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terça-feira, 22 de setembro de 2020

HIPÓTESE SEMPRE VIÁVEL

Não sei o que me espera.

Não posso medir essa hipótese.

Gelo-me em quartos de hotéis com o bafo de um reles ar condicionado que não sei respirar.

Volto a calçar as botas mais limpas que estes lençóis amarfanhados com sonhos que não são meus.

Lavo as mãos com demasiado cuidado para não sujar a mágoa.

Finjo que estou cansado na vã esperança que o sono amolgado de tanto esperar, apareça com um blues qualquer que me aconchegue os ouvidos. Não sei ver esta televisão onde parece que o filme fugiu.

Tento imaginar um postigo projectando na parede a mais audaz das cortinas.

É sempre difícil o primeiro cheiro da cidade onde nada nos pertence e nem um sorriso simpático podemos olhar na palma da mão.

No chuveiro saem lágrimas que não me molham e esta misturadora mais parece um coador de ternuras constrangidas.

Dou corda ao coração para que um aperto de mão aconteça.

Leio poemas que tenho na cabeça e invento títulos que não consigo decorar.

Adormeço ao som de cigarros cansados

e  tropeço em direcção a nenhures.

Espero o que não sei.

É uma hipótese sempre viável.

2016,09aNTÓNIODEmIRANDA

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