Pesquisar neste blogue

sexta-feira, 22 de abril de 2022

3 POEMAS DE AMIRI BARAKA/ LEROY JONES PUBLICADOS NA REVISTA mallarmargens | revista de poesia e arte contemporânea

Segunda em Si Bemol 


Posso rezar
     o dia inteiro
     & Deus
     nem aí, ó.
Mas se eu ligo
            190
         O Diabo
           aparece logo
         vejam só!



Prefácio para um Bilhete Suicida de Vinte Volumes 


Ultimamente, tenho me acostumado ao jeito
Com que o chão se abre e me engole
Cada vez que saio para passear com o cão.
Ou a singela música cortante que o vento faz
quando corro para alcançar o ônibus...
As coisas chegaram a esse ponto.
E agora, a cada noite conto as estrelas.
E a cada noite obtenho o mesmo número.
E quando elas não se mostram para serem contadas,
Conto os buracos que deixam.
Ninguém canta mais.
Então, na noite passada subi na ponta dos pés
Rumo ao quarto da minha filha e a escutei
Conversando com alguém, e quando abri
A porta, não havia ninguém ali...
Apenas ela, ajoelhada, espiando dentro
De suas próprias mãos fechadas.


Kasbah


Uma janela fechada baixa o olhar
Até um pátio sujo, e gente negra
Reclama e grita e caminha sempre contra
Desafiando a física com sua vontade.
Nosso mundo está cheio de sons
Nosso mundo é mais encantador que o de qualquer outro
Apesar de sofrermos, de nos matarmos uns aos outros
E às vezes fracassarmos em caminhar no ar.
Somos gente maravilhosa
Com imaginações Africanas
repleta de máscaras e danças e cantos portentosos
com olhos e narizes e braços Africanos
mesmo quando nos aniquilamos em cinzas cadeias
em um lugar cheio de invernos, quando o que desejávamos
era o Sol.
Fomos capturados
e trabalhamos duro para conseguir escapar
até a antiga imagem, até
uma nova correspondência com nós mesmos
e nossa família Negra. Precisamos da magia,
e precisamos dos encantamentos, para surgir,
retornar, destruir e criar. Qual será
a palavra sagrada?

Sem comentários:

Enviar um comentário