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sexta-feira, 17 de abril de 2015

CANÇÃO DA AUTO-ESTRADA

E o teu amigo especial é a tua sombra nos momentos em que invejas o conforto da casa

Esse conforto desconfiado que te fez pegar na mala e largar A tua alma é um saco de viagem repleto de sonhos que nunca te vão abandonar Agora és uma solidão não sozinha nunca igual à que vez nos olhos apressados dos que sem qualquer sentido caminham para o mesmo lugar É a hora do lobo Onde o sol mal disposto e cansado vai enganar a lua E o teu amigo especial É a tua sombra nos momentos feitos de esperança Às vezes com lágrimas de choro Com o sabor da hipótese nunca negada Nunca é tarde para se viver aquilo que ainda não aconteceu Agora que a noite caiu e o polegar é o teu anjo da guarda Há um frio que te deseja e abraça o corpo Há uma espera imaginada Agora qualquer beijo seria bem-vindo Qualquer tronco de árvore no jardim será a tua cama Agora que rogas no teu único silêncio um soluço que nem de saudade já é Agora onde todos os minutos te custam a adormecer e o medo habitual vai fazer-te companhia Agora que te apetecia chorar mas falta-te a vontade Agora não podes parar É a vida feita saudade E há sempre um carro que policia com olhos curiosos Que te impedem de dormir Abeiram-se de ti pensam que te estão a acordar E pedem uma qualquer identidade Menos aquela te pertence Partem para voltar Voltar sempre mais cedo do que era imaginável Estão ali olhando para ti Vigiando a tua diferença que os atrai Agora todas as estrelas que tu não vais sonhar Foram dormir Deixaram-te sozinho e não te iluminam o tecto É sempre longe qualquer desejo Nem um cão está tão abandonado Logo quando o frio for mais forte Terás pensado Mais um dia Afinal sou um gajo com sorte E vais tomar o banho habitual Numa qualquer casa de banho de estação Lavando a tua sujidade em suaves prestações Então esperarás como sempre Por alguém sempre ausente Que continuará a não te estender a mão São fáceis todos os sorrisos É normal a indiferença com que passam por ti Amanhã Hoje nada será diferente Mas tu tens o teu caminho para uma alma enorme Que impede de seres tal gent Nunca foram perfeitos os caminhos Nunca foi aceite a tua necessidade E a tua consciência sempre foi confundida Adormeces com uma faca na mão sabendo que em caso de necessidade Nem sequer vais ter tempo para a usar Educadamente dizes boa noite ao clochard Ele farto de ti Saúda-te com um peido

Nem um deus mentiroso tens para confiar.

Agora fazes-te lembrar naquela velha música:

“Sitting on the dock of the bay

Watching the tide roll away”


,2015abr_0,22h-14

aNTÓNIODEmIRANDA

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