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terça-feira, 19 de maio de 2015

CAVE

Estou na cave, meu amor. Já não sei as lágrimas que poderei chorar. Foi tudo tão simples, que o difícil foi não entender. Estou no buraco. Não sei que porta devo abrir, que janela poderei pintar. São difíceis as cores que não nos pertencem. Quando o tanto e o resto do tanto te custam custar. Estou na cave. Nem sei se estou sozinho, nem sei ver o caminho, nem sei se há estrada para me levar. Estou na cave, onde tudo o que não sei continua a existir. Onde de nada vale o la...mento. Tenho a pressa da pressa que nada vale. Amparo-me num corrimão chorado numa corda enganadora, numa vontade ausente de tudo o que importa. Agora, que todo o abandono foi possível. Agora que me esqueci de rezar, estou na cave. Onde todas as estrelas me queimam a pele e beijam-me a sífilis.
Onde o amor não conseguido abraça a paixão proibida num formato de herpes digital. Estou aonde? Nem de olhos fechados consigo imaginar. Estou a perder aquilo que sempre me fizeram crer que era meu. Há verbos que não convivem razoavelmente comigo: haver – ter – ser. Tenho outras coisas na cabeça e, nem uma folha de cálculo poderá alguma vez resolver. Estou na cave: não é um sintoma fora do normal. O ridículo acontece, a esperança amanhece, não deixa rasto, não há vontade de lá voltar. Degrau a degrau, não sei caminhar. Estou na cave, onde lábios pintados pedem o beijo que não se vai repetir. Poderá eventualmente deixar marcas comprometedoras. A esperança não pode permanecer impávida.
 
2015aNTÓNIODEmIRANDA

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