCREVEREM À MINHA TRISTEZA…

 


Não sei e não tenho vergonha.
É-me estranha a peçonha recolhida na palha onde aqueci estrelas não sintonizadas com a harmonia dos horóscopos. Não sei escrever um suflê da mais digna maneira que tanta canseira me produz quando desagua em offshores emporcalhados onde engordam panças geradas pelo suor do pobre. Não sei nada dos amantes ousados num script onde nada pintei. Não sei dar corda a este relógio que tanto me abusa e se recusa a lamber-me um só minuto de intervalo. Não sei de não gostar. Não sei sugerir opções contrárias a uma mania que acorda sempre na minha cabeça. Não sei fazer nada que não me apetece, agora que já posso silenciar o despertador com um tiro retardador dirigido pela  minha aptidão de não admitir interferências litigiosas direccionadas à minha alheia susceptibilidade. Não sei.. Não sei porque o meu cão deixou de gostar da ração. Não sei porque continuo a caminhar assim. Como se não quisesse magoar as águas do rio que corajosamente zela pela ferrugem da minha âncora. Não sei que horas tenho embora me tivessem prometido que isso seria uma questão de dias. Não sei que sonhos pintar agora que os segundos foram passar a noite na ópera. Não sei que lâmina usar para fatiar contratempos não convidados. Não sei. Procuro só os passos que me levarão ao encontro de um coração desclassificado.
Se escreverem à minha tristeza, por favor não lhe digam como eu me sinto.


,2016,04,08,03,30h_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 7 de dezembro de 2024

GÂMBIAS À LA PLANCHE

 


todas as cidades são distantes para esta mala de liga leve -  despachada no vagão J - em pequena velocidade
Na roda da alimentação da fome escondida -  sintonizo a alma numa onda mal frequentada  - cujo cheiro a Rexona -  faz-me pensar numa rima foleira
(esta ideia é patrocinada pelo equilíbrio estável - que a minha defeituosa acessibilidade permite)
Até dizem que tenho um coração de anona - mas não abandonarei nunca a sensibilidade - que invariavelmente me encaminha para uma travessa recheada de perceves.


,2020Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
poemanaalgibeira.blogspot

MAP - Mostra de Artes da Palavra está em Templo da Poesia. 29 de novembro às 15:23 · Oeiras · 𝑪𝒂𝒇𝒆́ 𝒅𝒐𝒔 𝑷𝒐𝒆𝒕𝒂𝒔: 𝑬𝒔𝒑𝒆𝒄𝒊𝒂𝒍 𝑵𝒂𝒕𝒂𝒍 ~ 17 𝑫𝒆𝒛𝒆𝒎𝒃𝒓𝒐 𝑐/ 𝑙𝑎𝑛𝑐̧𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜𝑠 𝑒 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑣𝑒𝑛𝑐̧𝑎̃𝑜 𝑝𝑜𝑒́𝑡𝑖𝑐𝑜-𝑚𝑢𝑠𝑖𝑐𝑎𝑙

https://www.facebook.com/oeirasmap?__cft__[0]=AZVDX7zKSUJFYj1xE_LQz7x7ibogIyCg7sc6C6QbtAXYnvpLfM30mAwy51548qEPUSifofQkhVxisql4I8BoQV6IWeg_p913PGQnf9HvRcRmh34kFZjbUyjkKd7QXYwcTuiFgixANZiErVICTvG7n8C48zLiXafePZbLLKXTEvHgNn-NIVeRPpBBT63eYPy0wZtA9wYU5YJlQnGkYjCIs32B&__tn__=-]C%2CP-y-R 


𝑷𝒓𝒐𝒈𝒓𝒂𝒎𝒂
𝐿𝑎𝑛𝑐̧𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑠 𝑙𝑖𝑣𝑟𝑜𝑠
_ ‘𝐷𝑒𝑧𝑒𝑚𝑏𝑟𝑜 𝑒 𝑜𝑠 𝑂𝑢𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜𝑠’ 𝐴𝑛𝑡𝑜́𝑛𝑖𝑜 𝑑𝑒 𝑀𝑖𝑟𝑎𝑛𝑑𝑎
_ ‘𝐷𝑒𝑣𝑖𝑎𝑠 𝑀𝑢𝑑𝑎́-𝑙𝑜𝑠 𝑂𝑛𝑡𝑒𝑚 𝑑𝑒 𝑃𝑙𝑎𝑛𝑒𝑡𝑎’ 𝐺𝑎𝑏𝑟𝑖𝑒𝑙𝑎 𝐿𝑢𝑑𝑜𝑣𝑖𝑐𝑒 
_ ‘𝐼𝑚𝑝𝑜𝑠𝑠𝑖́𝑣𝑒𝑙 𝐷𝑎𝑑𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑆𝑎𝑛𝑔𝑢𝑒’ 𝑚. 𝑝𝑎𝑟𝑖𝑠𝑠𝑦
𝐶𝑢𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟𝑖𝑎 𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑒𝑠𝑒𝑛𝑡𝑎𝑐̧𝑎̃𝑜: 𝑀𝑖𝑔𝑢𝑒𝑙 𝑀𝑎𝑟𝑡𝑖𝑛𝑠 
𝑃𝑜𝑒𝑠𝑖𝑎: 𝑀𝑖𝑔𝑢𝑒𝑙 𝑀𝑎𝑟𝑡𝑖𝑛𝑠, 𝐽𝑜𝑠𝑒́ 𝐴𝑛𝑗𝑜𝑠, 𝑁𝑢𝑛𝑜 𝑀𝑖𝑔𝑢𝑒𝑙 𝐺𝑢𝑒𝑑𝑒𝑠, 𝑃𝑎𝑢𝑙𝑎 𝐶𝑜𝑟𝑡𝑒𝑠, 𝑃𝑎𝑡𝑟𝑖́𝑐𝑖𝑎 𝑅𝑒𝑙𝑣𝑎𝑠 
𝑀𝑢́𝑠𝑖𝑐𝑎: 𝐿𝑢𝑖́𝑠 𝐵𝑎𝑠𝑡𝑜𝑠 𝑒 𝐹𝑖𝑙𝑖𝑝𝑒 𝑉𝑎𝑙𝑒𝑛𝑡𝑖𝑚
𝐸𝑠𝑡𝑒 𝑒𝑣𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑐𝑜𝑛𝑡𝑎 𝑎𝑖𝑛𝑑𝑎 𝑐𝑜𝑚 𝑜 𝑎𝑝𝑜𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝐴𝑠𝑠𝑜𝑐𝑖𝑎𝑐̧𝑎̃𝑜 𝐿𝑢𝑐ℎ𝑎𝑝𝑎. 
🗓️Dia 17 Dezembro às 21h30
📍Templo da Poesia (Oeiras)
Co-produção: @municipiodeoeiras
Apoio: @bibliotecasmunicipaisdeoeiras



E QUE A BELEZA NUNCA NOS ABANDONE

 


Rogai por nós
Anjos falidos pecadores 
não arrependidos 
profetas da solidão.
Só vós sabereis os infindáveis desígnios da beleza 
as mentiras em nome dela pintadas 
e porque não a gloriosa malvadez das suas promessas.
E vós deuses da decadência que nos amola 
tirai-nos deste abandono 
orai pelo infinito da nossa indignação 
não dos deixeis cair nesta insistente batota  
nem na paixão que nos atormente.
E que a beleza nunca nos abandone.


,2022dez_aNTÓNIODEmIRANDA
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BEIJOS À LA CARTE

 


Beijos para as manhãs que não prometem dias mentirosos
Beijos para os que danificam inquietudes matreiras
Beijos para as circunstâncias verdadeiramente importantes
Beijos para os que fazem companhia aos sagrados silêncios
Beijos para os anúncios deixados nas paredes dos wc
Beijos para os que inventam paixões assolapadas
Beijos para as solidões gloriosas
Beijos para os frequentadores das conclusões não sóbrias
Beijos para os amantes ofendidos
Beijos para a punição das consciências sifilíticas
Beijos para os náufragos dos paraísos artificiais
Beijos para os que nos momentos desabrigados 
ainda teimam em oferecer cardumes de felicidade
Beijos para os vagabundos celestiais
Beijos para os colóquios nos velórios
Beijos para as fantasias ousadas
Beijos para os abandonados
Beijos para os azarados
Beijos para os excomungados da sorte
Beijos para os exagerados do infortúnio 
Beijos para os prazeres húmidos
Beijos para os autoclismos não avariados
Beijos para os orgasmos imaginados
Beijos para a importância da não importância
Beijos para os olhares perdidos nas avenidas solitárias
Beijos para os exilados da virtude
Beijos para os desterrados da ignorância
Beijos para a sabedoria do Google e dos Downloads
Beijos para as surpresas raramente inesperadas
Beijos para as janelas indiscretas com segredos mal guardados
Beijos para os futuros inventados
Beijos para os clandestinos
Beijos para os que dizem mal de tudo porque são mesmo parvos
Beijos para os que rejeitam a cretinice aguda
Beijos para alguns pés descalços
Beijos para o deslizar das sandálias ortopédicas
Beijos para os gemidos envergonhados
Beijos para as gloriosas pívias batidas ao ritmo do “Trik Trik” quando ouvíamos o “Goodbye my love goodbye” do enorme Demis Roussos
Beijos para os filósofos anónimos sem explicações complicadas
Beijos para a justa causa de matar a perversidade da justiça
&
Abraços para os que ainda se dão ao trabalho de se lembrarem de mim


,2021Dezembro_aNTÓNIODEmIRANDA
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sábado, 30 de novembro de 2024

NAQUELA NOITE E NOS PESADELOS SEGUINTES

 


Nos tempos com asas para o fim  voa 
distante o caminho do amparo nem sempre 
com elevados índices de consideração. 
Dizem impostor este teimoso capricho do 
acordar.
(Quem me dera a mim outro mundo neste 
fraco viver). 
Certos futuros nunca caberão na minha
bossa.
Guerreiros desleixados combatem a 
velhacaria do destino.
Dizem-nos muito bons. 
(eu é que não tenho jeito para gostar 
dessa merda). 
A paciência que exibo mudou de capoeira. 
Um homem não treme 
(ideia estupidamente absurda) 
do bobo do leme. 
Olá musas desencantadas. 
Deixai de andar desvairadas à procura 
do enfermo remo. 
Ai agora é que  tremo qual rena 
num trenó na atarefada entrega da nostalgia.
Ó besta quadrada  tendência desembestada
(árdua missão naufragada 
num impiedoso autoclismo), 
quando deixarás de importunar o peluche
que precisa de exílio? 
No caminho da memória 
escondo as fraldas da lucidez 
limada num ribombar ensurdecedor 
que atrapalha o ânimo que me entende.

                                        Mas não é esse a essência que procuro.


,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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NÃO TE IMPORTES QUE EU UM DIA AINDA IREI SER FELIZ

 



Desolei-me na última lágrima 
no vale dos encantos sem fim.
Ginguei a noite feliz 
naquele fugaz instante 
onde as mentiras repousam 
no perdão dos sonhos dourados.
E no colo da solidão, 
reguei a angústia habitual 
com o trago azedo dos abraços da 
memória.
  Depois o presente 
embrulhou o futuro 
com os mais elevados golpes 
de consideração e estima, 
e pendurou-os  no mastro dos laços 
purificados.







,2024Nov30_aNTÓNIODEmIRANDA
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PROEZA ABENÇOADA

 



É bem verdade que não pinto essas 
fantasias 

Agito sentimentos mesmo sabendo 
alguma coisa das promessas que 
oferecem (só para ti) 
vozes que nunca se irão cansar 
de regar esse nome no desvão 
dos dias sem memória

(dói sempre o desencanto da 
carência) 

Continuo a admirar a benevolência 
das flores que invejam esse feitiço

O futuro zarpou 

Desistiu da última viagem

Viajantes solitários 
falam agora das noites que não 
conseguem dormir



,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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POR VEZES A MINHA MENTE DIVAGA

 



Interceptado por uma 
patrulha de 
“camisas sem mangas” 
no IC-19



(acerca do congestionamento 
sexual numa casa de 
amizades lá para os lados de 
Massamá)






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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O HABITUAL GRANDE DESASTRE DA COVARDE HUMANIDADE

 



A bandeja de Bombas 
Disfarçadas             de 
Bombons da Salvação 
Armadilhada 
Aguarda                     
Disponibilidade             do 
“Directo da tv” 
Com                         Imagens 
Chocantes 
Susceptíveis             de 
Sensibilizar 
Mentes Hipócritas






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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PARADA DOS PATETAS

 




Tu     que     tens     

cordão de enforcar

 
    A         quem 

                    compraste     tal 
        
                    condão  

                            Para 

 bem     dos     nossos 

falhanços? 






,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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DEPOIS DA MEIA-NOITE TODOS OS SONHOS SÃO PARDOS

 



A Coisa Mais 
Importante 
Antes de Nascer?


                                Não Ter 
                                Perguntado 
                                Pelo Amor 
                                Deste Morrer







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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VIVE EM MIM UMA TRISTE EMOÇÃO

 



Sem lágrimas para distribuir

Apenas uma ideia absurda

Nenhuma palavra razoável


            Porque cheira a 
            Míssil 
            Aquilo que deveria 
            Ser 
            
            Sorriso 
            Da 
            Esperança? 







,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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MAS AGORA VIM EU AO MUNDO PARA ME CHAMAREM POETA?

 


Respeitem 

De Uma Vez 

Para Sempre 

Esta Nunca 

Fingida 

Indignação




,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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CÁLICE DE BENZOVAQUE

 


Aconchegou as brasas á 
ossada

Lubrificou os sonhos

Abençoou a determinação

Beijou o cálice

E esperou calmamente 

A chegada da ilusão

(A realidade fora daquela 
janela 
há muito que deixou de o 
cativar)








,2024Nov_aNTÓNIODEmIRANDA
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Amy Winehouse - You Know I'm No Good

terça-feira, 26 de novembro de 2024

SONHO - TE

 



Sonho - te

Dentro - de - mim

Como se a v e r d a d e

Fosse esse momento

,2021Novembro_aNTÓNIODEmIRANDA
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FEBRE VAIDOSA

 

Tens o perfume dos anjos.

A minha única riqueza 
é a lembrança da tua pele, 
qual templo de ameixa, 
flor que engana o desejo.

Sonho-te num vale de amoras,
amaciado na febre vaidosa do teu sexo.

,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA










domingo, 24 de novembro de 2024

SEMENTES APODRECIDAS

 


Mais de mil amantes espalhados pelas ruas, 
rezam poemas sem ninguém para os entregar. 
Escondem na sarjeta, desgostos malvados, 
distribuídos na novena do entardecer amolecido. 
Varrem do céu, as luas da solidão, 
e, já nada esperam
 dos ruídos dos cinzentos subúrbios. 
Pedem-lhes para acreditarem no amanhecer 
que confortará
 a violência com que sempre se deitam. 
Fingem pintar o azul do nó que aperta a vida, 
e, sacodem na corda bamba, um choro rouco.
Mais de mil amantes, 
enterram sementes apodrecidas 
na terra da esperança mentirosa.
Destroçados, 
procuram um sangue não santificado, 
um único abraço, 
mesmo que finja a verdade.


,2019nov,10_aNTÓNIODEmIRANDA
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ACDC & The Rolling Stones - Rock Me Baby

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

A CONDIÇÃO DO POETA

 


Andamos para aqui a sarapintar vírgulas num papel qualquer.
Sabes, os poetas não têm uma fama lá muito aconselhável.
Há quem diga que têm na alma um teclado de uma máquina de escrever. 
E não são muito rígidos na escolha das palavras adequadas.
Às vezes pintam imagens estranhas, como se falassem com elas.
Abusam constantemente nas cargas etílicas.
Têm sempre uma pressa urgente.
E lavam pouco os pensamentos.
Enfeitam com um laço as ilusões,
ouvem outras vozes frequentemente
e são geralmente doidos por um par de asas.
São singelos na leitura de cartografias,
aparecem tímidos nas fotografias,
e passam muitas tardes a corrigir epitáfios.
E beatificamente despedem-se com a bênção habitual:
Que deus vos acompanhe,
porque eu já não sei o caminho.
Aqueles, ditos subversivos,
apostam sempre na barata tonta,
e lisonjeiam com desdém matraquilhos curiosos
que vomitam sílabas mal cheirosas.
Os poetas não são assim,
mas também nunca poderiam ser o contrário.
Têm ritmos de alquimia,
e, sentados, tentam colorir outro cenário.
Pensam que falam como as pessoas,
discutem amiúde anatomias sintéticas,
descansam os olhos com atitudes patéticas, e sorriem como se fizessem parte do mundo.
Cultivam simpatias incompreensíveis,
dão longos passeios envoltos num manto de nevoeiro, chamando alguém em forma de estátua, de Sebastião.
Odeiam parapeitos supersticiosos, e escorrem por uma corda fictícia até pisarem os pés da lua.
Dois poetas nunca se encontram, 
mas abraçam-se com um código secreto, 
e sabem de cor a maliciosa palavra-chave.
Os poetas têm importâncias não definidas,
e sangram como crianças,
pelo poema que nunca poderão escrever.
Vivem em forma de tempestade, 
o tempo que constantemente lhes foge.
Cavalgam como um puro-sangue, 
mas enganam-se sempre na corrida.
Sabem que não há futuro na poesia,
mas, enquanto poetas acreditam 
na sua eventualidade.
Há quem diga que não são normais! 
Até mesmo difíceis!
Têm sempre um copo na mão,
Donde bebem sessões contínuas de dignidade.
Nunca renegam a condição de ser poeta.



2016_aNTÓNIODEmIRANDA
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A NAVALHA



 A beleza passava sempre ao lado. 
No bornal da fome, 
ilustrado com fotos da terra dos sonhos caídos, 
vadiava a angústia de todas as horas. 
Martelava a saudade no banco
 da estação de Santa Apolónia, 
e escondia o regresso no miolo da broa, 
tão dura como a sua solidão. 
Sabia de cor todos os horários, 
que um bilhete certa vez sonhado
 no único sono bonito lhe prometera.
Na camarata, lia às escondidas, 
postais tristes que nunca teve coragem 
de meter no marco do correio.
A manhã seguinte, 
era o único castigo que o mantinha por cá. 
E a navalha, 
a sua fiel companheira,
 só se deitava após o seu adormecer.
Na enxerga, 
nunca houve lugar para sonhar.





2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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CRÓNICAS DE VILA CHÃ ANTUNES, O MOCHO (PENSAVA QUE NÃO VOLTAVAS)

 


O mocho de todos estes Setembros, 
voltou.
Está na árvore de sempre, 
agora com galhos queimados.
Há muito que decorei o seu cantar. 
Sei que é ele. 
Esconde-se da minha curiosidade 
na sombra das estrelas, 
que só neste lugar iluminam o céu. 
Vai e vem, neste sossego 
fora dos barulhos da cidade podre. 
Fala-me com o breve instante 
que a sua liberdade permite.
A noite é um lugar com muitas asas.
Há 37 anos que nos encontramos.
Sem compromissos.
Sem os avisos prévios das despedidas.
Apenas com o adeus que nunca 
nos separou.
Agora, como de costume, 
vamos dormir no ninho dos 
sonos encantados.


2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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A MÚSICA ESPECIAL

 


O rosto do espelho não vai parar.
Uma festa 
espera por mim
no lado que fugiu.
A gota na janela não vai cair
no sono que me afunda.
Um som muito suave
que não quero escutar,
abraça um longe,
que anseia  voltar para os  meus braços.
Diz que está cansado de andar nesta luz,
e agora só pretende dançar no fogo,
a música especial.







2018Set_aNTÓNIODEmIRANDA
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EM MODO TESTICULAR

 


Não somos nada!

Nada valemos!

Dizem um para o outro,

olhando pessimamente para aquele 

pedaço inerte.


Não sei porque nos abandonou!

Exclamava o menos conformado.




2018Mar_aNTÓNIODEmIRANDA
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EM SINAL DE TODO O RESPEITO

 


Gostaria que o teu perfume, 
não tivesse a marca de um despejo 
de recordações.
Não sou bom, e admito-o, 
nesta colecção árida de intenções confortáveis.
Não sou bom no acariciar 
dos cuidados intensivos, 
quando enterro a minha alma nesse lugar.
A minha médica, 
sem nada de mim compreender, 
manifesta um apoio que considero 
deficiente, mas nada de melhor pode fazer.
E, em sinal de todo o respeito, 
snifo as cinzas das suas receitas.
Poderia dar-lhes outro uso!
Mas a rigidez do papel, 
poderá causar-me hemorroidal.







2018Abr_aNTÓNIODEmIRANDA
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AQUI NÃO HÁ ESTRANHOS

Está tudo agora tão preso neste jardim.
As palavras brincam de pedra em pedra 
e regam flores
num jogo de cabra-cega.
Acedem-se velas
queimando cartas 
para incendiar vudus.
Alegres coros
celebram jubileus fora de horas.
Aleluias passeiam de bicicleta
carregando pintassilgos para chilrear
nos caminhos das manhãs perdidas.
Lamentos com a corda na garganta
oferecem gargalhadas embrulhadas
em pacotes de amendoins.
Jura-se um choro eterno
que será ardido
no crepúsculo cristalino
dos dias com encomenda especial.
Aqui não há estranhos.
Simplesmente ninguém
quer ser conhecido.




2016,11aNTÓNIODEmIRANDA
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AFINAL NÃO SOU ATEU!

 

Afinal não sou ateu!
Acredito piamente em mim.
Não sou fã da solicitude nem de escrotos 
entupidos por falta de amparo. 
Gosto das fagulhas que desentopem 
qualquer esperança digna desse nome.
Claro que no que toca a sexo, 
ainda não dou a vez a ninguém.
Retoca-se assim a intenção 
e varejo as ideias que nico, 
como se fosse os mais bem-educado 
dos mamíferos. 
As alvíssaras repousam delicadamente 
em fotos post mortem, 
à procura de melhores épocas.






2016,08aNTÓNIODEmIRANDA
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A BELEZA É UMA ACTIVIDADE INFLACIONÁRIA

 


Odeio círculos viciosos.
A traição poderá estar na esquina.
A beleza é uma actividade inflacionária.
Os curandeiros Filipinos respiram 
essa convicção.
A agência France Press 
e o conceituado Der Spiegel
pelo contrário, respigam a ideia 
da pobreza penetrada 
de um positivismo apostólico, 
admitindo um neopaganismo europeu.
O Vaticano, preocupado, 
manda chover adereços progressivos, 
escamoteados na psique da metafísica, 
que nos dirigem à penúria.
O mundo é feito com demasiadas pessoas 
desprevenidas.
Os ataques acontecem.
Os presidentes reúnem-se 
em gabinetes de crise
previamente concebidos. 
Isto é, supostamente sem o pecado original.
Distribuem-se condolências escritas 
em cartões cinicamente impressos.
Como não conseguem resolver 
a sua inutilidade, 
vingam-se nas sanções impostas 
aos outros países.




Melides,2016,07aNTÓNIODEmIRANDA
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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

EU ESTIVE LÁ

 


Santos alternativos 
procuram outras opções.
O resto é melhor do que nada, 
diz a fome para o desperdício.
Busco um abrigo, 
mas os tempos já pesam demasiado. 
Vivo numa tempestade que contempla 
o futuro estagnado num cais do metropolitano
 pejado de sorrisos injectados. 
Ignoro o painel de azulejos com nomes 
cuspidos pela indiferença. 
Eu estive lá, 
nos lugares agora sujos. 
Eu vi as palavras que mancharam. 
Eu cheirei na pele a agonia 
da mais ínfima probabilidade. 
Eu ouvi as façanhas dos cobardes 
relatando a mutilação da dignidade.
Mas, 
Eu só tinha 14 anos, 
e, 
assim aprendi, 
que o nojo não deverá nunca ter idade.






,2020Julho_aNTÓNIODEmIRANDA
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