Não sei que dias têm estas horas.
Há muito que detesto a imposição do tempo.
No orvalho que vivo, aqueço sempre que posso
a fugaz presença do pretenso lamento.
Agradeço amiúde a possibilidade
de continuar a ser eu,
malgrado todas as ausências
do mais sentido de mim.
Corro com o momento
no passo por nós permitido.
Às vezes sem sentido.
Quase sempre desafinado.
São só músicas minhas a mania deste meu fado. Não procuro nada de novo.
Tenho de conhecer aquilo que ignorei.
Gosto da solidão amigável.
Houve momentos em que estive na minha cabeça
e logo pensei que não envelheceria.
Abafava os egos com quezílias de canela
e limpava a memória com esfregões impregnados do mais audaz after shave.
O creme de barbear cansado de tanto esperar,
não falhava um único conciso golpe,
roído de ciúmes pela importância de uma lâmina desconhecida.
Era sempre pela manhã que partia perene
para a viagem habitual.
O anjo azul fumegava na velha tv.
Lampiões com asas pregadas no chão
agarrando películas do metro
antes da meia-noite.
Era no tempo em que fingia telefonar,
visitando as cabines envidraçadas
só para afugentar o frio.
,2017jan_aNTÓNIODEmIRANDA
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