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terça-feira, 12 de maio de 2015

(PÁRA-ME DE REPENTE O PENSAMENTO)_ Para Ângelo de Lima


Até então, nada sabia sobre essa história com pensamentos a sair constantemente da cabeça. Havia medos que corriam entre os dedos, como se fossem lágrimas vindas de um lugar onde nunca esteve. Então ficava quieto. Tinha as conversas possíveis, sempre com alguém que nunca foi. Desconfiado como era, olhava abundantemente para a imagem escrita do espelho, e lia-lhe o manual de instruções para a colocação do saco do aspirador, que nunca chegou a comprar. Eram dias quase perfeitos, embora a perfeição continuasse a ser aquele orifício cada vez mais tapado pela enorme impaciência que teimosamente lhe oferecia a mesma quantidade de dúvidas. Tentou tudo. Mesmo aquela teoria de nada continuar a ser. Deitou-se de costas para si mesmo, acendeu o cigarro ao pássaro, ligou o ferro de engomar e queimou a torrada habitual. Só adormecia nas noites em que não queria acordar. Então dormia abraçado ao mais perigoso dos verbos: amar. Acordava, quando não queria. Chorava quando ninguém sabia, e limpava as lágrimas a umas mãos sempre ausentes. Eram sempre distantes os dias que ficavam por acontecer. Tinha tatuada na pele, uma figura de BOSCH, que constantemente lia um poema:

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na douda correria em que levado
Ia em busca da paz, do esquecimento...

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado...
Pára e fica e demora-se um momento.

Pára e fica na douda correria...
Pára à beira do abismo e se demora
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço que essa noite explora...
Mas a espora da dor seu flanco estria
E ele galga e prossegue sob a espora.”



2015,mai11_aNTÓNIODEmIRANDA

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