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quarta-feira, 12 de agosto de 2020

MEMÓRIA VAGABUNDA


A minha memória é uma vagabunda e eu sou um desvairado sem eira, sentado à sua beira, sulfatando delícias enquanto vai bebendo o meu sangue. 
Está sempre pronta a abusar da minha alucinação. 
Bailámos esta andança nas recordações não devolvidas. 
Estamos cansados de esperar a passagem da nuvem que só viaja em banho-maria. 
Temos o manjar preparado, mas ainda não fomos convidados para o festim, onde só entram estranhos com fatos de gala alugados.
A minha memória é uma vagabunda.  
Está sempre pronta para me trocar por realizadores com outros filmes. 
Mas há cenas em que já não sou bem-vindo.
Tenho fome da sua saudade, 
embora tente fingir que não a sinto.


2016,11aNTÓNIODEmIRANDA

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