E se á noite, elas querem
brincadeira, eles viram-se para o lado ,
e prometem-se a eles, sonhos eróticos
com aquela que está
na roulotte ao lado. Dançam com saudade, ao som de um
acordeão
com toda a electrónica disponibilizada, a velha cantiga:
cheira bem,
cheirava a Lisboa. Entretanto o pai da criança,
ainda não é conhecido.
Olham-se, cumprimentando-se
mentirosamente com um sorriso sempre perto da ausência
e distanciamento. Há os mais atrevidos, as mais audazes
exibindo tatuagens com legendas
em inglês cujo significado
não conhecem, os tímidos, alguns curiosos
e aqueles
que unicamente pensam que gozam.
Juntam-se piadas, sem graça alguma, a bailar
de boca em boca.
Há ainda, os bem vestidos que exibem alegre e orgulhosamente
fatos de treino devidamente engomados.
Querem cheirar o bacalhau, queimar a
pilinha a assar sardinha.
Vemo-nos há anos. Até então a nossa
conversa não tinha passado
de um normal boa-noite. Afastado no seu canto,
camisa de meias mangas arregaçadas, invariavelmente uma garrafa
de cerveja na
mão, olhar de falcão com uma espécie de câmara
de filmar na ponta. Nada parecia
não escapar.
Hoje, por fim, falámos. Não sou
curioso e ele sentindo-se
á vontade confidenciou que se chama Vivaldo e trabalha
como pedreiro. Quando lhe perguntei como ia a vida, sorriu, e…
foda-se a minha
vida! Ás vezes até ando de lado!
Nunca tinha falado comigo, porque tinha
vergonha.
Ah, você deve ser artista.
Gostei daquele sorriso. Voltaremos a
falar.
nb: Fellini e
Scola, este filme não vos ficava nada mal.
2015melidesaNTÓNIOdemIRANDA