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segunda-feira, 29 de agosto de 2022

L(Imitação)

 


PARA QUE CONSTE ! A importância aqui, é mesmo relativa.


  1. DETESTO AS PESSOAS QUE CONSTANTEMENTE PEDEM DESCULPA. ESSAS SÃO AQUELAS QUE NORMALMENTE REPETEM A ASNEIRA.
  2. ESTOU FARTO QUE ME OFEREÇAM AQUILO QUE NUNCA ME PODERÃO DAR.
  3. NADA PEÇO A UM RICO. A DIFICULDADE QUE ELE EM DAR A MINÍMA COISA, É INFINITAMENTE MAIOR QUE A MINHA NECESSIDADE DE RECEBER.
  4. SIM ! CLARO QUE SOU DIFERENTE ! TENHO GASTO ESTE TEMPO A ALIMENTAR ESTA IDEIA. NUNCA CONCEBERIA A MINHA EXISTÊNCIA DE OUTRA MANEIRA.
  5. ÀS VEZES FINJO NÃO OUVIR. QUASE SEMPRE NUNCA ESQUEÇO. E A QUEM ME PEDE DESCULPA, SEMPRE RESPONDO : NÃO SE PREOCUPE, ISTO NÃO SE VAI REPETIR.

2014.antóniodemiranda

CINESCÓPIO

 

Se 

Sou 

Sempre 

Mau 

Da 

Fita

É 

Melhor 

Mudar 

De

Realizador 

,2020Ago_aNTÓNIODEmIRANDA

volta d' mar está em Nazaré. 29 de agosto de 2021 · 10 ANOS | 2018.06 Vigésimo primeiro livro publicado pela volta d' mar SÓ ESPERAVA A VIAGEM PROMETIDA de António de Miranda com capa de Inês Ramos

 



Bom dia!


 

DESPEJO ABRAÇOS NA LUA DOS SEUS OLHOS

 

São 4 da manhã.
Digo um até logo aos livros. 
Está na hora de acalmar um passado ansioso, 
o futuro da esperança duvidosa, 
e , 
diluir gentilmente
a subtileza
no copo da tristeza
cansada de mentir
opções requentadas.
Está na hora de me esconder no tapete 
dos voos sem fronteiras,
e aconchegar-me nos lençóis 
que me contam histórias dos amigos que partiram, 
e que continuam a deixar prendas nos meus cabelos cinzentos.
Despejo abraços na lua dos seus olhos, 
só porque o que nos aproxima, 
ainda dorme no relento da torre da amizade.

2019ago_aNTÓNIODEmIRANDA

Fábrica de Alternativas. 7 de Agosto. Com os SEC'ADEGAS. Foto do André Clemente.

 




Tomaz Miranda



Tozé Salomão







MEMORY

 

Não tenho a faca não gosto de queijo, só uma colecção de corta memórias fatiadas. Facadas em todas as costas cozinhadas em tons gourmet. Alguém sentado à minha direita, isto é do lado errado, mostra-se num ângulo cego, atropelando-me a marcha atrás. Dizem por lá que poderá ser bom rapaz. Mas continuo a não atinar com a mudança. Estou empanado! E tenho a plena consciência que não sou capaz. Só me apetece uma corrida a mil sem hora convenientemente anunciada no Borda d`Água. Na sessão da meia- noite, ressona na poltrona o filme da minha vida. Por vezes, e para não o acordar, chego a pensar num outro realizador. Mas, as discussões abertas à definição da minha probabilidade continuam a não me dizer respeito. Não me apetece mudar de inventário. Dispenso esse trabalho. Contudo irei avisar a bilheteira para proibir o consumo de pipocas com sabor a desodorizante.
Contrariamente ao que é publicitado, esta acção em nada dignifica a desinfestação do mau hálito.


2016,12aNTÓNIODEmIRANDA


domingo, 28 de agosto de 2022

MINUETE

 
Não é justo que todos os outonos 
lavem as paixões tardias transformando-as, 
com a sua pressa de inverno, 
num qualquer instante inacabado. 
O que faremos às palavras nunca ditas, 
gravadas na almofada 
onde dorme o sonho nunca lembrado?
Navegam elas num ventre lasso, 
com botas que lambem 
uma estéril melodia rasgada com voz de lâmina. 
Dançam agora marionetas, 
minuetes num impulso quebrado.

Vou errando.
Ouvindo lamentos bulidos pelo vento. 
Não me é estranha a sua angústia.


.2015aNTÓNIODEmIRANDA 


sábado, 27 de agosto de 2022

UM PEQUENO QUARTO A ABARROTAR DE PENSAMENTOS

 

Arrotar a bafio.
Azedar o acordar que cospe na vontade.
Tenho que sair daqui.
Abandonar este destino amarrotado,
até porque os anjos, 
já não reconhecem a minha assinatura.
Ouço as suas vozes que
nunca secarão as lágrimas 
que rolam na minha cabeça.
Carrego um corpo grafitado,
num delírio ronhoso que não assassina
a mórbida curiosidade dos observantes.

Se acredito em deus?

Tenho a certeza que ele 

não se importa com isso.


,2021Agosto_aNTÓNIODEmIRANDA


GOSTAR QB




Não me interessam as intenções
Nem as instruções
para um comportamento normalizado
Nem os manuais
Do conhecimento especializado !
Delas, está o meu forno cheio.
Gosto das boas palavras
Das boas ideias...

Não gosto de conselhos
Só admito sugestões !
Gosto dos factos
E das suas consequências
Detesto a imposição das soluções !
Gosto de pensar
Que vale a pena ser optimista
Gosto da sedução
Do presente sem chão
Do futuro preocupado em vão
De dizer mal QB
Que me tratem por você,
Dando a isso a devida importância.
Gosto
De quem eu não gosto,
Continue a não gostar de mim !
Do que é que eu ainda mais gosto ?
Se não se importam,
Isso fica para mim.
… Como diz a minha amiga Ana Tecedeiro :
Não ando por ai a dar poesia de borla.
Nunca se sabe como vai ser
O dia de amanhã
.


2014.aNTÓNIODEmIRANDA

SEM RESSENTIMENTOS

Não presto muita atenção ao mundo.
Ele, um velho conhecido,
faz-me igual favor....

Sintonizo o Jack,
saboreio o Daniel`s
e entretemo-nos com conversas amistosas.
Penteámos memórias,
rimo-nos de algumas histórias
e despreocupadamente observamos
as varizes que o tempo nos vai oferecendo.
Tenho menos cabelos no peito,
embora saiba que alguns foram deixados a preceito.
Queimo neste devagar,
fotografias nada interessadas
neste desfilar de recordações.
E um velho,
tão usado como eu,
entrega-me discretamente
cigarros com sabores
que continuo a gostar.
Este mundo é um lugar
cada vez mais escondido
e eu continuo a desejar
ter outros atractivos.
Desligo-me.
Não presto muita atenção ao mundo.
Ele paga-me com a mesma moeda.
Ficámos quites nesta penúria.
Sem ressentimentos.


,2017ago_aNTÓNIODEmIRANDA

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

POR FALAR DE IMBECIS...

 


Os Meus tios : Maria José e Jorge Faria.

 


O MANUAL DE INSTRUÇÕES

 

O pai não pode dançar. 
O nó da gravata, tropeça na azia. 
Correu-lhe mal  a faloplastia. 
Tantos passos causam-lhe embaraços. 
A mãe, atenta, só o vê pelo canto do olho. 
A panela ferve ao lume. Vazia. 
O caracol comeu todo o repolho. 
O herbicida tornou-o zarolho. 
O LP está furado. 
Tem um risco maior que o meio. 
A música salpica as paredes, 
tentando animar 
uma osga concretamente surda. 
O gajo de cima com a voz de castrati, 
grita a plenos pulmões. 
Está a testar o novo vibrador. 
Não sabe inglês. 
Não compreende o manual de instruções. 
Pouca vergonha. 
Ácaros pedrados. 
Não fui eu que lhes dei os charros. 
Por favor, quando tiverem tempo,
tirem-me deste filme.

.2015aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

"O POETA NUNCA DIZ QUE É POETA" (nota do Senhor Levi Condinho)


 


Depois deste poema, o tal que é para o senhor Ferlinghetti, só posso exclamar: “Bolas”, finalmente há um poeta que não se arma em pavão de leque aberto… Não vou citar nomes, a lista seria longa, mas poetas, ou poetastros como eu, rebentando de vaidade, cujos umbigos mais se pretenderiam rivalizar com as estrelas, houve, há e haverá muitos. O problema é que não vislumbram que o poema – e nada a obstar – não passa de uma punheta, sim, uma punheta, com mais ou menos semente deitada à terra, como a deitou ostensivamente o bíblico Onam, que ousou desafiar Deus contra a norma da procriação… Foi um herói-anti-herói, portanto, não me venham denegrir o onanismo, tão cúmplice do que é ou se apregoa como poesia…








Seasick Steve - Dog house boogie

Anjos no Céu - Chris Rodrigues e a Senhora da Colher

Ennio Morricone - For A Few Dollars More | Luca Stricagnoli | Fingerstyl...

the heymacs - Hit The Road, Jack

Boney M. - Rasputin (Sopot Festival 1979)

BONEY M. – Daddy Cool (TVE Esta Noche Fiesta 11.01.1977)

Boney M. - Ma Baker (Sopot Festival 1979)

Los Bravos - Black Is Black (FELIZ AÑO 1967 (ACTUACIÓN TVE))

Pop Tops - Mammy Blue (Especial Fin De Año 1971 (TVE))

Salvatore Adamo - Inch Allah.avi

Das melhores coisas que me aconteceram! Obrigado abraçado, Miguel Martins.

 


domingo, 21 de agosto de 2022

“PEACEMAKER”


Gostaria de mostrar que não há nenhuma
marca de pedra no meu coração.
O “peacemaker” estava errado,
o aparelho cansado
e a prova de esforço correu desenfreada.
Tive todo o cuidado,
a educação atempadamente esmerada,
mas como sabes,
há muitas coisas a que não ligo nada.
A morte é a única divindade que me atende.
Não quero desventrar anjos inocentes.
Até porque há ainda tanto filho da puta para morrer.
Para esses, tenho para entrega imediata,
arritmias em óptimo estado de conservação.
(Portes pagos pelo destinatário).

nb: não atendo números privados




.2015aNTÓNIODEmIRANDA

Jimi Hendrix - Hey Joe (Live Monterey Pop)

Chuck Berry, Eric Clapton, Keith Richards jam

NANCY SINATRA * bang-bang (my baby shot me down) -1967

Nina Simone - Sinnerman

sábado, 20 de agosto de 2022

PRÓXIMA PARAGEM

 

Às vezes vou 

volto. 


As demais, 

fico lá perto. 



,2022Ago_aNTÓNIODEmIRANDA


ADEUS DEFINITIVO

era
    quase
         um instante 

aquele
      aceno
         do adeus   definitivo


2018Ago_aNTÓNIODEmIRANDA

 

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

À VOSSA CONSIDERAÇÃO


 . Mais vale perder a vida num segundo
                  do que viver a morte num 
                   minuto.
. A morte é uma possibilidade que nunca ponho de lado.
. É preciso tirar  tempo
            ao tempo
            antes que o tempo
            nos roube
            o momento.
. Abanar o capacete irrita a caspa.
. Dizem-me um ser difícil.
         Garanto que a minha grande dificuldade
          não é essa hipótese
. O que julgamos saber não presta.
            Conhecer é que é importante.
. Navegar à minha maneira?
           Como?
           Só apanho gigabites falsificados.
. Prometo-vos um atestado comprovativo de falta de assiduidade mental.

2017,ago_aNTÓNIODEmIRANDA

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

JAZ O TEMPO NUMA INDÚSTRIA PESADA

Jaz o tempo numa indústria pesada,
onde todas as ocasiões são pintadas
com a esperança suja.
Dizem-nos para termos cuidado
com a alta tensão in-civilizada,
não vá o diabo tecê-las,
quando deus se esquecer de ser mau.
Só precisamos do pão para a boca,
embora a falta imensa do que sentimos
seja a única realidade presente.
Precisamos avidamente de gestos amigos
e atitudes respeitosas.
De tentações que nos percam
de vez em quando.
De fotografias que nos confortem
e de todas as sabedorias
que nos tornem capazes.
Precisamos de uma utilidade
sem consignação.


2016,08aNTÓNIODEmIRANDA

P.

 

Adeus amor
Já não posso sofrer por ti
Só tive aquele tempo
Não me deste o momento
Para aquilo que te prometi.
Do resto fica o desejo
O adiado beijo
A ideia em flor
E a triste intenção
Que o medo matou.
Ai meu amor
O que eu faria por ti
Se me tivesses dado o tempo
Ou apenas o momento
Para o sonho que não vivi.
Ai meu amor
O que eu não fiz por ti
Mas não tive o momento
Nem sequer o tempo
Na vida que morri.

Eu sei
Que não me deste o momento
Ficará o lamento :
Tu sabes que não te menti.

jun2010 aNTÓNIODEmIRANDA




segunda-feira, 15 de agosto de 2022

"O CAPTAIN! MY CAPTAIN!"

Tantos medos nos tiraste
da poesia emplumada
castrada por tanto pó
numa escrita absurda
Nefasto conceito
cultivado em academias
chocadeiras do embrião
decadente
Tu mostraste
que a força do poema
não tem guarida
nem suporta
o tédio absurdo do caixão
Palavras libertas
empurram finalmente
outras portas
Tenhamos somente
coragem para nelas tocar.
Que se ame
aqueles que sangram as palavras:
Os Poetas
Nunca os que corrompem
o verdadeiro sentido da poesia
secando a falta da alma
num estendal vazio
"O Captain! My Captain!"




2016,03aNTÓNIODEmIRANDA



VEJO NOS OLHOS OUTRO MUNDO

Vejo nos olhos outro mundo.
Uso lentes de cotão oftalmológico, o que não é lógico para quem pensa que poderá realizar aquilo que esqueceu.
Agarro os bocados de vidro esborrachados na palma da mão e recorto-os como lembranças que nenhum turista compreende.
Estendo esta visão numa banca, na esquina da curiosidade mais frequentada.
Doce ideia caramelizada em formas de pó de arroz, cuidadosamente embalada em caixas de melancolia regional, com pré impressão de qualidade da edição limitada, assinada e lamentada pelo autor, que de tanto desespero, ainda conseguiu fugir a nado para uma "private gemes session" nos banhos púdicos da vergonha alheia.
Alheia à sua vontade, circulam por aí, os panfletos mais enganosos publicitando uma qualquer pousada da felicidade.
A felicidade está cada vez mais gasta e é justo admitir que morreu de velhice antecipada.
Antecipadamente previsível, é a inviável hipótese que todo o engano só depende do acreditar.
No acreditar é que está o ganho e por isso, ninguém saúda os não ganhadores.
Os não ganhadores, têm a urgência de apanhar juízo para não serem estrangulados nesta marmelada bafienta, barrada com artifícios mentalmente desalojados.
Há que continuar o não aplauso do nosso próprio falhanço.
Outras coisas acontecerão.
Sejamos unicamente dignos de não comprometer a sua aparição.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

"COMO SER ANJO" (nota do Senhor Levi Condinho)

7_ COMO SER ANJO...
“Como ser anjo” é o título de outro livro que trouxe comigo, de Vassilis Vassilikos. Foi editado em 1969, nas então jovens publicações Dom Quixote, dirigida por uma grande senhora que foi Snu Abecassis, que veio da Suécia para abanar o meio cultural português, e que acabou tragicamente ao lado do amor “proibido”, agitando o charco da hipocrisia que sempre foi apanágio de muita gentinha de um país de muitos inquisidores activos e virtuais. Esse amor chamava-se Francisco Sá Carneiro.
Na página 50 desse livrinho sublinhei, aquando da sua leitura, talvez em 1970, e nunca me esqueci:
“Quando se morre deve procurar-se outro caminho, e não voltar atrás, para o quadro estreito duma cidade que nos apunhalou, duma árvore que nos traiu, dum reclamo luminoso que nos atravessou como uma seta.”
Há aqui, num sentido lato, uma filosofia consoladora que tal como a aceitação do absurdo como alavanca vital ( talvez em Camus), acaba por abraçar um poema, como este, escrito quase 50 anos depois.
 
 
 
 

ROLLING STONES - DOWN IN THE BOTTOM (live)

domingo, 14 de agosto de 2022

ANJO APAIXONADO

Tinha uma língua de Spitfire.
No cockpit todos a disputavam.
O piloto automático
no suicídio várias vezes tentado
sonhava voltar a vê-la
com olhos irresistíveis de anjo apaixonado

 
 
,2016,08.aNTÓNIODEmIRANDA


NÃO IMPORTA SER FAMOSO

Não pratico a necessidade genital da beleza,
mas afirmo com toda a franqueza,
que alguma dela é necessária.
Não será esta razão um válido argumento para um filme porno.
Não me comove pensar saber o tão pouco que conheço.
Talvez exista uma ideia naquelas palavras que mais nos custam dizer.
As outras, aquelas que compramos, usamo-las como se fossem sagradas.
Então, ficamos apreensivos quando minuto a minuto, elas são contadas.
Não importa ser famoso.
É este o conforto que delicadamente as pantufas nos revelam.
Depois, damos passos em volta,
tendo todo o cuidado para não tropeçar no cinto do roupão.



.2015aNTÓNIOdemIRANDA


A FUGA PARA O EGIPTO

A virgem fugiu com o menino para o Egipto,
num tuk tuk.

O jumento, que não era burro,
delicadamente recusou este tour.

José atónito, 
mirou o incógnito.

Herodes desesperado,
deitou fora o gps.




.2015aNTÓNIOdemIRANDA

FRACASSOS PINTADOS


Fracassos doloridos pintados em versos hábeis,
onde lemos suposições cheias de cinzas,
 ironias absurdas com inocências irrespiráveis.
A vontade não alcança tanta pequenez.
Os limites são formas sem cor, dilatam-nos as veias. ...
Não faz sentido tanta procura da razão.
Temos a febre e esta geralmente não nos consegue.
Caminhamos com sapatos ao pescoço,
e procuramos esta conveniência em feiras,
onde se vendem nuvens em forma de couve-flor.



.2015aNTÓNIODEmIRANDA

Algures, em Lisboa.


BORIS não é ( le) VIAN (o)

BORIS não é ( le) VIAN (o)
Claro que há abraços que choram.
Temos noites que queimam a lua quando ela consegue esconder o último negativo do medo. Um banco sentado no jardim, sorri para “As Formigas” que escutam a velha canção. Tapámos o espanto que nos adoça a boca, já limpa dos lábios de vinho. A sina envelhecida, mesmo falida, brinca na “Erva Vermelha”, como se o “Outono” só acontecesse em “Pequim”. Boris está atento à música do Vian, lá no clube onde toda a gente “Cospe...
na sua própria “Campa”. Sullivan, mastiga a pastilha requentada, e num hino para os desertores da felicidade mentirosa, espalha no Boulevard de Saint Michel, teclas de um acordeão abandonado pintadas com “Blues para um gato preto”.
Alguém continua a morrer fora da notícia.
Claro que há sorrisos que mentem.
& o pavor, no verbo da ousadia ausente, tem no tempo sempre presente, “O arranca corações”.
 
2018Jul_aNTÓNIODEmIRANDA
 
 

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

A MORTE NÃO ACABA AQUI

 
I
Cuida de mim disse o futuro enlutado no testamento – toma conta de todas as vírgulas – dos choros que escondeste – mesmo dos pecados a fingir – dos abraços falsamente coloridos – das opções hipoteticamente honestas – das orações fraudulentas que falharam o meu adormecer
Tem cuidado com a minha debilidade sentimental - com a inconstância da felicidade engolida em amargos travos de solidão
Cuida de mim - Estou confortavelmente só neste monte vestido de ruídos que acariciam a encruzilhada onde o diabo benzeu a cruz - Abandonei-me neste hangar de pássaros machucados - gritos sem som deitados no cobertor da minha angústia - Treme tudo nesta voz - gotas de frio nojento aconchegados na bandeja - A serena manhã espera por mim - 
É tarde para adormecer - 
Sempre! Sempre cedo para despertar - 
Enrolo horas na espera dos dias fictícios -
A morte não acaba aqui
II
Talvez um dia seja feliz, disse a voz que arranhou a porta do céu.
A beleza zangou-se com a impaciência, e espalha um sentido vazio, diluído em lágrimas de chantilly certificado. 
Cânticos de júbilo arredondam copas de árvores cansadas de tanta seca. 
Aqui, no lugar de nenhures, caiam-se sorrisos plantados no musgo. 
Vai longe o tempo que nunca nos encontrou, aqui, neste céu sem ninguém para saudar. 
Leva-me contigo, pousa a velha e cansada voz nos meus cabelos. 
Tanto que gostava de encaminhar o teu brilho, mas a luz que pintei fugiu da tela, e, sem me avisar, riscou do calendário o dia seguinte. Deixou uma estrela que devora paixões. 

O que é feito de ti? 
Diz a alma gentil que fingiste.

,2020Ago_aNTÓNIODEmIRANDA

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

UM ESTRONDO NÃO INVENTARIADO


Costumava escrever com palavras de sangue coalhado, os duelos que ganhou naquela varanda fugida do véu. Não falhava um episódio da série preferida, e saboreava aquela carne picada dos mortos saltimbancos, com cicatrizes iguais ao medo que o agasalhava. A ementa saudável jazia no vazio daquele restaurante de garfos sem nome, e colheres litografadas na fome, que queriam, clandestina. Um osso de áspero apetite, uma lágrima salgada no caixão da sobremesa, um pénis devoluto, farto de não ser usado, uma sopa de dentes temperada com a piorreia, a granada escondida na panela aquecida num fogo dorminhoco, e um prato sem nada para encher. Bombas preenchiam o vazio da noite só com sonhos proibidos, porque o cansaço era mais eficaz do que o sono. Uma terrina mergulhada por dedos, mesmo sem a ténue esperança de matar o desejo. As mãos atadas para uma reza sem ocasião, abraçavam a morte amofinada pelo desespero. Sorrisos hipnóticos, encenados por luvas brancas no circo do palácio das fantasias. E o cerzir, não muito conseguido, das ideias que procuravam outra realidade.
Nada receies, dizia o medo que não querias perceber.
Um estrondo não inventariado.

2018Mai_aNTÓNIODEmIRANDA

LISBOA SHITSEEING

 Socorro!

Já não tem Graça!

Quem me Ajuda,

a sair deste Calvário?


2016,08aNTÓNIODEmIRANDA